Winston Churchill foi herói ou vilão? Por que Reino Unido discute isso agora
Ele foi votado como o maior britânico de todos os tempos em uma enquete feita pela BBC em 2002. Mas agora alguns setores no Reino Unido estão querendo que a visão histórica sobre o primeiro-ministro inglês Winston Churchill, que liderou o país durante a Segunda Guerra, seja revista.
Churchill nunca escondeu sua crença na "supremacia branca" e considerava os indianos uma "raça inferior".
Ele também defendeu o uso de "gás venenoso" contra curdos, afegãos e "tribos não civilizadas" - seus defensores dizem que ele se referia ao gás lacrimogênio. Mas ele também defendeu o uso de gás mostarda contra tropas otomanas.
Como muitos de sua geração, considera-se que ele também tinha visões antissemitas.
Seus apoiadores dizem que tudo isso se tornou uma "nota de rodapé" na história por causa da liderança de Churchill durante a Segunda Guerra Mundial, que foi vital para manter o moral e que levou à vitória do país contra os nazistas.
Outros argumentam que Churchill "não deveria ser julgado pelos padrões de hoje", e que, apesar de suas falhas, ele era um grande homem.
No entanto, controvérsias sobre seu legado continuam.
Grande fome
As críticas mais recentes vieram de um parlamentar do Partido Trabalhista que chamou Churchill de "vilão" por enviar soldados para reprimir um protesto de mineiros no País de Gales em 1910. Na época, Churchill ainda era Ministro do Interior.
No mês passado, um membro nacionalista do Parlamento da Escócia disse que Churchill era um "assassino em massa" e um "supremacista branco" e o acusou de ser responsável por piorar os efeitos de uma grande fome que matou cerca de três milhões de pessoas na província de Bengala, na Índia, quando o território ainda era colônia britânica, em 1943. Hoje, o território da Bengala está dividido entre Índia e Bangladesh.
Essa grande fome de 1943 em Bengala ocorreu após o fracasso de safras de arroz - por causa de uma inundação - e os japoneses invadirem Burma, que também era colônia britânica, o que travou o transporte de arroz para a Índia.
De acordo com o autor do livro A Guerra Secreta de Churchill, Madhusree Mukerjee, o primeiro-ministro se recusou a atender aos pedidos da Índia por trigo e continuou a insistir para que a colônia fornecesse arroz e combustível para o esforço de guerra.
"Eu odeio indianos", teria dito Churchill para o Ministro para Índia Leopold Amery. "São pessoas horríveis com uma religião horrível", teria dito Churchill.
O líder inglês chegou a culpar os indianos pela fome, dizendo que eles "se reproduzem como coelhos".
Controvérsias
Com uma carreira de quase 70 anos, Churchill teve vários momentos de controvérsia. Chamava os brancos de "raça forte" e "raça de alto nível".
Mas, de acordo com o escritor Richard Toye, autor do livro O Império de Churchill, "isso não quer dizer que ele necessariamente achava OK tratar pessoas não-brancas de maneira desumana", como Hitler.
Churchill de fato foi a favor de usar uma arma química - gás mostarda - contra tropas otomanas durante a Primeira Guerra Mundial, mas essa era uma época em que outras nações também estavam usando esse tipo de arma.
Ele também foi criticado de ter usado "mão de ferro" para lidar com separatistas irlandeses e mineiros galeses no início do século.
Seu papel na repressão aos protestos dos mineiros no País de Gales em 1910, no episódio conhecido como os "distúrbios de Tonypandy", que resultou em um morto e cerca de 500 feridos, marcou sua carreira e é visto como prova de sua aversão a sindicatos.
Revisão
"Já passou da hora de um debate não apenas sobre Winston Churchill, mas sobre o Império Britânico", escreveu Owen Jones, colunista do jornal britânico The Guardian.
"Nós nunca nos entenderemos - muito menos o mundo - ou seremos capazes de ter uma discussão aberta sobre política externa britânica ou racismo, se não fizermos isso."
Mas os apelos pela revisão da história de uma figura tão imponente estão enfrentando oposição.
"Se não fosse por Winston Churchill, eu não estaria vivo. E isso não é uma declaração romanceada. Apesar do fato do primeiro-ministro dos tempos de guerra ter sido um supremacista branco, suas qualidades superam muito seus defeitos", escreveu o político do Partido Conservador Daniel Finkelstein no jornal The Times.
Político do mesmo partido, James Cleverly também criticou o que chamou de "tentativas de sujar" a reputação de Churchill olhando para ele através das lentes da sociedade atual.
"A ideia de que podemos julgar a linguagem das pessoas que cresceram na era eduardiana pelos padrões de hoje é completamente ridícula", disse Cleverly.
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