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Quais são as diferenças entre o Natal católico e o ortodoxo?

A Igreja Ortodoxa compartilha a maioria das crenças e ritos com a Igreja Católica. - PETER KOVALEV/Getty Images
A Igreja Ortodoxa compartilha a maioria das crenças e ritos com a Igreja Católica. Imagem: PETER KOVALEV/Getty Images

Redação - BBC News Mundo

24/12/2019 11h30

Após o Cisma do Oriente, no século XI, as duas igrejas seguiram caminhos diferentes, mas com ritos muito semelhantes. No entanto, a data do Natal tem a ver com eventos fora do divino: o fim da Primeira Guerra Mundial e a criação da União Soviética.

Há muitas igrejas cristãs no mundo, de acordo com as diferentes crenças: católicos, evangélicos, anglicanos, pentecostais, protestantes, mórmons, ortodoxos...

Hoje existem cerca de 41 mil denominações e organizações cristãs no mundo, que compartilham uma série de crenças baseadas na figura de Jesus Cristo, de acordo com o Centro para o Estudo do Cristianismo Global (CSGC, na sigla em inglês). No total, reúnem cerca de 2,4 bilhões de adeptos.

Para muitas dessas igrejas, como a católica ou a protestante (as que têm o maior número de fiéis do mundo), a celebração do Natal - uma das principais em seu calendário - é no dia 25 de dezembro.

Outros, como as Testemunhas de Jeová, simplesmente não comemoram o Natal.

E o que mais chama atenção é a Igreja Ortodoxa, que compartilha com os dois maiores grupos do cristianismo grande parte da doutrina, fé e ritos. O Natal da maioria dos ortodoxos, no entanto, é comemorado no dia 7 de janeiro.

Por que?

"Na verdade, nós, ortodoxos celebramos o Natal em 25 de dezembro, mas seguindo o calendário juliano. No calendário gregoriano, essa data cai no dia 7 de janeiro", disse à BBC Mundo Xena Sergejew, membro da Igreja Ortodoxa Russa na Argentina.

"Não fazemos a comemoração na noite de véspera de Natal, mas fazemos a celebração religiosa do Natal", explicou.

As diferenças têm a ver com os diferentes calendários, a Primeira Guerra Mundial e várias interpretações da verdadeira data do nascimento de Jesus.

Natal ortodoxo em janeiro

No século XI, devido a diferenças nos rituais - mas também a questões teológicas ou doutrinárias, como o conceito de purgatório e a chamada "controvérsia trinitária" - houve uma separação dentro da Igreja Católica.

Foi nessa época que ocorreu o que é conhecido como "cisma do Ocidente e do Oriente", que resultou na criação da Igreja Ortodoxa, que tem cerca de 300 milhões de fiéis. Está presente nos países da Europa Oriental, incluindo a Rússia e Grécia, assim como na Turquia e em países da África e América.

Embora compartilhem semelhanças, as celebrações de ambas as igrejas estão se distanciando.

Por exemplo, a celebração dos ortodoxos todo dia 7 de janeiro acontece depois de 40 dias de jejum.

E nenhum presente é dado, como acontece no Ocidente há décadas.

Por que isso acontece? É aqui que entra a Primeira Guerra Mundial.

Quando a guerra terminou, boa parte do mundo mudou para sempre: impérios inteiros terminaram e novas nações apareceram.

Após o conflito, muitos dos países em que a ortodoxia cristã era a religião predominante ficaram sob a influência de países que já usavam ou acolheram - como no caso da União Soviética - o calendário gregoriano, estabelecido pelo papa Gregório XIII no século XVI.

No entanto, a igreja ortodoxa decidiu não aplicar a mudança de calendário e continuou basear as datas de seus ritos eclesiásticos pelo calendário juliano - implementado por Júlio César no século I aC. Nesse calendário, o dia 25 de dezembro corresponde ao que é hoje o dia 7 de janeiro.

"Nós, ortodoxos, usamos o calendário civil para as 'coisas do mundo', e um calendário eclesiástico para manter as tradições originais dos crentes em Cristo", escreveu Gonzalo Xavier Celi, da Igreja Ortodoxa do Equador, no site oficial da congregação.

"Embora seja amplamente aceito que a data real do nascimento do Senhor foi provavelmente em março ou abril, acreditamos que é bom manter a festa tradicional que os primeiros cristãos escolheram, abolindo assim a festa pagã ao deus Sol, colocando Cristo como o centro ou o sol de nossas vidas", acrescentou.

Na Rússia, por exemplo, 89% dos russos comemoram o Natal em 7 de janeiro e os demais, em 25 de dezembro. É nesse país que estão concentrados cerca de 35% dos cristãos ortodoxos do mundo.

Celebração

Em contraste com a religião católica, o Natal dos ortodoxos russos é precedido por um forte jejum de 40 dias. Nos dias seguintes, os fiéis participam da liturgia. Depois, muitos caminham em procissão até mares, rios e lagos.

Durante esses dias, os crentes ortodoxos se reúnem para realizar cerimônias ao ar livre com a ideia de abençoar a água. Em alguns países, os rios estão congelados nessa época, então eles perfuram o gelo para alcançar a água que desejam abençoar.

Alguns levam água para suas casas para proteger seus lares.

Depois, uma grande festa é organizada nos interiores, onde eles se reúnem para comer e se divertir. Mas não trocam presentes. Na Rússia e em outros países, a entrega de presentes ocorre durante a celebração do Ano Novo.

"Isso tem mais a ver com uma questão política. Durante anos, a União Soviética, sendo um estado ateu, mudou essa comemoração para o ano novo. Mas tradicionalmente não era assim", acrescentou.

Agora, um dos principais costumes é servir bolos de Natal e cantar canções de Natal. A tradição se mistura om outras, pagãs, da Rússia antiga, para que as pessoas possam visitar seus vizinhos disfarçados, dançar, cantar e pedir presentes ? uma tradição semelhante a pedir doces.

Outra diferença entre o costume católico e o ortodoxo tem a ver com a importância atribuída a ele: enquanto no Ocidente o feriado religioso mais difundido é o Natal, para os ortodoxos é a Páscoa.

A maior semelhança é que, tanto no Oriente quanto no Ocidente, o Natal tem um forte componente de reunião de família e reunião social.