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Carlos Bolsonaro mantém três assessores investigados por 'rachadinha'

Funcionários tiveram sigilos bancário e fiscal quebrados pela Justiça em maio e recebem salários acima de R$ 10 mil. - Alexandre Neto/Photopress/Estadão Conteúdo
Funcionários tiveram sigilos bancário e fiscal quebrados pela Justiça em maio e recebem salários acima de R$ 10 mil. Imagem: Alexandre Neto/Photopress/Estadão Conteúdo

Caio Sartori

Rio

29/09/2021 17h01

O vereador Carlos Bolsonaro (Republicanos-RJ), filho do presidente Jair Bolsonaro, mantém em seu gabinete na Câmara três assessores investigados pelo Ministério Público do Rio no caso das "rachadinhas" - crime de peculato por desvio de salários.

Os três tiveram sigilos bancário e fiscal quebrados pela Justiça em maio e recebem salários acima de R$ 10 mil. O MP do Rio suspeita que eles participem de esquema de funcionários "fantasmas", nomeados apenas para repassar os vencimentos a Carlos, sem dar expediente.

Um dos investigados é Jorge Luiz Fernandes, chefe de gabinete do parlamentar. O Ministério Público apura se a mulher de Fernandes, Regina Célia Sobral, foi nomeada apenas para fazer parte do suposto esquema. Ela teve remuneração líquida de R$ 13,3 mil no último mês. O marido recebeu R$ 23,4 mil. Segundo o MP, há indícios de que Regina nunca tenha trabalhado de fato para o mandato.

Fernandes é uma das quatro pessoas destacadas como peças-chave das apurações, ao lado de Guilherme Henrique de Siqueira Hudson, da segunda ex-mulher de Bolsonaro, Ana Cristina Valle, e do próprio Carlos. O casal Fernandes e Regina Célia entrou na lista de assessores do vereador no início de 2001 - ele assumiu a chefia de gabinete em 2018. O MP suspeita que a prática de "rachadinha" tenha ocorrido desde o primeiro mandato de Carlos, eleito pela primeira vez em 2000.

Outro investigado é suspeito de ter colocado familiares no suposto esquema. Edir Barbosa Góes consta como assessor de Carlos desde 2008 - hoje com salário líquido de R$ 16,9 mil. Em depoimento aos promotores, ele alegou que coordenava um núcleo integrado por sua própria família. O grupo seria responsável por distribuir "informativos" e receber demandas da população em Santa Cruz, bairro da zona oeste, desde 2001. Ele indicou a mulher e dois filhos para vagas na assessoria do mandato antes mesmo de começar a trabalhar formalmente no gabinete.

Sobre um dos filhos de Góes há na investigação o que, para o MP, é um forte indício de que ele não dedicava seus dias ao trabalho de assessor de Carlos. Durante mais de um ano em que esteve nomeado, ele manteve simultaneamente dois outros empregos, um deles em Itaguaí, município da região metropolitana, a 73 quilômetros do Rio. Os cargos públicos no Legislativo exigem o cumprimento de 40 horas semanais de trabalho e proíbem funções incompatíveis com essa demanda.

'Núcleos'

As duas famílias são parte da suposta estrutura que o MP do Rio diz ter detectado no gabinete de Carlos. O esquema foi dividido pela Promotoria em "núcleos", identificados por sobrenomes e com mais de um integrante da mesma família. São seis no total, incluindo os Fernandes e os Góes. Eles se somam às famílias Gerbatim, Martins, Duarte e Valle.

A família Valle é encabeçada por Ana Cristina Siqueira Valle. Então madrasta de Carlos, ela ficou no gabinete entre 2001 e 2008 e chegou a chefiá-lo. Segundo o MP, há indícios de que possa ter mantido um esquema de recolhimento dos salários de seus sete parentes empregados pelo vereador naquele período.

Carlos não é o único filho de Bolsonaro investigado por suspeitas por desvios de salários de servidores. O senador Flávio Bolsonaro (Patriota-RJ) foi denunciado por peculato, lavagem de dinheiro, organização criminosa e apropriação indébita pelo mesmo motivo.

Procurado, o gabinete de Carlos não se pronunciou até a conclusão desta edição. Os outros citados não foram localizados pela reportagem.