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Nova Thatcher? Quem é Theresa May, a futura premiê do Reino Unido

11.jul.2016 - A futura primeira-ministra britânica recebe um beijo do seu marido, Philip John May - Chris Ratcliffe/AFP
11.jul.2016 - A futura primeira-ministra britânica recebe um beijo do seu marido, Philip John May Imagem: Chris Ratcliffe/AFP

11/07/2016 14h44Atualizada em 14/07/2016 07h44

Apesar de ter sido contrária à saída do país da União Europeia, ex-ministra do Interior, tida como uma das políticas mais respeitadas da Grã-Bretanha, liderará complicado processo de negociação pós-Brexit

Theresa May, que era a ministra do Interior, se tornará, nesta quarta-feira, a primeira mulher a assumir o cargo de primeira-ministro do Reino Unido em 25 anos - ou seja, desde o fim da era Margaret Thatcher.

Ela substitui David Cameron, que comunicou sua renúncia logo após o resultado do plesbicito que definiu a saída do país da União Europeia.

May disse no decorrer desta semana que estava "honrada" com sua escolha para o posto e prometeu construir um país melhor e fazer do Brexit (saída da UE) um "sucesso".

Nesta quarta-feira May compareceu à sessão final do atual primeiro-ministro, David Cameron, no Parlamento britânico. Mais tarde ela deve assumir o cargo como nova premiê depois de uma audiência com a rainha Elizabeth 2ª.

Antes de se reunir com as principais autoridades do país, May deve fazer um rápido pronunciamento ao público e, em seguida, começar a formar seu gabinete.

Muitos acreditam que ela terá várias mulheres em seu gabinete.

Vida e trajetória política

Assim como Thatcher, Theresa May vem de uma família de classe média-baixa.

Filha de um vigário, nasceu em Sussex (sul da Inglaterra) e foi criada em Oxfordshire, no sudeste do país. Suas duas avós trabalharam como domésticas.

Após frequentar escolas públicas, estudou Geografia na universidade, onde conheceu seu marido Philip, com quem é casada até hoje. Os dois não têm filhos.

Antes de iniciar sua vida política, trabalhou no Banco da Inglaterra.

Eleita ao Parlamento pela primeira vez em 1997, a nova premiê foi a primeira mulher a assumir a presidência do Partido Conservador, em 2002.

Hoje, prestes a completar 60 anos, é uma das pessoas que permaneceu por mais tempo à frente do Ministério do Interior - ocupa o posto desde 2010.

May figura há anos na lista de possíveis líderes do partido. Desde que Cameron anunciou sua renúncia, ela manteve uma clara vantagem na disputa pelo cargo - na primeira etapa da corrida, ganhou 165 votos, mais do que todos os seus adversários juntos.

A ministra é considerada uma das figuras mais fortes da política britânica.

Durante 17 anos, foi uma das poucas mulheres nos altos escalões dos Conservadores - e ficou conhecida por dizer algumas duras verdades sobre seus colegas.

"Você sabe do que as pessoas nos chamam: 'o partido sórdido'", afirmou a ativista em 2002, durante uma conferência.

May tem sido elogiada por seu trabalho como ministra. Sua força atingiu novos patamares em 2013, quando conseguiu o que muitos outros antes dela falharam ao tentar: deportar o clérigo radical Abu Qatada.

Apesar disso, seu apelo com o grande público ainda não foi testado, e ela também recebe críticas pelo fracasso do governo britânico ao não cumprir a promessa de manter o número de imigrantes que entram no país abaixo de 100 mil por ano.

A ministra ainda foi criticada por propor que o Reino Unido deixe de fazer parte da Convenção Europeia dos Direitos Humanos. No entanto, disse que desistiria da ideia caso se tornasse primeira-ministra, sob o argumento de que não há maioria parlamentar para aprovar a medida.

Brexit

Apesar de ter apoiado a permanência do Reino Unido na União Europeia, May disse que o resultado do plebiscito deve ser respeitado.

"Brexit significa Brexit. A campanha foi travada, a votação foi realizada, a participação foi alta e o público deu o seu veredito. Não deve haver tentativas para permanecer dentro da UE, nem tentativas de reintegrá-la pela porta dos fundos ou um segundo plebiscito."

Embora venha disparando falas contundentes sobre o tema, a ministra manteve um posicionamento discreto durante a campanha, o que amplia sua capacidade de diálogo com os parlamentares pró-saída da UE.

O início do processo formal de retirada depende da ativação da Cláusula 50 do Tratado de Lisboa, que desde 2009 funciona como uma espécie de Constituição Europeia. Uma vez que o dispositivo é acionado, um país só pode voltar ao bloco com o aval unânime dos outros membros.

O processo, porém, não é automático - tem de ser negociado com os integrantes. Essa negociação tem prazo máximo de dois anos e o Parlamento Europeu tem poder de veto sobre qualquer novo acordo formalizando o relacionamento entre o Reino Unido e a União Europeia.

Além de ter maior margem de manobra para dialogar com parlamentares, May disse que não ativaria o Artigo 50 antes do fim de 2016, dando tempo para o Reino Unido concluir sua posição de negociação.

A futura primeira-ministra também descartou uma eleição geral antes de 2020 ou um orçamento de emergência para o Brexit.

Imigração

Ao falar de seus objetivos nas negociações para saída da UE, May disse que "deve ser uma prioridade permitir que as empresas britânicas façam comércio dentro de um mercado único de bens e serviços, mas também recuperar um maior controle sobre o número de pessoas que estão chegando aqui vindas da Europa."

Segundo a ministra, o status dos cidadãos europeus morando no Reino Unido faria parte de futuras negociações, negando-se a garantir que eles poderão ficar.

Apesar da importância do Brexit em sua futura gestão, ela também prometeu um programa radical de reforma social, a fim de promover mobilidade social e dar mais oportunidades aos desfavorecidos.