Ex-presidente liberiano é 1º líder africano condenado por corte internacional

Elise Zoker

Em Monróvia (Libéria)

  • Koen van Weel/Reuters

    Charles Taylor no Tribunal Especial para Serra Leoa, onde foi condenado a 50 anos de prisão

    Charles Taylor no Tribunal Especial para Serra Leoa, onde foi condenado a 50 anos de prisão

O ex-presidente da Libéria Charles Taylor se tornou nesta quinta-feira (26) o primeiro líder africano a ser condenado por um tribunal internacional, recebendo pena de 50 anos de prisão por crimes de guerra e contra a humanidade durante a guerra civil de Serra Leoa (1991-2002), que deixou 50 mil mortos.

A sentença emitida em primeira instância pelo Tribunal Especial para Serra Leoa (TESL) é "justa e razoável e será aplicada imediatamente", disse hoje o juiz responsável pelo caso ao verificar a condenação e antes de acrescentar que Taylor não mostrou arrependimento "sincero" por seus crimes.

O ex-chefe de Estado da Libéria (entre 1997 e 2003) foi considerado "penalmente responsável" por dar armas, em troca de diamantes, aos rebeldes da Frente Revolucionária Unida (FRU) de Serra Leoa, que mataram, mutilaram e escravizaram dezenas de milhares de pessoas, segundo a sentença.

Ex-guerrilheiro, Taylor nasceu no dia 29 de janeiro de 1948 em Arthington, a 25 quilômetros a nordeste da capital liberiana, Monróvia.

Após cursar a faculdade de Economia na Universidade de Boston (EUA), voltou à Libéria em abril de 1980, depois do golpe de Estado militar, para se unir ao governo de Samuel Doe, no qual era responsável por controlar as aquisições do Estado.

No entanto, Taylor durou pouco tempo no cargo, já que em 1983 foi acusado de desviar cerca de US$ 1 milhão para uma conta nos EUA, depois de fugir para esse país, onde foi detido e preso.

Mas em 1985, Taylor conseguiu escapar da prisão com outros quatro presos e decidiu se exilar na Líbia, onde contou com a proteção de Muammar Gaddafi, e mais tarde na Costa do Marfim, onde fundou as Forças Nacionais Patrióticas da Libéria (FPNL).

No dia 24 de dezembro de 1989, mais de quatro anos depois de fugir da prisão nos EUA, Taylor reapareceu na cidade marfinense de Nimba, na fronteira com a Libéria, à frente das FPNL, e entrou com suas tropas no país africano em uma tentativa de derrubar Doe, que acabou sendo assassinado em setembro de 1990.

Este golpe desencadeou a Primeira Guerra Civil da Libéria (1990-1995), com milhares de mortos e quase um milhão de refugiados.

Após a intervenção da ONU e da Comunidade Econômica de Estados de África Ocidental (Cedeao), várias facções envolvidas no conflito assinaram em Abuja (Nigéria) um acordo de paz no dia 20 de agosto de 1995 pelo qual foi criado um órgão de transição que dirigiu o país até as eleições de julho de 1997.

Taylor, à frente sua nova legenda, o Partido Nacional Patriótico (PNP), se impôs na eleições com 75,32% dos votos apesar do slogan de sua campanha: "Matou minha mãe, matou meu pai, mas mesmo assim votarei nele".

Segundo analistas do país africano, a razão pela qual Taylor ganhou as eleições com a Presidência liberianas de maneira tão contundente foi sua campanha de terror e o medo da população que este iniciasse uma nova guerra civil se fosse derrotado.

Durante seu mandato, Taylor forneceu armas aos rebeldes do FRU, um dos grupos protagonistas da guerra civil de Serra Leoa, que assassinou e mutilou dezenas de milhares de pessoas e que escravizou outras tantas para explorar as minas de diamantes do país.

Em troca, Taylor recebia do FRU estas pedras preciosas, que passaram a ser conhecidas como "diamantes de sangue".

Em maio de 2001, a ONU impôs sanções à Libéria e, dois anos mais tarde, em junho de 2003, o Tribunal Especial de Serra Leoa, criado em 1996 e apoiado pelas Nações Unidas, acusou Taylor de crimes de guerra e contra a humanidade.

No dia 1º de agosto de 2003, a ONU aprovou o envio de uma força multinacional de paz ao país e, no dia seguinte, Taylor anunciou sua renúncia, após a qual começou seu exílio em Calabar (Nigéria).

Em 29 de março de 2006, Taylor foi detido quando pretendia fugir, ao saber que o governo nigeriano tinha aceitado sua deportação, e entregue às autoridades liberianas.

No mesmo dia, foi transferido a Freetown (Serra Leoa), onde foi preso, e pouco depois o governo holandês aceitou que o julgamento fosse realizado em Haia.

No dia 20 de junho de 2006, Taylor chegou a Haia para ser julgado por 11 acusações de crimes de guerra e contra a humanidade, entre eles o assassinato e mutilação de civis, uso de mulheres e crianças como escravas sexuais e recrutamento forçado de crianças e adultos em troca de contrabando.

O julgamento começou em junho de 2007 e nele declararam mais de 110 testemunhas, entre elas a modelo Naomi Campbell, a quem o ditador teria presenteado supostamente com "diamantes de sangue".

Em março de 2011, o julgamento ficou visto para sentença, e em abril deste ano, o TESL pronunciou o veredicto que hoje foi ratificado.

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