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Cesare Battisti diz que viagem à Bolívia foi uma 'armadilha'

25/10/2017 08h48

ROMA, 25 OUT (ANSA) - O italiano Cesare Battisti afirmou à imprensa italiana que sua tentativa de viajar à Bolívia no início de outubro, que resultou em prisão por evasão de divisas, foi uma "armadilha".   

"Alguém quis me levar para a fronteira com a Bolívia, foi uma armadilha. Estava tudo organizado. Eu, aqui no Brasil, sou aceitado por todos, todos me querem bem", disse em uma entrevista ao "Gr1", da emissora italiana "RAI".   

Battisti chegou a ser preso no dia 5 de outubro em Corumbá (MS), mas recebeu um habeas corpus no dia seguinte. Ontem (25), o Tribunal Regional Federal da 3ª região (TRF-3) confirmou a decisão e manteve o italiano apenas cumprindo medidas cautelares - uso de monitoramento eletrônico, se disponível, o comparecimento em juízo periodicamente e a proibição de deixar sua comarca de residência. No momento da prisão, ele portava R$ 20 mil. Segundo a defesa, o dinheiro seria usado para comprar produtos de pesca e roupas. Já a acusação do governo é de que ele cometeu o crime de evasão de divisas e tentativa de fuga.   

Já sobre o julgamento no Supremo Tribunal Federal (STF), que analisará um recurso da defesa a fim de evitar uma extradição para a Itália, Battisti afirmou que "no plenário há diferentes vozes, muitas das quais estão a meu favor".   

Também nesta terça-feira (24), os ministros da Primeira Turma do STF decidiram adiar a análise do caso. Ainda não há data para uma nova audiência.   

Battisti foi condenado na Itália à prisão perpétua pelo assassinato de quatro pessoas na década de 1970, quando ainda pertencia ao grupo de extrema-esquerda Proletários Armados pelo Comunismo (PAC). Ele morou na França e depois fugiu para o Brasil, onde foi preso em 2007. Sobre os crimes, Battisti afirmou que sente "compaixão" pelas vítimas do ataque. "Como não tenho compaixão pelas vítimas? Claro que tenho! Eu tenho 62 anos, tenho mulher e filhos, tenho netos, já sou avô", disse ainda à emissora. Ele ainda destacou que tem "uma relação com Alberto Torregiani", filho do joalheiro Pierluigi Torregiani, o qual teve o assassinato atribuído a Battisti, com uma condenação de 13 anos e cinco meses.   

"Nós nos escrevemos durante muitos anos. Eu o ajudei a escrever um livro. Eu tenho as cartas de Alberto Torregiani no qual ele me diz, textualmente, que não tem nenhuma dúvida sobre o fato de que eu não tenho nada a ver com a morte de seu pai. Felizmente, eu saí [do PAC] antes que começassem os homicídios no meu grupo", acrescentou ainda.   

Sobre os ataques feitos por sua ex-milícia, o italiano afirmou que esses atentados não foram corretos. "Como podem estar satisfeitos ou felizes com tanta violência, tantos homicídios, tanto sangue de uma parte como da outra? A luta armada foi um suicídio, não poderia dar resultados para ninguém. E também, indiretamente, eu participei de ideias que levaram a uma loucura, a um caminho sem saída", reconheceu.   

- Resposta de Torregiani: Após a divulgação da entrevista, Torregiani falou à imprensa e desmentiu as informações dadas por Battisti.   

"Se ele tem provas, que as use, e não rompa com os fardos das famílias das vítimas", disse nesta quarta-feira (25).   

Segundo o italiano, Battisti "já está delirante" e está "buscando levantar a poeira, como em 2008, porque enquanto falamos nele, ele continua livre".   

"É certo que eu não acho que tenha sido ele a matar fisicamente o meu pai, e isso não sou eu que falo, são os autos do processo.   

Mas, ele estava entre aqueles que projetaram os atentados, bem como, quando o grupo terrorista se dividiu sobre a oportunidade de matar meu pai, ele insistiu. Tenho certeza que ele é responsável", concluiu. (ANSA)
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