Guerra na Ucrânia: quais são os riscos de um conflito nuclear?
No domingo (27), o presidente da Rússia, Vladimir Putin, ordenou que seus comandantes militares colocassem suas "forças de dissuasão" — que incluem armas nucleares — em um "modo especial de dever de combate". Mas o que isso significa?
Segundo analistas ocidentais, não ficou completamente claro. Oficiais britânicos dizem que a linguagem usada por Putin não estava exatamente alinhada com seu entendimento de como funcionam os diferentes níveis de alerta para as armas nucleares russas.
Alguns acreditam que Putin estava determinando uma mudança do alerta mais baixo, "constante", para o próximo nível acima, "elevado" ("perigo militar" e "completo" são níveis ainda mais altos), mas isso não era certo. Cada mudança de nível para cima aumenta a preparação para que os armamentos sejam utilizados.
Muitos, no entanto, interpretaram o movimento de Putin como basicamente uma forma de sinalização pública, em vez de indicar uma verdadeira intenção de usar essas armas - o que o presidente russo sabe que levaria a uma retaliação nuclear do Ocidente. O secretário da Defesa do Reino Unido, Ben Wallace, indicou acreditar que o anúncio tenha sido essencialmente "retórico".
Isso não significa que não existam riscos, e a situação será provavelmente observada de perto.
Isso foi um novo aviso?
Na semana passada, Putin alertou, numa linguagem mais codificada, que, se outros países interferissem nos planos da Rússia, eles enfrentariam consequências do "tipo que eles nunca viram". Isso foi amplamente interpretado como um aviso para a Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte, a aliança militar ocidental) não se envolver militarmente de forma direta na Ucrânia.
A Otan sempre deixou claro que não fará isso, sabendo que isso poderia provocar um conflito direto com a Rússia, o que poderia avançar no caminho nuclear. O aviso do último domingo foi mais direto e público.
Por que o novo aviso?
Putin disse que a nova movimentação foi uma resposta contra "declarações agressivas". Na segunda-feira, o Kremlin afirmou que isso se referia a declarações feitas por oficiais ocidentais, incluindo a secretária das Relações Exteriores do Reino Unido, Liz Truss, sobre possíveis embates e confrontos com a Otan. Oficiais ocidentais também acreditam que o novo aviso foi feito porque Putin cometeu um erro de cálculo em relação à Ucrânia.
O presidente russo pode ter subestimado o tamanho da resistência que ele enfrentaria no campo de batalha na Ucrânia. Ele também teria subestimado o grau de união entre países da Otan numa dura resposta a suas ações. Isso o deixou em busca de novas opções e uma retórica mais dura. "Isso é um sinal de raiva, frustração e decepção", um general britânico que recentemente passou para a reserva disse para mim.
A embaixadora dos Estados Unidos na ONU, Linda Thomas-Greenfield, sugeriu que essa linguagem é parte dos esforços de Putin para justificar a guerra na Ucrânia, alegando que ele não é o agressor, mas aquele sob ameaça e buscando se defender.
Visto dessa forma, o alerta nuclear é uma forma de enfatizar essa mensagem para seu próprio povo. Uma outra forma de ver esse alerta é a ideia de que Putin está preocupado com planos de outros países para fornecer assistência militar aos ucranianos e quer alertar para que não ajudem muito.
Outra maneira ainda é a ideia de que Putin esteja preocupado que as sanções, às quais ele se referiu em seu anúncio, sejam desenhadas para provocar tumultos na Rússia e levar à queda de seu governo. A mensagem geral, porém, parece ser um alerta para a Otan de que, se a aliança se envolver diretamente, os acontecimentos podem se agravar.
Quais são os riscos?
Mesmo se a ameaça de Putin significar um aviso, em vez de sinalizar qualquer desejo de usar as armas, sempre existe o risco de um erro de cálculo se um lado interpreta o outro de forma equivocada, e os acontecimentos saem do controle.
Uma preocupação é de que Putin tenha se tornado isolado e desconectado, com poucos de seus conselheiros dispostos a dizer-lhe a verdade. Alguns temem que seu julgamento esteja se tornando errático. Alguns esperam, no entanto, que se ele realmente fosse longe demais, outros na cadeia de comando possam não estar dispostos a cumprir suas ordens.
Os riscos de um conflito nuclear podem ter aumentado um pouco, mas continuam baixos.
Como o Ocidente está respondendo?
Até agora, governos ocidentais têm sido cuidadosos para não aumentar a tensão, seja na retórica ou em suas ações. As Forças Armadas dos EUA têm seu próprio nível de alerta de prontidão para defesa, conhecido como Defcon. Hoje a secretária de imprensa da Casa Branca, Jen Psaki, disse que não havia "motivo para mudar" seus níveis de alerta nuclear neste momento.
O Reino Unido tem submarinos nucleares armados nos oceanos, e é pouco provável que o governo britânico diga qualquer coisa publicamente. O objetivo parece ser tratar a declaração russa como puro falatório e não elevar as tensões com medidas que pareçam levar a fala a sério demais, além de não tomar atitudes que possam provocar uma resposta russa.
Segundo oficiais de segurança de países da Otan, a situação não é ainda de uma crise nuclear, mas pode se tornar uma.
Como saber o que a Rússia está fazendo?
O secretário da Defesa britânico disse à BBC que o Reino Unido não viu nenhuma mudança ainda na verdadeira postura dos armamentos nucleares da Rússia. Segundo fontes do setor de inteligência, isso será observado de perto.
Durante a Guerra Fria, um enorme aparato de inteligência foi criado para monitorar o arsenal nuclear de Moscou. Satélites, comunicações interceptadas e outras fontes eram analisadas para observar se havia quaisquer sinais de mudanças de comportamento - como preparação de armamentos ou de tripulação de bombardeiros - que ofereceriam um alerta.
Grande parte desse aparato continua em funcionamento, e as atividades russas serão monitoradas de perto para entender se haverá alguma mudança de comportamento. Até agora, nenhum sinal.
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