Topo

Esse conteúdo é antigo

CGU: Pastor Arilton pediu R$ 100 mil para levar evento do MEC a Piracicaba

Pastor Arilton Moura - Luiz Fortes/MEC
Pastor Arilton Moura Imagem: Luiz Fortes/MEC

Fausto Macedo, Pepita Ortega, Rayssa Motta e Julia Affonso

Brasília e São Paulo

23/06/2022 17h01Atualizada em 23/06/2022 17h01

Um empresário de Piracicaba (SP) relatou à Controladoria-Geral da União (CGU) que o pastor Arilton Moura lhe pediu R$ 100 mil para levar um evento do Ministério da Educação para a região. O valor seria um "auxílio a obras missionárias" de uma igreja ligada ao religioso, que é investigado pelo "gabinete paralelo" que controlava agenda e verba do MEC na gestão Milton Ribeiro.

O ex-ministro, Arilton Moura, o pastor Gilmar Santos, o advogado Luciano Musse e o ex-assessor da Prefeitura de Goiânia Helder Bartolomeu foram presos nesta quarta-feira, 22, na Operação Acesso Pago. O "gabinete paralelo" foi revelado pelo Estadão em março. O desembargador Ney Bello, do Tribunal Regional Federal da 1ª Região (TRF-1) cassou a decisão e mandou soltar os investigados.

O empresário José Edvaldo Brito disse à CGU que acreditando na "boa-fé do pastor" conseguiu articular um pagamento de R$ 67 mil a Arilton Moura "para colaborar com as ações filantrópicas". Segundo o empresário, um "amigo" identificado por Danilo Felipe Franco transferiu o valor para três contas ligadas ao pastor.

Um dos depósitos, de R$ 30 mil, é tratado pela Polícia Federal como pagamento de propina e foi enviado para a conta do genro do religioso, Helder Bartolomeu. Outros R$ 20 mil foram depositados na conta do advogado Luciano Musse, "infiltrado" pelos pastores no Ministério da Educação.

Como revelou o Estadão, Luciano Musse acompanhava os pastores em agendas no MEC. Em abril do ano passado, o advogado passou a trabalhar na pasta, como gerente de projetos. O homem de confiança dos pastores tinha acesso a dados privilegiados da pasta na Secretaria Executiva, o órgão que gerencia e administra a estrutura do ministério. Após a queda do ministro, Musse perdeu o cargo.

Ao encontrar os depósitos, a CGU acionou a Polícia Federal e o Ministério Público Federal (MPF). "No decurso da Investigação Preliminar Sumária também foi identificada a prática de atos suspeitos por pessoas que não se submetem à competência correcional da Controladoria-Geral da União", informou o órgão.

A PF também coloca sob suspeita um depósito de R$ 50 mil na conta de Myriam Ribeiro, mulher do ex-ministro. Como mostrou o Estadão, a defesa do casal alegou que o valor seria oriundo da venda de um carro e teria sido repassado por familiares do pastor Arilton Moura que compraram o veículo.

Os policiais federais dizem que o relatório entregue pela Controladoria, somado aos achados da investigação, "demonstram, documentalmente, o recebimento de vantagem solicitada pelos investigados".

A Polícia Federal aponta que o ex-ministro deu "prestígio" à atuação dos pastores Gilmar Santos e Arilton Moura ao dar-lhes "honrarias e destaque na atuação pública da pasta". Os religiosos acompanhavam Ribeiro em eventos oficiais do MEC pelo País.

"A infiltração de Luciano nos quadros de servidores da pasta demonstra a sofisticação da atuação agressiva da organização criminosa, que indica desprezo à probidade administrativa e fé pública. Helder teve sua conta utilizada para receber propina e também viajou com a comitiva dos pastores", afirma a PF.