O que se sabe sobre atentado que deixou dezenas de mortos, incluindo soldados americanos, no Afeganistão
Local mais visível da tentativa de estrangeiros e afegãos em abandonar o país foi alvo de uma explosão e tiroteio nesta quarta.
Um atentado a bomba foi registrado na quinta-feira (26/8) nas proximidades do aeroporto de Cabul, que se tornou o local mais visível do drama dos afegãos e estrangeiros que tentam fugir do país após a volta do Talebã ao poder. Pelo menos 90 pessoas morreram ? 13 delas eram militares americanos, segundo o Pentágono ? e outras 140 ficaram feridas, disse um alto funcionário da área de saúde à BBC.
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O Pentágono confirmou nesta sexta-feira que apenas uma explosão ocorreu nas imediações do aeroporto, região que estava ocupada por milhares civis e militares americanos e britânicos. Inicialmente, havia a informação de duas explosões, mas ela foi desmentida pelo governo americano.
Também houve relatos de disparos contra a multidão, mas também para o alto - esses teriam sido feitos por membros do Talebã ao tentar dispensar as pessoas.
Segundo John Kirby, porta-voz do Pentágono, mais de 110 mil pessoas já foram retiradas de Cabul até agora pelo aeroporto onde o ataque ocorreu. Cerca de 5.400 permanecem no local, aguardando evacuação, disse Kirby.
Os EUA continuarão a retirar pessoas do país "até o último minuto", disse Kirby, ao ser pressionado por jornalistas sobre o prazo de retirada até 31 de agosto.
Isis-K
O Estado Islâmico reivindicou a autoria dos ataques no aeroporto por meio de seu canal no aplicativo Telegram. O grupo jihadista tem um braço regional atuando no Afeganistão e Paquistão, o Isis-K.
O Isis-K, sigla em inglês para Estado Islâmico da Província de Khorasan, é o mais violento e extremo de todos os grupos militantes jihadistas (que promovem a chamada "guerra santa" muçulmana; entenda) no Afeganistão.
Este braço regional foi criado em janeiro de 2015 no auge do poder do Estado Islâmico no Iraque e na Síria, antes que seu autodeclarado califado no Oriente Médio fosse derrotado e desmantelado por uma coalizão liderada pelos Estados Unidos.
O Isis-K recruta jihadistas afegãos e paquistaneses, especialmente desertores do Talebã que não consideram sua própria organização extrema o suficiente.
Em uma coletiva do Pentágono, o general americano Kenneth McKenzie já havia dito que os dois homens-bomba eram "combatentes do Estado Islâmico". "O ataque ao Abbey Gate foi seguido por vários homens armados que abriram fogo contra civis e forças militares", disse ele.
Questionado sobre como os autores do atentado no aeroporto conseguiram se aproximar das forças americanas, McKenzie disse que "claramente houve uma falha" das forças do Talebã nos postos de checagem das pessoas que vinham de fora do aeroporto. Ele disse que os Estados Unidos vão "tentar melhorar todas as medidas adotadas conforme avançamos".
'Uma menina morreu em minhas mãos'
Há alguns relatos angustiantes sobre o que aconteceu no aeroporto. "Corpos foram jogados em um canal próximo", disse Milad, que estava no local da explosão, à agência de notícias AFP.
"Quando as pessoas ouviram a explosão, houve pânico total. O Talebã então começou a atirar para o ar para dispersar a multidão no portão", disse uma segunda testemunha. "Eu vi um homem correndo com um bebê ferido nas mãos."
Na confusão, a testemunha ? que não foi identificada ? disse que deixou cair os documentos que esperava usar para embarcar com sua esposa e três filhos. "Eu nunca mais vou querer ir (para o aeroporto)", disse a testemunha à AFP.
Um intérprete afegão que trabalhou com as forças americanas descreveu à emissora CBS como tentou ajudar uma menina que acabou morrendo em seus braços.
"Muitas pessoas se machucaram e outras que estavam caídas no chão", disse ele. "Eu vi uma menina lá e fui até ela, peguei-a no colo e comecei a levá-la ao hospital, mas ela morreu nas minhas mãos", disse ele, estimando a idade da criança em cerca de cinco anos.
"Isso é de partir o coração. O que está acontecendo agora é de partir o coração, este país inteiro se desintegrou."
"Eu tentei", continuou o intérprete. "Eu fiz o meu melhor para ajudá-la."
Segundo testemunhas, uma bomba explodiu perto de um canal de tratamento de água, onde afegãos aguardavam. Com a força da explosão, corpos de vítimas foram lançados à água.
Talebã condenou ataques
Dados de inteligência já indicavam a possibilidade de ocorrer ataques suicidas de extremistas no aeroporto, por conta da visibilidade do local, enquanto países tentam evacuar o máximo possível de pessoas até o dia 31 de agosto, prazo determinado para a retirada total dos Estados Unidos do país asiático.
À BBC, o ministro das Forças Armadas britânicas James Heappey havia dito que a ameaça ao local era "grave" e poderia ser "iminente". Por conta disso, os Estados Unidos, a Austrália e outros países haviam advertido seus cidadãos para que não se aglomerassem no aeroporto.
Havia uma grande multidão no local, apesar dos avisos de ataque iminente, que foram ignorados por muitos afegãos desesperados para fugir do Talebã.
Um porta-voz do Talebã, por sua vez, condenou o ataque e afirmou que ele "ocorreu em uma área onde as tropas americanas eram responsáveis pela segurança". Suhail Shaheen, outro porta-voz do Taleban, disse que o grupo está "prestando muita atenção à segurança e proteção de seu povo" em outro comunicado no Twitter.
O secretário-geral da Organização das Nações Unidas (ONU), António Guterres, também condenou o "ataque terrorista que matou e feriu vários civis" em Cabul.
"Este incidente ressalta a volatilidade da situação no Afeganistão, mas também fortalece nossa determinação enquanto continuamos a fornecer assistência urgente em todo o país em apoio ao povo afegão", disse o porta-voz Stephane Dujarric a repórteres, acrescentando que "pelo que sabemos neste momento" não houve vítimas entre funcionários da ONU.
Atentados devem continuar
A escala de tensão no país deve continuar porque é pouco provável que este seja o último atentado, afirma Mike Jason, ex-comandante militar dos Estados Unidos que atuou no Afeganistão.
"Os alvos (como o aeroporto) são muito lucrativos e simbólicos" para militantes radicais que queiram dificultar a evacuação de pessoas, afirmou Jason.
"Eles (militantes) têm os recursos, têm o alcance e têm os alvos ? as multidões de pessoas indefesas que estão desesperadas (para deixar o país)."
"A ameaça do EI é real, e esperamos que esses ataques continuem", disse o general McKenzie.
De fato, como confirmou o repórter da BBC News em Cabul, Secunder Kermani, o aeroporto tem atraído multidões apesar dos alertas prévios de perigo de atentado.
"As pessoas estão em tal estado de desespero que que não vão prestar atenção a esse tipo de informação (sobre riscos de atentados). Estão ouvindo todo tipo de rumores e só o que querem é deixar o país. Muitos acamparam durante dias em condições extremas (no aeroporto)."
O ataque ao aeroporto de Cabul ocorreu no mesmo dia em que vários países anunciaram que estavam interrompendo as evacuações devido à deterioração da situação de segurança.
No entanto, Estados Unidos, Reino Unido e França já anunciaram que vão continuar com suas operações para retirar seus cidadãos do país.
Ao mesmo tempo, muitas pessoas tentam escapar do Afeganistão pela fronteira com o Paquistão.
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