Por que telefonema de Trump ao presidente da Ucrânia é centro de novo escândalo político nos EUA
A admissão, por parte de Donald Trump, de um telefonema que fez ao presidente da Ucrânia tem alimentado pedidos por impeachment do líder americano.
O escândalo político começou com uma reportagem publicada pelo Wall Street Journal na semana passada.
Segundo um informante ouvido pelo jornal, um oficial de inteligência descobriu que Trump pedira que uma autoridade ucraniana (acredita-se que o presidente Volodymyr Zelensky) investigasse Joe Biden, principal pré-candidato democrata na corrida para as eleições de 2020, e seu filho, que é do conselho de uma empresa de gás ucraniana.
Em troca, disse o informante, Trump teria prometido "algum benefício" ao líder ucraniano, possivelmente ajuda militar americana ao país. Mas, segundo os relatos, essa promessa não teria sido explícita por parte do presidente americano.
Ainda segundo a fonte, que não foi identificada, Zelensky teria sido pressionado oito vezes a investigar potenciais escândalos envolvendo Hunter Biden, filho de Joe.
Na sexta-feira (20/09), Trump chamou a notícia de "ridícula" e afirmou que suas conversas com líderes estrangeiros são sempre "totalmente apropriadas".
No domingo (22/09), ele afirmou à imprensa que seu telefonema a Zelensky, em 25 de julho, foi "de congratulação", mas agregou que mencionou "o fato de que não queremos nossas pessoas, como o vice-presidente Biden e seu filho, aumentando a corrupção já existente na Ucrânia". Insistiu que não fez "absolutamente nada errado".
Mas a admissão, ainda que parcial, do teor da conversa fez reacender, entre democratas, movimentos em favor do impeachment do presidente, alegando que ele estaria facilitando uma interferência estrangeira nas eleições de 2020.
O congressista americano Adam Schiff, veterano do Partido Democrata e líder do influente Comitê de Inteligência da Câmara, disse que vinha relutando em apoiar reivindicações por impeachment até agora.
"Trata-se de um sério e flagrante abuso e possível violação da lei", afirmou Schiff à CNN.
"Qualquer esforço para pressionar um governo estrangeiro a levantar sujeira sobre seu opositor político, ao mesmo tempo em que retém ajuda militar essencial àquele país, é tanto [um ato] corrupto quanto uma grave ameaça aos interesses americanos", acrescentou Schiff no Twitter, afirmando que não é necessário que tenha havido um "toma lá-dá cá explícito (com o líder ucraniano) para cometer traição contra o país".
Família Biden
Hunter Biden se tornou integrante do conselho da companhia de gás natural ucraniana Burisma em 2014, quando seu pai ainda era vice-presidente no governo de Barack Obama, com um influência na política externa americana.
Na época, houve questionamentos a respeito de potenciais conflitos de interesse envolvendo os Biden, justamente em um momento em que a Ucrânia passava por turbulências - depois de um governo pró-Rússia ter sido derrubado no país.
Em 2016, Joe Biden pressionou o governo ucraniano a demitir seu procurador-geral, Viktor Shokin, cujos subordinados vinham investigando o oligarca dono da Burisma. Trump e seus aliados acusam Biden de ter agido para proteger o filho.
Ao mesmo tempo, diversos governos ocidentais vinham pressionando pela saída de Shokin, considerado um empecilho a esforços de combate à corrupção.
No domingo, alguns dos principais aliados internos de Trump saíram em sua defesa. Seu secretário do Tesouro, Steven Mnuchin, afirmou "não ter qualquer motivo para acreditar que o presidente pressionou" Zelensky durante o telefonema.
"As pessoas sabem que o filho de Biden tem negócios na Ucrânia. Eu, pessoalmente, tenho preocupações quanto a isso."
O secretário de Estado, Mike Pompeo, afirmou à emissora ABC que "se Biden se comportou de modo impróprio, protegeu seu filho e interveio de modo corrupto, temos de investigar a fundo".
Joe Biden, que por enquanto lidera a corrida entre os democratas para disputar a eleição presidencial, afirmou que Trump pode ter praticado "um esmagador abuso de poder".
Outro ponto importante da crise é que o governo Trump estaria tentando impedir que a denúncia do informante fosse entregue ao Congresso, apesar de oficiais de inteligência a terem classificado como "urgente".
Segundo a lei americana, se uma denúncia do tipo é de "preocupação urgente" e se a autoridade de inteligência a considerar "crível", é obrigação dessa autoridade compartilhar a informação com o Congresso em um prazo de, no máximo, de sete dias.
Um proeminente republicano, Mitt Romney, que critica Trump com frequência, afirmou que qualquer indício de que o presidente tenha pedido a um líder estrangeiro que investigue Biden seria "problemático ao extremo".
O lado da Ucrânia
Trump e Zelensky vão se encontrar pessoalmente pela primeira vez na quarta-feira (25/09), durante a Assembleia Geral da ONU, em Nova York.
Por enquanto, o líder ucraniano e sua equipe têm se mantido em silêncio quanto à crise.
Para Jonah Fisher, correspondente da BBC News em Kiev, o presidente "está bastante ciente dos perigos de ser sugado para dentro da política eleitoral americana, de ser visto tomando algum lado em uma campanha eleitoral que, no ano que vem, pode ser entre Trump e Biden. Resta saber se essa abordagem [silenciosa] vai resistir à reunião em Nova York".
Fisher aponta que o governo Trump provavelmente vai esperar que Zelensky faça algum tipo de afirmação negando as acusações contra o americano ou dizendo que vai "analisar" a conduta dos Biden - o que, por sua vez, permitiria à Casa Branca que mantivesse os holofotes sobre os negócios do filho do pré-candidato democrata.
Por enquanto, nenhuma transcrição da conversa foi tornada pública.
Trump afirmou que a conversa foi "ótima, muito direta e honesta. Espero que eles possam divulgá-la".
O secretário de Estado Mike Pompeo afirmou que cabe à Casa Branca decidir se libera as transcrições.
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