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Brasileiros ficam presos na Ucrânia após conhecerem primeira neta

Brasileiros foram conhecer a primeira neta, nascida na Ucrânia, e não conseguem voltar - Arquivo Pessoal
Brasileiros foram conhecer a primeira neta, nascida na Ucrânia, e não conseguem voltar Imagem: Arquivo Pessoal

26/02/2022 17h49

Além de se preocupar com a segurança da esposa e da filha recém-nascida, o brasileiro Guilherme Donadio, que mora na Ucrânia, tenta ajudar os pais - que estavam visitando a netinha - a encontrar um jeito de voltar para o Brasil. Não há voos, as estradas estão fechadas e há disputa por vagas nos trens que saem do país europeu.

O brasileiro Guilherme Palma Donadio, de 34 anos, mora há 5 anos em Lviv (540 km da capital, Kiev), e tem uma filha recém-nascida com sua esposa Oksana, que é ucraniana. Na madrugada do dia 24 de fevereiro, Guilherme acordou enquanto Oksana amamentava a bebê e acompanhava a notícia de que a Ucrânia estava sendo invadida pela Rússia.

Além da segurança da esposa, da filha, e do cãozinho da família, Guilherme tem uma preocupação extra: seus pais, os brasileiros João Batista e Marilena, também estão no país. O casal havia viajado para a Ucrânia há cerca de um mês para visitar o filho e conhecer a primeira netinha, que havia acabado de nascer.

Agora, enquanto fortes bombardeios atingem a capital, ambos estão presos na Ucrânia sem saber como voltar para casa. O casal não fala inglês nem ucraniano e, segundo Guilherme, não recebeu quase nenhum apoio da embaixada.

Ataque por todos os lados

"Eu tinha certeza que alguma coisa ia acontecer, mas foi uma surpresa o tamanho desse ataque, por todos os flancos possíveis", conta o brasileiro, que tem visto de residência ucraniano e mora perto da fronteira com a Polônia, no oeste do país.

"É uma desgraça", desabafa.

"Eu achava que seria nas regiões de Luhansk e Donetsk (no leste do país) e na Crimeia (no sul). Não em Kiev. (Um país) atacar a capital (de outro país europeu) era algo que não acontecia desde a Segunda Guerra Mundial."

"Meus pais estavam com muito medo, claro. Apesar de morarem em São Paulo com toda a violência que tem aí, bombardeio de avião, de míssil é outra conversa", diz Guilherme.

Por enquanto, Lviv ainda não foi atingida por conflito direto - mas a população aumentou muito, com milhares de pessoas fugindo de regiões onde está havendo bombardeio. A venda de gasolina está limitada, há toque de recolher durante a noite, filas enormes nos mercados e congestionamento nas estradas que levam à cidade.

Com o conflito, os pais de Guilherme - João Batista e Marilena - acabaram ficando presos na cidade, impedidos de voltar ao Brasil. O espaço aéreo está fechado, as estradas estão congestionadas e há uma espera de três dias na fronteira com a Polônia para atravessar.

Os trens que ainda estão fazendo trajeto para a Polônia estão lotados e é muito difícil conseguir vaga - mesmo assim, Guilherme vai tentar conseguir lugares para os pais amanhã.

Eles diz que não quer tentar levar os pais nem pela Hungria nem pela a Romênia pois a rota não é mais segura, devido a conflitos no caminho.

Presos em Lviv

"Ainda temos internet e eletricidade, estamos seguros na medida do possível, mas não sabemos o que vai acontecer", relata o brasileiro.

"Isso pode acabar a qualquer minuto, pode tocar uma sirene aqui e termos um bombardeio."

Segundo Guilherme, a embaixada brasileira entrou em contato, mas seus pais não tiveram nenhum apoio na tentativa de voltar para casa.

"O trem que foi disponibilizado saindo de Kiev é um absurdo. Funciona assim: vocês entram no trem, aí chega na Romênia e é cada um por si só. Não ia ter suporte nenhum", afirma.

"Eu não tenho esperança nenhuma de que a embaixada vá ajudar."

Enquanto tenta encontrar uma solução para o retorno seus pais, Guilherme está separado de sua filha recém-nascida e da esposa - ele as levou para um vilarejo no interior onde a família dela mora.

"Se houver algum tipo de bombardeio ou conflito armado em Lviv, levo meus pais para o vilarejo e ficamos lá", diz. "Mas eles querem voltar para o Brasil."

"Estou apreensivo, mas não tem que entrar em pânico", pontua. "Agora é esperar, manter a calma. Não adianta desesperar."

Embora tente encontrar saída para os pais, Guilherme não tem intenção de voltar para o Brasil por enquanto - sua esposa é ucraniana, sua filha acabou de nascer e ele havia acabado de comprar uma casa.

"Os ucranianos estão resistindo", diz ele. "Vi muita gente se voluntariando para lutar."

A Embaixada do Brasil em Kiev diz em nota que tem trabalhado, desde o agravamento das tensões, para a proteção dos cerca de 500 cidadãos brasileiros na Ucrânia. Diz também que "orienta os brasileiros a seguir as instruções das autoridades locais e acompanhar as notícias."

"Em Kiev, a recomendação para o momento é de se ficar em casa, exceto se houver ativação de sirenes", descreve a embaixada. O posto diplomático declarou também que transmitirá mais orientações ao longo do tempo.


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