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'Hoje só se dorme amanhã', o lema dos resgates no Mediterrâneo

11/07/2017 19h00

PESCARA, 11 JUL (ANSA) - Por Diana Angelo Formaggio - "Hoje só se dorme amanhã". Este é o lema da tripulação do barco de patrulha 292 da Guarda Costeira da Itália, alocado em Pescara, sob o comando de Luciano Sebastio, que pode dizer muito sobre a vida no mar durante as operações de resgate de migrantes.   

Oito homens prontos a darem a vida para salvar outras, cada um com a própria especialidade, formados para resistir ao mar em condições proibitivas. E preparados para enfrentar grandes missões de busca e socorro. "Podemos contar com uma autonomia de 48 horas [960 milhas náuticas]", explica Sebastio, "graças a um barco de 25 metros, 59 toneladas e três motores, com um total de 3 mil cavalos".   

"Comemos, dormimos (pouco), nos alternamos nos leitos durante poucas horas por dia, garantindo 24 horas de manutenção de nosso meio e a provisão daquilo que é necessário para viver. Além de socorrer náufragos, precisamos voltar para casa, de preferência em boas condições", acrescenta.   

Para a tripulação, não há diferença entre dia e noite. "Comemos quando dá e aquilo que conseguimos preparar", conta o comandante. "Não dormimos mais do que três horas por dia. E quando isso acontece por 73 dias, como na Grécia, sem um suporte logístico em terra, o cansaço aparece. Mas a tensão é muito grande, porque estamos cientes de que há vidas a serem salvas. E não nos assustamos. Quando aparece um barquinho em sua frente, e você vê crianças, mulheres e homens no mar, não há tempo a perder", afirma Sebastio, ressaltando que, no mar, "nada pode dar errado".   

O mais jovem dos tripulantes é o cabo Salvatore Colangelo, 30 anos, enquanto o mais velho é o marechal Sebastio, 46. O restante da equipe é formado pelo sargento Luca Tagliente (32) e pelos cabos Silvio De Santis (33), Cesare Olivieri (37), Mario Revel (43) e Marco Greco (44). Em breve, a tripulação contará com um segundo comandante, totalizando oito homens.   

Quando o barco chegar à ilha de Lampedusa, dois mergulhadores especializados no salvamento de náufragos também subirão a bordo, prontos a se atirar no mar para resgatar migrantes em dificuldade.   

Missão em agosto - A embarcação de patrulha 292 deve zarpar de Lampedusa entre 21 e 22 de agosto, para iniciar sua missão no Canal da Sicília em 28 do mesmo mês. Por pelo menos três meses, fará parte do 7º Esquadrão da Guarda Costeira de Lampedusa. Uma tripulação experiente, que já trabalhou nas águas do arquipélago de Dodecaneso, perto de Kos, entre 18 de janeiro e 30 de março de 2016, quando milhares de pessoas buscavam a salvação no litoral da Grécia.   

Naquela ocasião, o barco fazia parte de uma operação da Agência Europeia de Guarda de Fronteiras e Costeira (Frontex) e salvou 426 migrantes, navegando durante cerca de 700 horas e por 4 mil milhas náuticas.   

"É uma tripulação preparada e que já demonstrou que sabe fazer um bom trabalho", diz o almirante Enrico Moretti, oficial da Marinha em Pescara. "A experiência na Grécia nos tornou uma equipe capaz de enfrentar situações de emergência com competência", explica o comandante Sebastio.   

Ele se emociona ao contar que a coisa mais bela que ocorreu em seu retorno para casa foi ouvir seu filho dizer "papai, quero fazer o mesmo trabalho que o seu". Outro motivo de satisfação chegou do comandante-geral da Guarda Costeira, Vincenzo Melone.   

"Ele nos ligava pelo menos duas vezes por semana para saber como estávamos, em que condições operávamos. Para nós, foi um apoio realmente importante", acrescenta.   

Para Luca Tagliente, a experiência na Grécia foi "profunda", mas também "extenuante". "Viver por dias em um espaço restrito é uma prova de resistência, mas que permite conhecer os limites e potencialidades de todos e garantir total sinergia durante as operações de resgate", diz.   

Já para Salvatore Colangelo, o caçula do grupo e um dos dois que são casados, a experiência em Dodecaneso foi "intensa e cansativa". "Tivemos diversas avarias, precisamos trocar uma bomba de refrigeração do motor durante a navegação", conta. Por sua vez, Silvio De Santis, que terá sua primeira missão desse tipo, diz estar "emocionado". "Não sei como reagirei, mas vi as imagens e sei o que me espera", garante. (ANSA)
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