Líder morto, molotov e tática terrorista: o que se sabe sobre os ataques no RN
O Rio Grande do Norte registrou hoje a segunda madrugada seguida de ônibus incendiados e de ataques a prédios, em episódios com táticas terroristas e apontados como sendo responsabilidade da facção Sindicato do Crime. Cidades como Natal e Mossoró suspenderem o transporte coletivo, aulas em escolas e universidades, coleta de lixo e atendimentos de saúde.
Veja o que se sabe sobre os ataques
Novas ações
Em Natal, quatro ônibus de turismo que estavam em uma garagem foram incendiados, em um prejuízo estimado em R$ 500 mil. Além disso, criminosos atacarem um motorista e atearam fogo em seu carro.
Na praia de Pipa, criminosos atiraram contra a base policial e tentaram incendiar o local, e em Nova Cruz, São Tomé e Pureza, ônibus foram incendiados. Incidentes também ocorreram em Santa Cruz e em Riachuelo, onde a polícia conseguiu impedir que criminosos ateassem fogo à sede do Conselho Tutelar.
Envio da Força Nacional
Atendendo a um pedido da governadora do RN, Fátima Bezerra (PT), o ministro da Justiça e Segurança Pública, Flávio Dino, autorizou na terça-feira o envio de agentes da Força Nacional ao estado.
Serão destacados 220 policiais - número que poderá sem ampliado - e 30 viaturas. O primeiro grupo chegou a Natal já na madrugada de hoje.
A Polícia Rodoviária Federal também irá reforçar o patrulhamento em rodovias no interior do estado para controlar a circulação de criminosos, e 30 policiais penais de Porto Velho (RO) serão deslocados nesta quarta-feira para Mossoró (RN), segundo maior município do estado e que abriga um presídio federal.
Nas redes sociais, Fátima Bezerra disse que todo o efetivo estadual atua, desde a madrugada de terça-feira, para conter os ataques e prender os envolvidos:
Vamos trabalhar juntos, governo estadual e federal, para garantir a segurança da população do Rio Grande do Norte. Os criminosos estão sendo localizados e presos para prestar contas à justiça. Não cederemos um milímetro e para restabelecer a paz e a ordem no Estado.
Prisões e alvos
De acordo com a Polícia Militar do RN, 28 pessoas já foram presas desde o início dos ataques e um homem morreu em um confronto com a polícia. Foram encontrados 30 coquetéis molotov.
Embora novos ataques tenham sido registrados na madrugada desta quarta-feira e ao longo da terça, os maiores e mais destrutivos ocorreram entre meia-noite e às 2h de terça-feira em 14 cidades do Rio Grande do Norte.
Os criminosos atiraram e incendiaram prédios públicos, estabelecimentos comerciais e veículos. Entre os alvos dos criminosos estavam ônibus escolares e do transporte coletivo, bancos, postos de combustíveis, lojas e caminhões de coleta de lixo.
A Secretaria Estadual da Segurança e Defesa Social (Sesed) do RN disse que não iria dar detalhes sobre locais, quantidade ou tipos de ocorrências, alegando a preservação do trabalho de inteligência e investigação. No entanto, levantamento feito pelo jornal Tribuna do Norte mostra que, em menos de 24 horas, pelo menos 22 cidades sofreram ataques - a maior parte ocorreu em Natal e na Grande Natal.
Quem ordenou os ataques
Segundo autoridades estaduais, os ataques são uma retaliação a ações repressivas do governo ao crime organizado, que resultaram em prisões de criminosos e apreensões de drogas e armas nas últimas semanas, e uma forma de pressionar por "regalias" a prisioneiros, como a volta de visitas íntimas, ventiladores e TVs nas celas e acesso a celulares.
O ministério da Defesa informou que um preso - suspeito de ser um dos mandantes - foi transferido da penitenciária de Alcaçuz para o presídio federal em Mossoró, administrado pela Secretaria Nacional de Políticas Penais. Ele é acusado de liderar o Sindicato do Crime, facção do RN fundada em 2013.
Após os ataques, a Secretaria de Estado da Administração Penitenciária (Seap) suspendeu as visitas de familiares e atendimento para advogados em todas as unidades prisionais do RN.
Ônibus parados e escolas fechadas
Na manhã de hoje, os ônibus do transporte público de Natal voltaram a circular, informou a Secretaria Municipal de Mobilidade Urbana. Os coletivos haviam parado na tarde de terça-feira devido à insegurança.
Em Nota, o Sindicato dos Transportes Rodoviários do RN (Sintro) repudiou os ataques e sugeriu a formação de um gabinete de crise, com a participação de representantes do setor. Os rodoviários pedem mais segurança nos principais corredores da cidade e policiamento ostensivo nos principais terminais.
Boa parte das escolas particulares de Natal, assim como universidades públicas e privadas, optaram por suspender as aulas nesta quarta-feira devido ao cenário de insegurança nas ruas e à incerteza sobre o funcionamento dos transportes públicos.
A prefeitura de Natal também suspendeu os atendimentos em unidades básicas de saúde, nas policlínicas e nos centros de atendimentos psicossocial e as aulas da rede municipal. Além disso, desde a noite desta terça-feira, também está suspensa na cidade a coleta de lixo.
A Associação Brasileira de Bares e Restaurantes no Rio Grande do Norte (Abrasel/RN) disse que vários estabelecimentos optaram por não abrir na terça-feira, devido à insegurança e à não circulação de ônibus.
A Câmara de Dirigentes Lojistas de Natal (CDL Natal) orientou os empresários a reforçarem a segurança das empresas e dos colaboradores e sugeriu que os estabelecimentos fechassem mais cedo, devido à falta de ônibus.
Em Mossoró, também foram suspensas as atividades nas escolas municipais, nas unidades de assistência social, os atendimentos nas Unidades Básicas de Saúde (UBSs), o transporte coletivo e os serviços de limpeza urbana.
Outros ataques semelhantes ocorreram no Rio Grande do Norte em 2011, 2015, 2016, 2017 e 2018, sempre envolvendo ordens de facções criminosas.
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