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Resgate em caverna na Tailândia: meninos tentam retomar a vida e turismo explode

Meninos resgatados visitam memorial a mergulhador morto  - BBC
Meninos resgatados visitam memorial a mergulhador morto Imagem: BBC

26/12/2018 15h58

Descubra o que ocorreu passados cinco meses desde que 12 garotos e seu técnico de futebol foram resgatados de uma caverna inundada.

Por três semanas de julho e julho, o destino de 12 meninos e seu técnico de futebol tornaram as cavernas de Tham Luang, na Tailândia, o assunto mais comentado no planeta.

Cinco meses depois, o local está entre os mais visitados no norte tailandês.

Em julho, uma operação para bombear água para fora da caverna fez com que campos vizinhos com pomares e vegetais fossem inundados.

Uma das áreas era usada para o plantio de abacaxis por Archawin Mopoaku, membro da etnia Akha, uma das três que habitam essa região montanhosa. Mas ele não se queixou. Em vez disso, abandonou a agricultura por um tempo e ajudou como voluntário a cortar bambuzais para facilitar o acesso de soldados à entrada da caverna.

Hoje, os campos de abacaxi de Archawin seguem intocados. E, ao lado deles, na estrada de terra que leva até as cavernas, ele vende laranjas de seu pomar a turistas - atividade que tem lhe proporcionado muito mais dinheiro do que ganhava com os abacaxis.

"Antes do resgate, as coisas aqui eram muito calmas", ele disse. "Só de vez em quando alguns estrangeiros vinham explorar as cavernas. Mas depois do resgate há muito mais gente vindo, e moradores da região montanhosa como eu estão se dando bem."

O mesmo vale para os vendedores de flores que abordam clientes no início da estrada, ambulantes que comercializam carne de porco e, especialmente, vendedores de bilhetes de loteria.

Turismo interno

Um guarda florestal se senta numa cadeira de plástico sob a copa de árvores, registrando num caderno o número de visitantes. Isso costumava ser fácil. Normalmente, eram entre 10 e 20 por dia. Hoje são mais de 6.000.

A maioria é composta de tailandeses, que vêm de todas as partes do país para ver onde ocorreu o resgate.

"Hoje, nenhuma outra atração turística da região consegue competir com Tham Luang," diz Damron Puttan, empresário e estrela de TV em visita à área. Ele estava na Europa quando os meninos ficaram presos e se impressionou com a atenção que o caso recebeu no continente.

"Nunca tinha ouvido falar dessas cavernas antes do resgate", diz Vanisa Achakulvisut. "Mas depois que surgiram as notícias sobre o time de futebol Wild Boars, tive que ver por conta própria."

Não é só a curiosidade que atrai multidões. A cadeia montanhosa sobre as cavernas foi batizada em homenagem a Nang Non, uma princesa mítica que se matou após um caso de amor proibido. Diz-se que a montanha lembra a imagem da princesa adormecida.

Cavernas são vistas como lugares de grande poder místico na Tailândia. Há muito tempo existe um altar para Nang Non perto da entrada da caverna, onde as pessoas podem deixar oferendas ao espírito dela. Mas o resgate milagroso ampliou sua fama como provedora de boa sorte.

Todo visitante que eu vi nessa região carregava flores e fazia uma breve oração no altar. O local se tornou um ponto de venda de bilhetes de loteria, e os números mais populares terminam com 13 - o número de pessoas resgatadas da caverna.

Agora há outro santuário no local: uma estátua de 3 metros em bronze de Saman Gunan, o mergulhador tailandês que morreu durante o resgate.

A obra foi posicionada em frente a um museu novo, ainda vazio, erguido no outrora enlameado estacionamento de onde eram transmitidas as notícias sobre o resgate.

Reencontro

Os meninos e o técnico Ekkapol Chantawong, que os ajudou a suportar a espera de 17 dias ensinando-os a meditar, também estavam lá, em sua segunda visita à caverna desde o resgate.

Alguns dos socorristas também estavam presentes, como o finlandês Mikko Paasi, o americano Josh Morris - que tem uma escola de escalada em Chiang Mai e foi um intermediário entre os mergulhadores estrangeiros e agentes do governo tailandês -, e Vern Unsworth, o explorador de cavernas britânico que conhece Tham Luang há vários anos e foi um dos primeiros a chegar ao local após o sumiço dos meninos.

Foi um encontro tocante. Os garotos, que pareciam saudáveis e alegres, abraçavam seus salvadores.

O governo tailandês ainda os trata com grande zelo. Eles são assessorados por assistentes sociais, que os acompanham em todas as aparições públicas, e qualquer pedido de entrevista com o grupo é analisado rigorosamente por dois comitês.

Suas famílias também foram instruídas a não falar com a imprensa sem autorização.

'Um milagre e tanto'

"Para mim, ainda é muito emocionante", me disse o britânico Vern Unsworth enquanto olhávamos para a nova grade que impede o acesso à caverna. "Algumas pessoas acham que salvar 13 de 13 foi um milagre e tanto."

"Acho que o mundo esperava um resultado ruim. Mas nunca desistimos. O que os mergulhadores fizeram foi uma prova incrível de resistência."

Ele diz que ninguém deveria culpar os meninos e o técnico por terem entrado na caverna - e que eles apenas tiveram má sorte. "Poderia ter sido eu." Vern planejava visitar as cavernas no dia seguinte. A água subiu muito rápido, após chuvas fortes e pouco comuns, prendendo os meninos e o técnico e forçando-os a buscar refúgio caverna adentro.

A experiência mudou suas vidas? "Eles são um grupo impressionante", diz Vern. "Eles continuaram com os pés no chão, e estão sendo muito bem cuidados. Não diria que têm uma vida normal - eles estão fazendo um tour pelo mundo. Mas estão de volta à escola."

O técnico-chefe do time, Nopparat Kanthawong, afirma que eles estão treinando duro após a escola, assim como antes do resgate. Eles recuperaram o peso perdido, embora ainda estejam reconstruindo a força muscular. Há muitos grupos interessados em ajudá-los. Vimos os jovens serem treinados por uma equipe do Manchester City em seu campo nas montanhas.

Há ao menos três filmes sobre o resgate sendo produzidos. A gravação do primeiro, chamado A Caverna, acaba de terminar. Vern e outros mergulhadores esperam que as cavernas e o museu sejam usados para educar o público sobre a geologia, a flora e a fauna locais.

Para o chefe do distrito de Mae Sai, Somsak Kanakham, os recursos extras e as oportunidades de negócio gerados pelo boom turístico nas cavernas são bem-vindos.

Mas ele se preocupa em manter o fluxo e diz que a área precisa de investimentos em infraestrutura para receber essa onda de visitantes.

No longo prazo, ele espera receber orientações sobre como desenvolver outras potenciais atrações turísticas nessa região verde e montanhosa. Em algum momento, todo o entusiasmo gerado por esse resgate extraordinário começará a diminuir, possivelmente também reduzindo o número de visitantes.

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