Bo Xilai é enérgico na primeira sessão de julgamento com tom teatral na China
Longe de se mostrar calmo, o ex-líder comunista Bo Xilai, acusado de suborno, desvio de verba e abuso de poder, respondeu nesta quinta-feira (22) de forma combativa às acusações apresentados durante a primeira sessão de um julgamento carregado de pompa e circunstância.
Cuidadosamente barbeado --alguns diziam que poderiam apresentá-lo com uma barba longa para aumentar a humilhação pública-- com olheiras e envelhecido.
Foi como Bo apareceu em sua primeira imagem oficial desde que foi destituído de seu cargo como dirigente da cidade de Chongqing há 17 meses.
Apesar do aspecto magro, o ex-político surpreendeu por sua determinação e veemência ao negar várias acusações na audiência que começou hoje no Tribunal Popular Intermediário de Jinan, capital da província oriental chinesa de Shandong.
Entre elas, negou ter aceitado subornos do empresário Tang Xiaolin e assegurou que, se havia se declarado culpado antes dessa acusação, havia sido "sem querer".
"Não é verdade que Tang me deu dinheiro três vezes", assinalou.
Bo é acusado, entre outras acusações detalhadas hoje, de ter recebido subornos no valor de 21,8 milhões de iuanes (R$ 8,7 milhões) entre 2000 e 2012 de dois empresários de Dalian (nordeste), Tang Xiaolin e Xu Ming.
Embora tivesse assumido a responsabilidade legal, Bo afirmou enfaticamente que à época sua "mente estava em branco" e que "desconhecia os detalhes", e definiu Tang como "cachorro raivoso".
Além disso, negou ter recebido dinheiro do empresário e amigo da família Xu Ming, um construtor que enriqueceu durante a prefeitura de Bo em Dalian e depôs hoje.
De acordo com alguns jornais, Xu, um dos homens mais ricos da China, teria pagado em troca ao filho do ex-dirigente, Bo Guagua, seus estudos nas universidades de Harrow, Oxford e Harvard, além de viagens luxuosas a badalados destinos turísticos na África.
Sempre negando, Bo chamou de "ridículo" um depoimento atribuído a sua mulher, Gu Kailai --presa há um ano pelo homicídio do empresário britânico Neil Heywood-- lido hoje pela Procuradoria.
O texto ressalta que Gu admitiu que usou US$ 80 mil e centenas de milhares de iuanes que o casal guardava em caixas-fortes compartilhadas durante uma estadia no Reino Unido enquanto o filho dos dois estudava no país.
Bo afirmou que Gu tinha sua própria renda, enquanto seus advogados defensores alegaram que a mulher sofre de doença mental e portanto seu depoimento não deveria ser admitido no processo.
Todos esses detalhes da audiência foram divulgados pela conta do próprio tribunal no Weibo --o "Twitter chinês"-- que se tornou a principal fonte de informação de um julgamento em que foi permitida a presença de apenas 15 jornalistas.
Apesar da "informatização" e do esforço de Pequim para exibir um processo transparente e independente, o resultado se aproxima mais de uma peça de teatro do que de uma audiência convencional.
Em apenas um quilômetro quadrado de distância e com o tribunal como epicentro, as autoridades chinesas permitiram a cobertura dos mais de 200 jornalistas estrangeiros credenciados através de rigorosos métodos de registro, a instalação de salas de imprensa e a adaptação de espaços para filmar próximos à corte.
Apenas alguns episódios escaparam hoje da milimétrica organização, como os gritos de vários defensores de Bo que se aproximaram dos tribunais para defender o ex-líder.
Embora a polícia tenha resolvido de forma relativamente pacífica a polêmica - retirando alguns dos mais "exaltados" em furgões - e tenham sido episódios pontuais, refletem o medo do Partido Comunista de perder o controle dos detalhes do julgamento e o apoio que o carismático ex-líder ainda tem.
Bo, que até março do ano passado sonhava em chegar ao Executivo, ocupa o banco dos réus depois que em fevereiro de 2012 seu "braço direito", Wang Lijun, buscou asilo em um consulado americano e revelou o envolvimento de Gu no homicídio de Heywood.
Enquanto Gu cumpre pena de morte suspensa (na prática, prisão perpétua) e Wang, 15 anos de prisão, Bo é acusado ainda de ter se apropriado de 5 milhões de iuanes (mais de R$ 2 milhões) de fundos públicos para um projeto confidencial, e de abuso de poder entre 1999 e 2006 como prefeito e secretário-geral do Partido Comunista em Dalian e como ministro do Comércio.
Embora se espere que o veredicto não seja revelado até setembro, a audiência continuará amanhã, sexta-feira, sob o mesmo controle rigoroso. Resta saber se Bo dará novamente a cara a tapa no julgamento.