Protagonismo de Lula pode gerar efeito bumerangue na Argentina
Leonardo Cioni RIO DE JANEIRO, 3 JUN (ANSA) - O compromisso assumido por Luiz Inácio Lula da Silva de facilitar a entrada nos Brics arrisca gerar um efeito bumerangue para a Argentina.
Desde que reassumiu o governo, há cinco meses, o presidente brasileiro não poupou energias para tentar encontrar uma solução para a crise econômica do país vizinho, que deve US$ 45 bilhões ao Fundo Monetário Internacional (FMI).
Mas seus esforços agora podem ir contra os interesses argentinos por conta dos escorregões cometidos nas últimas semanas.
O ministro da Economia da Argentina, Sergio Massa, voou para a China no fim de maio para participar como convidado da oitava reunião anual do Novo Banco de Desenvolvimento (NBD) dos Brics, após Lula ter prometido ao presidente Alberto Fernández que ajudaria o país a obter financiamentos da instituição e tirar a "faca do FMI do pescoço".
Enquanto isso, descobriu-se que o estatuto do NBD não permite financiar as exportações brasileiras para a Argentina, um banho de água fria não só para Buenos Aires, mas também para o próprio Lula, que, segundo analistas, começa a perder o prestígio internacional conquistado em seus dois primeiros mandatos.
Dilma Rousseff, nova presidente do NBD, tentou consertar as coisas, dizendo a Massa que a Argentina poderia se tornar membro do banco, mas a decisão depende de votação no conselho de administração do instituto.
E a proposta promovida pelo Brasil só se concretizará a partir da reunião que os governadores do NBD realizarão na primeira semana de agosto, na África do Sul.
Suas últimas gafes diplomáticas também atestam que não é um bom momento para Lula: das polêmicas declarações sobre o conflito na Ucrânia à calorosa acolhida ao presidente da Venezuela, Nicolás Maduro.
Posições que lhe renderam críticas até de seus aliados latino-americanos e que podem levar a própria Argentina a se distanciar e agir de forma autônoma, inclusive negociando diretamente com outras potências, como a China, para sair da crise, sem mais a mediação brasileira.
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