Como a primeira letra do seu nome pode influenciar na sua profissão e cidade
Nomen est omen —o nome é um presságio. Uma pesquisa publicada na revista Journal of Personality and Social Psychology aparentemente confirmou esse velho provérbio latino. Baseados da hipótese do "determinismo nominativo", cientistas da Universidade de Utah investigaram se a primeira letra do nome de batismo dita mais a trajetória de cada vida do que se pensa.
A ideia é que há uma conexão peculiar entre o nome de batismo e a profissão que alguém adota, ou a cidade em que decide viver: inconscientemente, se daria preferência às opções que partilham a mesma inicial.
Os cientistas empregaram técnicas de processamento de linguagem natural, mais especificamente algoritmos de incorporação de palavras como Word2vec e GloVe, treinados pela análise do grande volume de dados em fontes como a plataforma X (ex-Twitter), a Google News, Google Books e o extenso banco de dados Common Crawl.
Estudos anteriores já haviam assinalado indícios de determinismo nominativo, mas sofreram críticas por seu âmbito ser limitado a umas poucas profissões e nomes. A atual pesquisa envolveu mais de 3.400 nomes do banco de dados da Administração de Seguridade Social dos Estados Unidos, 508 profissões e 14.856 cidades.
Dennis, o dentista de Denver
A conclusão foi que, estatisticamente, alguém chamado Dennis tenderá, de fato, mais a ser dentista do que advogado, ou a viver em Denver, em vez de Cleveland. O fenômeno poderia estar relacionado ao que os pesquisadores denominam "egoísmo implícito", a tendência humana de ter sentimentos positivos para com elementos relacionados consigo mesmo —inclusive as letras do próprio nome.
O estudo indicou que a atração do nome não se reflete apenas em decisões pontuais, mas se estende ao longo do tempo e varia entre os gêneros: enquanto os homens exibem um padrão consistente há décadas, as mulheres apresentavam muito menos determinismo nominativo no passado. Previsivelmente, esse efeito se intensificou à medida que elas ganharam mais liberdade para definir suas carreiras — e destinos.
Além disso, enquanto as mulheres mostram preferência pela inicial de seu primeiro nome, os homens tendem a favorecer o sobrenome. Uma explicação possível é a tradição - hoje bem menos rígida — de elas mudarem o sobrenome ao se casarem, enquanto em princípio manterão o nome de batismo por toda a vida.
Hipótese nasceu de uma quase brincadeira
A hipótese do determinismo nominativo foi lançada em 1994, de modo informal e antes humorístico, pela revista New Scientist, ao se notar que certos estudos científicos eram realizados por pesquisadores com nomes notavelmente apropriados —como o livro sobre exploração polar de um certo Daniel Snowman ("homem da neve"), ou o urologista de sobrenome Weedon ("to have a wee" é "fazer xixi").
O psicólogo Carl Gustav Jung (1875-1961) já especulara com a ideia de que há uma tendência de gravitar em direção a profissões que combinam como o próprio nome. Como exemplo, ele elegeu o pai da psicanálise, Sigmund Freud: Freude é "alegria" em alemão.
Mais além do que sugerem os cientistas de Utah, certas referências anedóticas dos meios de comunicação reforçam indiretamente a hipótese do determinismo nominativo, sugerindo não se tratar de mera coincidência. Um exemplo real seria o corredor Usain Bolt (bolt significa "raio" em inglês), ou a apresentadora da meteorologia Sarah Blizzard, cujo sobrenome quer dizer "nevasca".
Na prática, contudo, o determinismo nominativo tem um efeito relativamente restrito: a maioria dos seres humanos não tem a chance de escolher a profissão nem de viver na cidade que tem a sua inicial. Mas a noção de que um componente pré-determinado pode influenciar em decisões cruciais e, no fim das contas, codefinir uma existência, acrescenta uma dimensão intrigante à noção de destino e àquilo que se denomina "identidade".
11 comentários
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Jose Carlos Caldas da Silva
Fico imaginando se o fato do sobrenome mais comum no Brasil ser SILVA ("Selva" em Latim) tenha alguma relação com a nossa tradição de hábitos "pouco civilizados".
Fernando de Camargo Ferreira
Quanta bobagem ! BRASIL UM PAIZECO de TODOS
Andre Baptista Gelio
E o pior é que se autodenominam cientistas. Pior ainda. Tem veículo de mídia que acredita nisso e publica! Psicologia não é ciência, mas interpretação pessoal de fatos e/ou sonhos