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Batalha de dólares: quem são os milionários que doam dinheiro a Biden e Trump

Tanto Trump quanto Biden recebem pequenas doações de cidadãos comuns, mas fatia dos bilionários nas campanhas é grande - AFP
Tanto Trump quanto Biden recebem pequenas doações de cidadãos comuns, mas fatia dos bilionários nas campanhas é grande Imagem: AFP

Luis Fajardo

Da BBC Monitoring, em Miami (EUA)

29/09/2020 13h46

As eleições presidenciais dos EUA são, de longe, as mais caras do mundo.

Em 2016, os dois candidatos na época, Donald Trump e Hillary Clinton, gastaram um total de US$ 1,8 bilhão (cerca de R$ 10 bilhões na cotação atual).

Neste ano, Trump e seu novo rival, Joe Biden, provavelmente gastarão mais.

Mas quem paga a conta? A resposta é complexa.

Por um lado, os dois candidatos contam aos quatro ventos que milhares de americanos comuns financiam suas campanhas com pequenas contribuições de US$ 10 (R$ 55) ou US$ 20 (R$ 110) cada. O que é verdade.

Assim como também é verdade que centenas de bilionários fazem grandes doações para suas campanhas, exercendo grande influência na eleição da figura mais poderosa do planeta.

Doadores grandes e pequenos

A Comissão Eleitoral Federal (FEC, na sigla em inglês), órgão do governo que fiscaliza as eleições nos Estados Unidos, afirma que, a partir do dia 22 de setembro, o total de contribuições para as campanhas presidenciais durante o ciclo eleitoral de 2020 deve ter atingido a cifra recorde de US$ 3,1 bilhões (R$ 17,5 bilhões), conforme indicam os dados consultados pela BBC News Mundo, serviço em espanhol da BBC.

Desse montante, US$ 1,07 bilhão (cerca de R$ 6 bilhões) são doações individuais de menos de US$ 200 (R$ 1.100).

Devemos lembrar que as doações diretas aos candidatos são muito limitadas pelas regras eleitorais, que impõem um teto e muitos requisitos de transparência na hora de declará-los.

Mas existe um caminho adicional pelo qual o dinheiro privado chega aos candidatos sem muito controle: os Comitês de Ação Política (PAC, ou Super-PAC, na sigla em inglês), um tipo de organização de arrecadação de fundos para causas políticas, que em princípio deve manter certa independência das campanhas eleitorais dos candidatos.

Por exemplo, um milionário simpatizante do Partido Republicano que já atingiu os limites legais para doações a um candidato específico pode, em vez disso, doar muito mais dinheiro para um Super-PAC de orientação conservadora.

Esse Super-PAC não pode trabalhar diretamente ou totalmente com o candidato, mas pode defender ideias conservadoras e pagar por comerciais de TV com ideias semelhantes.

Os Super-PACs, por estarem sujeitos a menos regulamentação, canalizam uma parte importante dos recursos dos magnatas para as causas políticas de sua preferência.

Neste ciclo eleitoral, eles já arrecadaram US$ 1,4 bilhão (cerca de R$ 7,8 bilhões), segundo dados da FEC citados em um relatório do Center for Responsive Politics, uma ONG americana.

Os bolsos mais cheios

Ironicamente, o político que arrecadou mais fundos diretamente para sua campanha em 2020 é um candidato que não está mais na disputa.

Trata-se do bilionário democrata Michael Bloomberg, que antes de sair da disputa tirou cerca de US$ 1 bilhão (cerca de R$ 5,6 bilhões) de seu próprio bolso para sua fracassada candidatura presidencial.

Trump, por sua vez, informa ter arrecadado US$ 476 milhões (R$ 2,6 bilhões) até agora, enquanto Biden diz ter reunido US$ 531 milhões (R$2,9 bilhões) em contribuições, de acordo com os relatórios mais recentes da FEC.

Ambos os candidatos têm acesso às carteiras de pessoas poderosas.

De acordo com um relatório publicado em agosto pelo The New York Times, o maior doador para a candidatura presidencial de Donald Trump é Timothy Mellon, um enigmático herdeiro bilionário de uma dinastia bancária que já doou US$ 10 milhões (R$ 56 milhões) ao America First Action, uma das organizações que apoiam a reeleição do atual presidente.

Mas Biden não está atrás.

Na verdade, a campanha dele depende mais das grandes contribuições do que a de Trump. Isso parece ir contra a descrição tradicional da política americana em que os republicanos, e não os democratas, são vistos como o partido mais próximo dos grandes capitais.

De acordo com informações do Center for Responsive Politics, até setembro 52% dos fundos de campanha do candidato democrata vieram de grandes doações, em comparação com os 46% de Trump.

Uma reportagem da revista Forbes publicada em agosto deste ano afirmou que 131 americanos com uma fortuna pessoal superior a US$ 1 bilhão (R$ 5,6 bilhões) haviam doado fundos para o candidato democrata, em comparação com "apenas" 99 deles que deram dinheiro para Trump.

Wall Street e Biden

Entre 2019 e 2020, o empresário do setor financeiro e candidato à Presidência derrotado Tom Steyer deu US$ 46,3 milhões (R$ 260 milhões) para campanhas do Partido Democrata, segundo dados do Center for Responsive Politics, citados em reportagem publicada em agosto pela rede pública de notícias dos Estados Unidos, a NPR.

Outro magnata financeiro, Donald Sussman, transferiu US$ 22,6 milhões (R$ 126 milhões) no mesmo período para causas democratas, que incluem disputas presidenciais e parlamentares, diz a NPR.

E em 13 de setembro, o ex-candidato magnata de Wall Street, Bloomberg, anunciou que planejava entregar U$ 100 milhões (R$ 560 milhões) para fortalecer os esforços de Biden no importante Estado da Flórida.

A aspiração presidencial de Biden, é claro, foi fortalecida pela nova proximidade de Wall Street com os democratas.

Entre aqueles que financiam diretamente os esforços de Biden está também o polêmico bilionário nascido na Hungria, George Soros, que, de acordo com a Forbes, doou quase meio milhão de dólares (R$ 2,8 milhões) para a causa democrata.

Mas ele foi superado em generosidade, entre outros, por Jeff e Erika Lawson, proprietários da empresa de computadores e comunicações Twilio, que doaram US$ 1,2 milhão ( R$ 5,6 milhões) para a campanha de Biden.

As maiores doações não são necessariamente as dos mais ricos. Nicole Shanahan, mulher do cofundador do Google Sergei Brin, com fortuna estimada em US$ 65 bilhões (R$ 364 bilhões), deu US$ 25 mil (R$ 140 mil) para a campanha do ex-vice-presidente Biden, diz a Forbes.

A lista de grandes doadores de Biden também inclui celebridades como o diretor de Hollywood Steven Spielberg e Meg Whitman, a ex-chefe do portal de comércio eletrônico eBay.

Alguns bilionários com ascendência hispânica também estão na lista de doadores para Biden.

De acordo com as listas da FEC consultadas pela BBC News Mundo, o cubano-americano Jorge Pérez, magnata do mercado imobiliário muitas vezes descrito como o latino mais rico dos Estados Unidos e que já fez negócios imobiliários com Trump, neste ano deu US$ 2.800 (R$ 15,6 mil) para a campanha de Biden.

De banqueiros a magnatas dos quadrinhos apoiam Trump

Outros magnatas hispânicos preferiram os republicanos.

É o caso de Robert Unanue, da empresa de alimentos Goya, que se envolveu em uma polêmica há poucos meses depois que ativistas hispânicos pediram um boicote a seus produtos pelo apoio que o dono havia oferecido a Trump.

Unanue insiste publicamente em seu apoio ao presidente. Ele inclusive fez uma doação pessoal em agosto de 2019 no valor de US$ 3.000 (R$ 16,8 mil) para o Comitê Nacional Republicano, segundo a contabilidade da FEC.

Outras pessoas com sobrenomes hispânicos nesta lista de doadores incluem os irmãos Jude e Christopher Reyes, empresários bilionários do ramo de distribuição de cerveja nos Estados Unidos, que já prometeram cada um US$ 50.000 (R$ 280 mil) em contribuições para a campanha de Trump, segundo a Forbes.

Os seguidores mais generosos da campanha de reeleição do presidente, além do já mencionado Timothy Mellon, incluem o empresário financeiro Stephen Schwarzman, do fundo Blackstone.

De acordo com a FEC, em 31 de janeiro Schwarzman deu US$ 3 milhões (R$ 16,8 milhões) para o America First Action, um comitê de ação política pró-Trump, além de outras doações para várias causas republicanas.

Outras figuras cruciais apoiando Trump incluem Isaac Perlmutter, um empresário israelense-americano com uma fortuna de US$ 4,2 bilhões (R$ 23,5 bilhões) ligada à empresa-mãe dos quadrinhos de super-heróis Marvel.

De acordo com a Forbes, Perlmutter ofereceu mais de US$ 700 mil (R$ 3,9 bilhões) para a campanha para manter Trump na Casa Branca.

'Do povo'

Os emaranhados de valores da contabilidade eleitoral americana se somam aos inúmeros indícios que apontam para um cenário político complexo no país.

Ambos os candidatos se dizem "do povo".

Ambos são apoiados por centenas de milhares de pessoas comuns que querem dar alguns dólares para defender sua preferência política.

Mas também, Biden, assim como Trump, tem um número significativo de megapoderosos dispostos a investir fortunas em busca da vitória do candidato que eles acreditam que protegerá melhor seus interesses.