Topo

Esse conteúdo é antigo

Garimpeiros pedem socorro para saírem de Terra Indígena Yanomami

Cyneida Correia

Especial para o Estadão, em Boa Vista (RR)

05/02/2023 19h34Atualizada em 06/02/2023 10h15

Garimpeiros e mulheres que foram para o garimpo cozinhar ou se prostituir gravaram vários vídeos pedindo socorro às autoridades para saírem da região, com o bloqueio aéreo e a expectativa de uma grande operação na Terra Indígena Yanomami.

Em um vídeo, garimpeiros relataram caminhadas de 30 dias pela floresta e barcos lotados para deixar a área indígena e chegar a alguma região urbana. Muitos doentes e mulheres continuam no garimpo sem ter como sair.

Em outro vídeo, garimpeiros afirmam estar sem comida e pedem ao Exército e à polícia para serem resgatados da Terra Yanomami.

O local era abastecido por aeronaves, mas com o bloqueio aéreo a alimentação não chega mais até as áreas de garimpo onde estão instalados. Nas imagens, um garimpeiro diz que há ao menos 30 pessoas nos barracos —eles dizem dividir sua comida com os indígenas e mostram idosos e crianças yanomamis.

Outro grupo de garimpeiros, desta vez de mulheres, divulgou um vídeo em que uma delas pede que acionem o "recursos humanos", pois estão sem mantimentos.

"Não estão resgatando ninguém, a gente está preso aqui."

Elas relataram ainda a cobrança de R$ 15 mil para deixar o local em um voo de helicóptero e que, por serem mulheres, "não vão conseguir" andar por 30 dias. Na gravação não é informado em qual região estão.

Não estão resgatando ninguém, a gente está preso aqui e não vai ter mais alimentação. Os indígenas vão começar a ficar estressados, porque a gente que dá comida para eles. Nos ajudem."

Jailson Mesquita, o articulador político do movimento em Roraima, declarou ser preciso socorrer essa população. Segundo ele, os garimpeiros querem ajuda para deixar o território de forma pacífica.

Precisamos de uma resposta urgente do governo federal para os garimpeiros ficarem em determinado local em lugar de andarem pela floresta, pois correm risco e entram em confronto com indígenas."
Jailson Mesquita, articulador político dos garimpeiros

Da sede da área indígena, chamada de Surucucu, até Boa Vista, capital de Roraima, são ao menos 280 km —o que dá cerca de 1h30 de voo, ou mais de 8 dias caminhando.

A região é de mata fechada e montanhosa, o que pode agravar o trajeto de fuga dos garimpeiros. De barco, eles devem enfrentar um percurso de pelo menos sete dias pelo Uraricoera, um dos rios contaminados por mercúrio na região.

O governador de Roraima, Antonio Denarium (PP), pediu ajuda ao governo Lula. Ele relatou a situação aos ministros Rui Costa (Casa Civil) e José Múcio (Defesa) e propôs ao governo federal que o auxiliasse no apoio à saída de quem se encontra em área de garimpo e que escolheu a saída espontânea e pacífica.

Ouvi sua proposta de auxiliar os trabalhadores que estão saindo do garimpo de forma espontânea e informei a ele que iremos avaliar com muito carinho, pois o governo Lula não quer nenhum tipo de confronto, buscaremos o diálogo sempre que como primeira opção."
Ministro da Defesa, José Múcio

A ministra dos Povos Indígenas, Sônia Guajajara, esteve em Roraima este final de semana e afirmou que com a saída dos garimpeiros a operação pode diminuir.

Temos essa informação já, que muitos garimpeiros estão saindo. Mas é bom que saia mesmo, porque assim a gente até diminui a operação que precisa ser feita para retirar 20 mil garimpeiros. Se eles saem sem precisar dessa força de segurança, dessa força policial, então, melhor pra todo mundo."
Ministra dos Povos Indígenas, Sônia Guajajara

O senador Chico Rodrigues, que é da mesa diretora do Senado, também se reuniu com a Associação de Garimpeiros.

Consideramos os trabalhadores e trabalhadoras que estão no garimpo e não são bandidos, pois foram pra lá para sustentarem suas vidas. Eles precisam de segurança para saírem, sem serem incriminados."
Senador Chico Rodrigues (União Brasil-RR)