EUA divulgam vídeo que mostraria iranianos retirando explosivo não detonado de petroleiro; entenda
As Forças Armadas dos Estados Unidos divulgaram um vídeo que mostra que forças especiais do Irã teriam retirado, ao lado de um navio petroleiro danificado, uma mina não detonada em um ataque no Golfo de Omã na quinta-feira.
Os EUA também divulgaram imagens do petroleiro japonês aparentemente mostrando a mina não detonada antes de ser removida.
Um petroleiro norueguês também relatou ter sido atingido por três explosões.
Os Estados Unidos acusaram o Irã de estar por trás dos ataques. O Irã, contudo, negou "categoricamente" a acusação.
As explosões ocorreram um mês depois que quatro navios petroleiros foram danificados em um ataque na costa dos Emirados Árabes Unidos. Os Estados Unidos também culparam o Irã por esse ataque, mas não apresentaram provas. O Irã também negou essas acusações.
As tensões entre os EUA e o Irã aumentaram significativamente desde que o presidente dos EUA, Donald Trump, assumiu o cargo em 2017. Ele abandonou um acordo nuclear que tinha sido intermediado pelo governo de Barack Obama e apertou significativamente as sanções ao Irã.
Os preços do petróleo subiram até 4% após o incidente de quinta-feira. O Golfo de Omã fica em uma das extremidades de uma importante rota marítima, pela qual passa um terço do petróleo do mundo todos os anos.
O que se sabe sobre as explosões
A Marinha dos Estados Unidos disse que recebeu duas chamadas de socorro, do petroleiro norueguês Front Altair e do japonês Kokuka Courageous.
Também informou que observou navios iranianos operando na área horas após as explosões e que, depois, removeram a mina não explodida do lado do Kokuka Courageous.
As tripulações de ambos os navios foram evacuadas para outros navios nas proximidades. Tanto o Irã quanto os EUA posteriormente divulgaram fotos mostrando os membros da tripulação resgatados a bordo de seus navios.
O operador do Kokuka Courageous, BSM Ship Management, disse que a tripulação abandonou o navio depois de observar um incêndio e uma mina não explodida.
O Kokuka Courageous estava a cerca de 30 km da costa iraniana quando fez a chamada de emergência.
O Front Altair transportava nafta, derivado de petróleo, dos Emirados Árabes Unidos para Taiwan. O Kokuka Courageous estava transportando metanol da Arábia Saudita para Cingapura.
O que os Estados Unidos disseram?
O secretário de Estado dos EUA, Mike Pompeo, afirmou na quinta-feira que o Irã é culpado pelas explosões de dois navios petroleiros perto do Estreito de Ormuz, no Oriente Médio.
"Essa avaliação é feita com base em inteligência, no tipo de arma usada, no nível de expertise necessário para executar a operação, em ataques similares do Irã contra embarcações e no fato de que nenhum grupo operando na área tem os recursos e a proficiência para agir com tal grau de sofisticação", afirmou Pompeo.
O secretário americano afirmou que os ataques são parte de uma campanha iraniana para escalar as tensões na região e desestabilizar o fluxo de petróleo pelo Estreito de Ormuz. Ele disse ainda ter instruído a representante americana na ONU a levar o tema para discussão no Conselho de Segurança do órgão.
Representantes do governo iraniano, no entanto, negaram à BBC que o país esteja por trás das ações.
Tanto a ONU quanto a União Europeia advertiram que a escalada de tensão faz com que aumentem os riscos de um novo confronto no Oriente Médio.
O secretário de Relações Exteriores do Reino Unido, Jeremy Hunt, disse que o "ponto de partida" de seu país é acreditar nos EUA, país aliado.
"Estamos levando isso muito a sério e minha mensagem ao Irã é de que, se estiveram envolvidos, é uma escalada profundamente imprudente que representa um perigo real para as perspectivas de paz e estabilidade na região", disse Hunt.
Como o Irã respondeu?
Na sexta-feira, o presidente iraniano, Hassan Rouhani, acusou os Estados Unidos de representarem "uma séria ameaça à estabilidade no Oriente Médio", sem se referir diretamente aos ataques no Golfo de Omã.
Ele reiterou a convocação para que sejam honrados os compromissos referentes ao acordo nuclear de 2015, após a retirada unilateral dos EUA pelo governo Trump.
Em um comunicado divulgado na sexta-feira, a missão iraniana na ONU disse que nega as alegações "infundadas" e "iranofóbicas" dos Estados Unidos.
"O Irã rejeita categoricamente a alegação infundada dos EUA em relação aos incidentes do petroleiro de 13 de junho e os condena da forma mais forte possível", diz o comunicado.
O ministro das Relações Exteriores do Irã, Javad Zarif, no Twitter, acusou os EUA de fazerem uma alegação "sem um fragmento de evidência factual ou circunstancial" e de tentar "sabotar a diplomacia".
Análise
O especialista em segurança da BBC Frank Gardner, avalia que as imagens divulgadas pelos Estados Unidos são muito mais convincentes do que as evidências circunstanciais que o país tinha fornecido antes disso.
Segundo ele, a embarcação branca que aparece no vídeo é modelo típico usado pela Marinha da Guarda Revolucionária Islâmica do Irã (IRGC, na sigla em inglês) - que, nos últimos anos, construiu uma frota de pequenas embarcações de ataque de alta velocidade, difíceis de detectar, armadas com minas, mísseis e drones.
Gardner aponta, ainda, que os comandos da Guarda Revolucionária Islâmica do Irã praticam com frequência operações secretas e simulam ataques. Algumas de suas embarcações chegaram perto de navios de guerra da Marinha dos EUA no Golfo nos últimos anos, segundo ele, e ainda existe o risco de um conflito no mar.
O Irã negou qualquer envolvimento nos ataques de quinta-feira, dizendo que eles foram executados por alguém que quer atrapalhar as relações do Irã com a comunidade internacional. Gardner diz que provavelmente haverá dúvidas em Teerã sobre a veracidade deste vídeo.
Por que a tensão entre Estados Unidos e Irã está grande?
Em 2018, os Estados Unidos se retiraram do importante acordo nuclear alcançado em 2015, que visava conter as atividades nucleares do Irã. O movimento foi fortemente criticado por vários países, incluindo os aliados mais próximos dos Estados Unidos.
Em maio, o Trump reforçou as sanções ao Irã - com foco principalmente na área de petróleo. O Irã anunciou que suspenderia alguns compromissos do acordo nuclear.
Nos últimos meses, os EUA fortaleceram suas forças no Golfo - sob o argumento de que havia um perigo de ataques iranianos. O país enviou porta-aviões e bombardeiros B-52 para a região.
Em resposta, o Irã acusou os EUA de ter adotado um comportamento agressivo.
Essas tensões aumentaram significativamente após quatro petroleiros terem sido danificados por minas nas águas dos Emirados Árabes Unidos, no dia 12 de maio.
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