Coronavírus: 'Esquecida', sem UTI e com prefeita afastada, Oiapoque apela à Guiana Francesa por ajuda contra covid-19
Os vídeos que circulam na internet mostram cenas que dificilmente desaparecerão da memória da estudante Rebeca Lira Pinheiro, 29 anos. Sob a chuva fraca, sedado e entubado em uma maca no chão da pista do aeroporto de Oiapoque, está o aposentado e ambulante Evandro Araújo, 65, pai de Rebeca, que tentava, havia cinco dias, ser internado em uma Unidade de Terapia Intensiva (UTI).
No momento em que a imagem era filmada, no dia 14 de junho, fazia quase três horas que família, amigos e médicos enfrentavam sol escaldante e chuva para tentar convencer uma equipe de saúde a embarcar Francisco na aeronave que o levaria para um hospital de Macapá, a cerca de 600 km da cidade localizada no extremo norte do país, na fronteira com a Guiana Francesa. Com 27,7 mil habitantes, Oiapoque não tem nenhuma UTI.
"O meu pai pegou sol, pegou chuva naquela maca. Já estava chuviscando, e no vídeo aparece um amigo nosso com um guarda-chuva tentando cobrir o meu pai. E isso tudo nossa família vendo", conta Rebeca, emocionada, ao relembrar a saga dos cinco dias desde que o pai, que trabalhava como ambulante na cidade, sentiu os primeiros sintomas de covid-19.
Antes de chegar ao aeroporto, a família de Evandro e a equipe médica do município já haviam tentado de tudo. Depois de três dias em que os médicos do hospital tentaram, sem sucesso, conseguir uma UTI estadual aérea para interná-lo em Macapá, Rebeca chegou a organizar uma campanha nas redes sociais pedindo doações, tentando arrecadar dinheiro para bancar o transporte do pai.
Diante da situação, os médicos de Oiapoque já haviam recorrido a medidas desesperadas; chegaram a tentar transportá-lo à capital do Estado de ambulância mesmo, mas precisaram retornar no meio do caminho, quando Evandro parecia não resistir aos solavancos.
A BR-156, rodovia que liga Oiapoque a Macapá, é conhecida pela região como "a obra pública inacabada mais antiga do Brasil". Tem mais de 100 km sem asfalto, o que transforma uma viagem de oito horas em uma jornada de 12 horas, cheia de buracos, floresta e perigo de deslizamento e riscos para o paciente em estado grave.
"Quando começou a buraqueira, os níveis dele começaram a oscilar dentro da ambulância e aí a equipe decidiu voltar correndo, em velocidade máxima, correndo o risco de meu pai morrer. Isso tudo no terceiro dia de internação", relembra Rebeca. "Em época de chuva, como agora, a pista vira um sabão."
Ao ver Evandro em sofrimento tão vulnerável no chão do aeroporto, a família chegou ao limite. "Nós já estávamos muito exaltados. Os médicos aqui do Oiapoque já estavam fazendo um escândalo, dizendo olha, nós vamos colocar os nossos carros na frente dessa aeronave, mas vocês não saem daqui sem o nosso paciente. Eu acho que sinceramente eles se sentiram com medo e decidiram colocar meu pai no avião."
Quando Rebeca conversou com a reportagem da BBC News Brasil, no dia 16 de junho, seu pai estava finalmente internado e parecia se recuperar no Centro Covid-19 de Santana, na região metropolitana de Macapá, em uma unidade específica para pacientes de média e alta complexidade infectados pelo novo coronavírus. Mas seu quadro piorou e ele faleceu dois dias depois, no dia 18.
"E isso tudo porque aqui não tem uma UTI. E qualquer pessoa que estiver na situação do meu pai, ou morre, como já aconteceu aqui, ou precisa passar por tudo isso. Meu pai não é único."
Não é mesmo. De acordo com boletim atualizado até o dia 23 de junho, a pequena Oiapoque já contabiliza 10 mortes por covid-19, dos 380 óbitos registrados pela doença no Amapá.
No dia 21 de maio, a prefeitura da cidade pediu socorro internacional. Em um ofício que foi entregue ao governo francês e a outros 20 países, a gestão municipal informava que não há leitos, equipamentos de proteção individual (EPIs), profissionais de saúde ou medicamentos suficientes para enfrentar a pandemia.
Quase um mês depois, no dia 14 de junho, quando a cidade já contabilizava 7 mortos e 925 casos confirmados da doença, a Polícia Federal descobriu "fortes indícios de desvio dos medicamentos utilizados no tratamento da covid-19 e dos testes de diagnóstico da doença, possível motivo que gerou a falta de medicação na rede pública municipal". Apreendeu, inclusive, testes e equipamentos na casa da prefeita Maria Orlanda Marques (PSDB). Na terça-feira (23/6), a prefeita foi afastada do cargo, depois que a PF deflagrou a segunda parte da operação.
Além dos indícios de desvio de insumos relacionados ao combate à pandemia, as investigações apuraram que houve a compra de pelo menos três bolsas femininas, no total de R$ 4,8 mil, por meio de transferências da conta bancária da própria prefeitura.
Espera na Justiça
No começo da pandemia, em 31 de março, o Ministério Público do Amapá obteve decisão liminar que obrigaria o Estado a adotar medidas urgentes para garantir o pleno funcionamento do Hospital Estadual de Oiapoque (HEO), sob pena de multa por descumprimento. A Procuradoria do Estado recorreu, no entanto, e os efeitos da decisão foram suspensos pelo Tribunal de Justiça do Estado.
"Estamos aguardando agora o julgamento", explica o promotor de Justiça Benjamin Lax, titular da 1ª Promotoria de Justiça de Oiapoque.
A ação do MP cobrava resposta do Estado a problemas urgentes, como a falta de medicamentos, a falta de UTI e o número insuficiente de ambulâncias para transportar doentes até a capital para atendimentos de média e alta complexidade, entre outros. "Não existe UTI e não existem médicos intensivistas no Hospital de Oiapoque, mas deveria ter. Eu posso afirmar para você que as pessoas têm morrido por causa disso", disse o promotor.
A reportagem tentou por dias contato com a assessoria de imprensa do governo do Estado, mas não obteve retorno.
A BBC News Brasil ouviu moradores, profissionais da saúde, e familiares de vítimas da covid-19 em Oiapoque, que se sentem "esquecidos" no extremo norte do Brasil, e apontam que a pandemia apenas agravou a precariedade da saúde pública local.
Além da pandemia e dos escândalos de corrupção, a cidade ainda convive com a greve por atrasos nos salários de profissionais de limpeza que trabalham no hospital estadual de Oiapoque, o único da cidade.
Profissionais de limpeza terceirizados do hospital entraram em greve parcial no meio da pandemia, dedicando-se só a limpar o que é mais essencial para o atendimento dos pacientes, porque estão com salários atrasados por mais de três meses.
Fronteiras fechadas e 'barril de pólvora'
Desde que os primeiros casos de covid-19 começaram a chegar ao Brasil, Oiapoque tem recorrido por diversas vezes à ajuda da vizinha Guiana Francesa, território ultramarino da França, considerado uma extensão do país: é membro a União Europeia, a língua é o francês, a moeda é o euro e é subordinada ao presidente da França, Emmanuel Macron, que tem descrito o combate à covid-19 como uma "guerra sanitária".
Desde o início de junho, parte dos testes dos moradores da cidade é analisada na Guiana Francesa, a partir de uma cooperação internacional.
Comparada à precariedade do atendimento em Oiapoque, a Guiana pareceu enfrentar a doença com mais planejamento e infraestrutura.
Oiapoque tem no território francês sua "cidade-irmã": é vizinha do município de São Jorge de Oiapoque (Saint-Georges), na qual 40% da população é de brasileiros. É, atualmente, a única cidade da Guiana que continua confinada contra a pandemia, em lockdown. A população da Guiana Francesa, como praticamente todo o território francês foi liberada do confinamento no dia 11 de maio.
Os dois municípios têm relação comercial e social e direta e são divididos pela Ponte Binacional Brasil-França, inaugurada em 2013. Os moradores da Guiana se aproveitam da força do euro em relação ao real para fazer compras em Oiapoque; muitos brasileiros, por outro lado, trabalham em garimpos ilegais na Guiana; e o fluxo entre as duas cidades é constante, seja pela estrada que cruza ponte (a distância entre as cidades é de pouco menos de 10 km), ou seja pelo rio Oiapoque.
"Dos que se encontram na Guiana Francesa, praticamente todos têm parentesco direto com o Estado do Amapá, com o Norte ou o Nordeste", afirma Isaac Silva, chefe das relações internacionais da prefeitura de Oiapoque, que diz que essa dependência tornou mais difícil limitar a circulação pela fronteira.
Quando os primeiros casos de covid-19 foram confirmados na Guiana Francesa no início de março, época em que as fronteiras e os voos ainda estavam liberados, o território francês pareceu reagir de maneira eficiente: criou políticas de isolamento dos casos suspeitos em hotéis, adotou testes em massa, aumentou a fiscalização da fronteira restringiu a entrada no território apenas a casos especiais, documentados.
Mas no mês passado, quando a doença avançou pelo rio Oiapoque e atingiu a "irmã gêmea" São Jorge, as coisas parecem ter saído de controle também do lado francês. Atualmente, a Guiana tem oito mortos e 2.548 casos confirmados de covid.
Com o fechamento das fronteiras, os moradores de Oiapoque perderam também a opção de tentar atendimento de emergências de saúde na vizinha, possibilidade que era prevista em um acordo de cooperação.
"O mais grave que está acontecendo conosco aqui é a falta de medicamentos, que nós não temos. Nem nos postos de saúde, nem para comprar", afirma Lilma Campos, dona de uma pousada na cidade e presidente da associação comercial de Oiapoque.
Junto com outros membros da sociedade civil, ela têm se organizado para conseguir doações, principalmente vindos da Guiana Francesa. Organizações como a Associação Internacional das Enfermeiras da Guiana, Corpo de Bombeiros da Guiana e a Agência Regional da Saúde estão entre os que doaram Equipamentos de Proteção Individual, oxigênio e medicamentos para Oiapoque.
Houve também o pedido para que um hospital de campanha fosse instalado em Oiapoque, financiado pelo governo europeu. Waddy Many Benoit, responsável por mediar as relações interfronteiras da ONG Pirogue Humanitaire, dedicada ao recrutamento de médicos para a região, diz que a operação da PF em torno da prefeita reduziu a credibilidade em torno dos pedidos.
A partir de agora, a ideia é formalizar tais solicitações por meio dos parlamentares das bancadas estadual e federal do Estado, sem envolver a prefeitura. "Foi muito muito negativo. Franceses não gostam desse tipo de situação". Na quarta-feira (24/6), a administração da Guiana anunciou a intenção de instalar um hospital de campanha na capital, Caiena.
O chefe de relações internacionais da prefeitura de Oiapoque, Isaac Silva, diz que a cidade convive há tempos com a falta de medicamentos e estrutura básica de saúde, mas a gravidade da situação ficou mais evidente com a pandemia.
"Eu, como relações internacionais, me obrigo, coloco a vergonha de lado e vou para lá me humilhar mesmo, no sentido literal da palavra, e pedir mesmo para a Guiana para que eles nos doem alguma coisa para poder salvar as vidas aqui."
Preconceito e conflitos
Na últimas semanas, brasileiros que moram na Guiana relataram que foram alvo de preconceito por parte dos guianenses franceses. "O brasileiro tem sido mal visto, por não querer respeitar o confinamento, querer jogar bola todo dia", afirma o presidente da Associação de Brasileiros na Guiana Francesa, José Hermegildo Gomes, o Dedé, que vive na Guiana Francesa há 20 anos.
"A gente vê que a comunidade guianense está com mais receio de que a comunidade brasileira vá lá. A comunidade francesa vê na televisão parabólica o pessoal brincando, vê a política do presidente achando que é brincadeira. E daí vem todo o preconceito."
A brasileira Andressa Duvigneau, vice-representante dos brasileiros na Guiana e que mora na cidade de Curru, também diz que são mais frequentes as críticas aos brasileiros nas redes sociais durante a pandemia. "Tem muito guianense francês dizendo que brasileiros entram pelo mato e fazem festa, clandestinamente. Já estão comentando na internet, ligam para o rádio para falar mal, para criticar."
Benoit Van Gastel, diretor da Agência Regional de Saúde da Guiana Francesa, diz que, embora seja difícil afirmar que a má condução da pandemia em Oiapoque tenha prejudicado o território francês, sabe-se que alguns dos casos de São Jorge do Oiapoque vieram de contágios entre as cidades vizinhas.
"Para as pessoas, o rio Oiapoque é mais um ponto de ligação do que uma fronteira entre os países. Na rotina normal, as pessoas circulam pelo rio várias vezes por semana para necessidades básicas, como trabalho, para ver a família, amigos. Então é muito difícil barrar esse tipo de conexão", afirma Van Gastel.
O diretor diz que as lideranças foram parceiras na saúde desde o começo da pandemia, mas que essa cooperação agora se torna mais difícil com o agravamento da situação na Guiana, que preocupa o governo francês tanto em nível nacional quanto regional.
"Os catraieiros, que são os barqueiros que levam e trazem a população de Oiapoque a São Jorge, estão parados sem ter o ganha-pão. Estamos tendo problemas com donos de embarcações e a Polícia Francesa. Está um barril de pólvora, estou todo dia tentando solucionar problemas para evitar conflito na fronteira."
Atendimento em queda
Atualmente, segundo a secretaria municipal de saúde, Oiapoque tem três dos seis médicos da saúde básica da cidade afastados por covid-19. Por isso, desde a semana passada, a prefeitura reduziu ainda mais o atendimento na Unidade Sentinela do município, unidade básica de saúde destinada a atender os casos de covid-19 de baixa complexidade.
Agora, só serão atendidos 25 pacientes de manhã e 25 à tarde, em dias de semana. Quem sentir os sintomas no fim de semana precisará recorrer ao hospital de Oiapoque, que tem falta de oxigênio, medicamentos, profissionais de limpeza e médicos.
Uma enfermeira que preferiu não ter o nome revelado disse que em torno de 15 funcionários do hospital já pegaram covid-19 e se recuperaram. Grande parte deles trabalha reutilizando EPIs descartáveis, porque não há suficiente.
Diz que, com a greve parcial dos funcionários da limpeza, a situação tem sido ainda mais grave, mas todos os profissionais de saúde são solidários e apoiam a causa das faxineiras, que têm priorizado limpar as áreas mais essenciais ao atendimento dos pacientes.
De acordo com uma das faxineiras que participa da greve, a razão para os atrasos nos salários é a falta de repasses do governo estadual. "A empresa que eu trabalho é séria, mas está atrasando porque não recebeu do Estado". Ao portal G1, o titular da Secretaria de Saúde do Amapá, Juan Mendes, disse que não era o secretário na época dos atrasos e que não pode justificar as ações da antiga gestão. Mesmo assim, explicou que o financiamento da saúde depende de recursos federais que tiveram cortes orçamentários.
Todos positivos
Na família de Rebeca, todos testaram positivo para covid-19: o pai, a mãe, seu marido, seus dois filhos, de dois e sete anos de idade, e dois primos que moram na casa ao lado, no mesmo terreno. Rebeca também levava almoço para o pai, que era separado da mãe e morava sozinho. Vivia do dinheiro da aposentadoria, mas trabalhava também como ambulante porque era muito "disposto" e adorava trabalhar. Além de criar os filhos, ajudou também os parentes do Ceará, onde nasceu.
"Eu lavo louça na casa da minha mãe, ajudo ela, faço comida. Foi nesse contato diário de afazeres domésticos que provavelmente nos contaminamos", conta Rebeca.
"Eu estou sentindo os sintomas há mais de um mês. Acredito que as crianças e meu marido sejam assintomáticos. Já minha irmã mães e primos tivemos garganta inflamada, fraqueza, diarreia. Mas sem problemas respiratórios sérios."
Moradora de Oiapoque, a pastora Adriana Bandeira dos Santos Vilhena, de 41 anos, diz que sua família não consegue se conformar com a morte de sua irmã. A empresária Evânia Bandeira dos Santos, 49 anos, começou se sentir mal no dia 15 de maio e faleceu no dia 21, em que enfrentou o pesadelo de buscar atendimento e internação.
Adriana conta que passou cinco dias levando e trazendo a irmã de carro, já que não havia ambulâncias, para o hospital de Oiapoque, em situação cada vez mais grave, sem que conseguisse interná-la. Embora a irmã se sentisse cada vez mais fraca e perdendo aos poucos a autonomia, Adriana diz que a recomendação do hospital era a de que ela se tratasse em casa.
Da terceira e última vez em que tentou interná-la, diz que a irmã já não conseguia andar, e precisou entrar carregada em uma maca. "Da primeira vez, ela chegou andando. Na terceira, entrou de maca e fralda descartável, e nem assim queriam interná-la."
No atendimento, segundo a pastora, a equipe repetia para Evânia que seus sintomas eram psicológicos, e que ela não podia ficar no hospital, onde a carga viral era grande. Em casa, toda a família de Evânia já havia tido sintomas da doença.
"Minha irmã olhava para mim e pro meu marido, dizendo tipo, 'me leva para o hospital?'. E, ao mesmo tempo, ela dizia: 'será que eles vão me receber?'. E então dizia 'não, bora me tratar aqui em casa'. E a gente foi tratando e ela foi morrendo aos poucos", diz a irmão, aos prantos.
Adriana se queixa também da falta de exames, e diz que, embora a irmã fosse diabética e hipertensa, todo o seu diagnóstico foi baseado em um raio-X, o único exame a que ela foi submetida ? e que a falta de ar foi atribuída a questões psicológicas.
"Eu penso que o nosso município não tem estrutura nenhuma. A população aqui não tem estrutura. Se uma pessoa passa mal e precisa de uma tomografia, não tem. O avião só vem se tiver um padrinho lá, um deputado que conhece um vereador", lamenta, chorando ao lembrar das poucas opções que lhes restavam.
"A fronteira estava fechada e eu não podia ir para o outro lado. Eu tinha 600 km para ir para Macapá. Quem podia me socorrer? Eu só tinha eles, e eles não me deram o socorro que a minha irmã precisava. Aconteceu comigo, mas quantas vezes aconteceu com outras pessoas?", questiona.
Adriana diz compreender que a morte é um risco da pandemia, mas lhe revolta que sua irmã não tenha tido o direito de lutar pela vida a partir de um tratamento. "Você não pode morrer sem o direito de receber o devido tratamento que você merece. Eu não estou chocada porque a minha irmã morreu, mas porque ela não recebeu a ajuda que ela precisava receber."
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