Topo

Quem é Krzysztof Charamsa, o padre que se declarou gay às vésperas de sínodo católico

Monsenhor Krzysztof Charamsa e seu parceiro, o espanhol Eduard - Tiziana Fabi/AFP
Monsenhor Krzysztof Charamsa e seu parceiro, o espanhol Eduard Imagem: Tiziana Fabi/AFP

04/10/2015 09h42Atualizada em 05/10/2015 08h37

Ele queria provocar um alvoroço --e conseguiu. Krzysztof Charamsa virou o primeiro padre que trabalhava no Vaticano a se declarar abertamente gay.

E ele fez isso em um momento crítico: na véspera do Sínodo da Família, que o papa Francisco abriu neste domingo, e em que prelados de todos o mundo irão debater temas como o tratamento a divorciados e homossexuais.

Ao celebrar a missa de abertura do evento neste domingo, o papa Francisco pediu que a Igreja fosse mais aberta àqueles que não conseguem cumprir seus ensinamentos, mas destacou a centralidade do casamento heterossexual.

Ao sair do armário, Charamsa não tentou ser discreto: concedeu longa entrevista publicada neste sábado no "Il Corriere della Sera", jornal de maior circulação na Itália, em que convida a Igreja a aceitar plenamente os fiéis homossexuais.

"Quero que a Igreja e minha comunidade saibam quem sou: um padre homossexual, feliz e orgulhoso de sua identidade. Estou disposto a pagar as consequências, mas é hora de a Igreja abrir seus olhos para os fiéis homossexuais e entender que a solução oferecida, a abstinência total da vida amorosa, é desumana", disse.

 

Coração do Vaticano

Charamsa não é um padre qualquer. Passou 17 anos de seus 43 morando em Roma, onde desde 2003 é oficial da Congregação para a Doutrina da Fé, encarregada precisamente de defender a doutrina da Igreja.

Além disso, é secretário da Comissão Teológica Internacional do Vaticano e professor de Teologia da Universidade Pontifícia Gregoriana e da Universidade Pontifícia Regina Apostolorum em Roma.

Como punição por sua declaração, o Vaticano anunciou que ele não poderá continuar em seus cargos.

Debate sobre pressão

As palavras de Charamsa caíram como uma bomba na Igreja e foram classificadas de "irresponsáveis" pelo porta-voz do Vaticano, Federico Lombardi, sobretudo por terem sido feita às vésperas do Sínodo Ordinário para a Família, que será celebrado até o dia 25 de outubro.

"Apesar do respeito que merecem os feitos e circunstâncias pessoais e as reflexões sobre elas, a escolha de declarar algo tão clamoroso na véspera da abertura do Sínodo é muito grave e irresponsável", disse Lombardi em um comunicado.

O porta-voz afirmou que as declarações de Charamsa buscavam "submeter a assembleia sinodal a uma pressão midiática injustificada".

Charamsa não nega isso. Pelo contrário, disse que a revelação pública busca levar uma mensagem à Igreja. "Quero, com minha história, sacudir um pouco a consciência da Igreja", afirmou.

"Gostaria de dizer ao Sínodo que o amor homossexual é um amor familiar, que necessita da família. Todas as pessoas, incluindo os gays, lésbicas e transexuais, têm no coração o desejo de amar e de ter relações familiares", acrescentou.

Significado

Além da entrevista ao jornal, Charamsa concedeu uma entrevista coletiva acompanhado de seu parceiro. Ele também planejava participar da primeiro reunião internacional de homossexuais católicos, organizada na véspera do Sínodo da Família.

O correspondente da BBC em Roma, David Willey, explica que o Sínodo vai discutir como assegurar que famílias católicas sigam os ensinamentos da Igreja. A proibição ao uso de anticoncepcionais, por exemplo, é hoje mais descumprida do que seguida.

Mas, para ele, a revelação do padre polonês leva a outra discussão: será que a Igreja poderia iniciar um relaxamento da tradicional hostilidade em relação a gays em uma época em que o próprio papa afirma "quem sou eu para julgar"?