Topo

O que você precisa saber sobre as eleições que vão decidir o futuro da Catalunha

Emilio Morenatti/AP Photo
Imagem: Emilio Morenatti/AP Photo

Patrick Jackson

21/12/2017 06h35

O impasse espanhol em torno do separatismo catalão, que ocupou as manchetes em outubro, volta ao noticiário nesta quinta-feira (21), quando a região semiautônoma realiza eleições regionais.

Os catalães vão escolher seu novo governo regional - decisão que pode determinar os rumos da Catalunha pelos próximos anos.

Estão no páreo tanto políticos pró-separatismo quanto outros que defendem a Espanha unificada, e pesquisas de opinião afirmam que não está claro qual lado receberá a maioria dos votos dos eleitores, que devem comparecer em massa às urnas.

A eleição foi convocada pelo governo central de Madri após a destituição da liderança catalã, que havia declarado a independência em outubro.

O processo eleitoral está sendo observado de perto pela União Europeia, que atualmente negocia os termos de separação com o Reino Unido e teme uma eventual cisão também na Espanha, a quarta maior economia da zona do euro.

A seguir, seis perguntas e respostas com as informações cruciais desse pleito:

1. Por que haverá uma eleição na Catalunha?

Anos de pressão separatista eclodiram em 1º de outubro, quando, desafiando a polícia e a Justiça espanholas, as autoridades catalãs realizaram um referendo considerado ilegal pelo governo central.

Segundo os organizadores, 90% dos eleitores se posicionaram a favor da independência, mas só metade do eleitorado catalão participou do pleito - o que causa incertezas quanto ao real apoio popular ao separatismo.

Após o referendo, o então presidente catalão, Carles Puigdemont, declarou a independência da região, gerando reação por parte do governo espanhol.

O premiê Mariano Rajoy demitiu a liderança catalã, dissolveu o Parlamento regional e convocou eleições antecipadas - estas que serão realizadas nesta quinta.

A aposta de Madri é capitalizar em cima do desencanto de parte dos catalães com o separatismo, com a expectativa de que a eventual eleição de líderes pró-Espanha voltem a ancorar a Catalunha ao país.

Por outro lado, ainda há bastante ressentimento catalão com relação ao governo central, em especial depois da forte repressão policial ocorrida durante o referendo de outubro.

Os especialistas se dividem em suas análises.

"A independência acabou; o chamado 'procés' (movimento separatista) está acabado", afirma Manuel Arias Maldonado, professor de Ciências Políticas da Universidade de Málaga.

No entanto, para Oriol Bartomeus, cientista político da Universidade Autônoma de Barcelona, a votação desta quinta é uma espécie de "Referendo 4.0" - a quarta manifestação do eleitorado catalão sobre o assunto, após um referendo informal em 2014, uma eleição regional de 2015 e o polêmico referendo de outubro passado.

2. Por que os separatistas decidiram participar do pleito?

Após a declaração de independência catalã, o governo espanhol reagiu limando parte da autonomia da região e com a prisão temporária de alguns líderes, que se disseram vítimas de ações antidemocráticas por parte de Madri. Carles Puidgemont, por sua vez, decidiu viajar à Bélgica.

Por isso, causou surpresa a decisão dos grupos separatistas de participar do pleito desta quinta. Após inicialmente rejeitarem a votação, eles decidiram concorrer, usando slogans como "Puidgemont é nosso presidente" e "democracia sempre vence".

Para o eleitor Josep Jaume Rey, que é pró-independência, "é uma segunda rodada do referendo que não pudemos realizar legalmente".

3. Há unidade no bloco separatista?

A questão principal em jogo nesta quinta-feira é se os partidos pró-independência conseguirão maioria no Parlamento catalão - algo colocado em dúvida pelas pesquisas de opinião. Se conseguirem, o ímpeto separatista dificilmente será contido.

Na eleição regional de 2015, a maioria dos partidos separatistas se uniu sob a coalizão Juntos pelo Sim, instando a população a apoiar a realização do referendo e o voto por independência.

A aliança aglomerou a Convergência Democrática da Catalunha (partido de centro-direita de Puidgemont), a Esquerda Republicana da Catalunha (ERC, social-democrata) e dois partidos menores.

Com a ajuda de um quinto partido, o radical Candidatura de Unidade Popular (CUP, conhecido por sua posição anti-UE), a coalizão conseguiu apoio parlamentar suficiente para convocar o referendo de outubro.

Na eleição desta quinta, em contraste, não houve acordo entre os partidos separatistas, que além disso acusam o governo espanhol de processar judicialmente os líderes independentistas com fins políticos. O cenário ficou o seguinte:

- Ante a prisão de seu líder Oriol Junqueras, o ERC optou por não se aliar com Puidgemont;

- O grupo de Puidgemont, por sua vez, relançou-se como Partido Democrático Catalão Europeu e aliou-se a candidatos independentes na união Juntos pela Catalunha (JxC);

- O CUP volta a disputar o pleito por conta própria.

4. E quanto aos partidos unionistas?

Do lado unionista, os partidos Ciudadanos, o Socialista e o PP (do premiê Rajoy) fizeram campanha sob o argumento de que o processo de independência levaria a Catalunha "ao precipício".

Também há dúvidas quanto a se essas três legendas conseguirão, juntas, a maioria do Parlamento. Mas o Ciudadanos pode acabar se tornando o maior partido da Casa - algo que mudaria drasticamente o cenário político catalão.

5. Há opções intermediárias?

No meio termo, está a coalizão de esquerda Em Comum Podem, que criticou o separatismo, mas também as ações do governo central de Madri. É endossada pela carismática prefeita de Barcelona, Ada Colau, e liderada por Xavier Domenech.

O grupo prega o aumento da autonomia catalã e reformas que levem a um referendo legal.

Eles devem ganhar menos cadeiras do que seus antecessoras anti-capitalistas em 2015, mas ainda têm um papel importante nas negociações de coalizão.

6. A eleição será livre e imparcial?

O eleitor catalão Juli Morató diz que os separatistas temem a "manipulação dos resultados".

Houve erros durante o registro dos votos - mas nada, ao que parece, em uma escala que justifiquem suspeitas de fraude eleitoral.

Pedidos para a presença de observadores internacionais foram considerados "inapropriados" e rejeitados pela Comissão Central Eleitoral da Espanha.

A campanha não esteve livre de censura, no entanto.

As autoridades centrais baniram a exibição de fitas amarelas em Barcelona, que são usadas para mostrar solidariedade aos líderes catalães presos.

Enquanto isso, políticos separatistas como Junqueras foram forçados a disputar a eleição da prisão.

Não se sabe se a Justiça espanhola vai retirar as acusações que pesam contra eles - ou contra Puigdemont - se eles vencerem.

"Tem sido uma campanha muito estranha, mais polarizada do que nunca", diz o cientista político Bartomeus. "A imprensa tomou lados, até as emissoras públicas. A imparcialidade está baixa", conclui.