Governo comemora e oposição critica primeira reunião de diálogo na Venezuela
A primeira reunião para o diálogo entre governo e oposição na Venezuela realizada nesta quinta-feira (10) foi seguida nesta sexta-feira (11) por um dia de reflexão com louvores, críticas e comentários céticos sobre sua efetividade para resolver a crise política no país.
A conversa, que contou com a presença do presidente Nicolás Maduro, de outros representantes do chavismo e de membros da aliança de oposição MUD (Mesa de la Unidad Democrática, ou mesa da unidade democrática), além de chanceleres da Unasul e do núncio apostólico do Vaticano, terminou com o acordo para a realização de outro encontro na próxima terça-feira.
Maduro afirmou que o debate foi "excelente" e que se tratou de "um passo crucial para a paz", além de ter agradecido à oposição "por ter decidido" participar e à delegação de dirigentes chavistas que discursaram no encontro.
"É melhor aprendermos a nos conhecer, a nos reconhecer, eu peço que todos nos reconheçamos e que continuemos construindo sistemas de coexistência das visões distintas dos venezuelanos, de convivência pacifica", declarou.
Mais cedo, o vice-presidente venezuelano, Jorge Arreaza, que serviu como moderador no encontro, disse que "todos estão contentes com a reunião de ontem".
O líder da oposição, Henrique Capriles, condicionou o sucesso da reunião ao afirmar nesta sexta-feira que o diálogo depende muito mais do Executivo, e exigiu que o mesmo responda com ações para que o país acredite nesse processo.
Capriles, governador do estado de Miranda e ex-candidato presidencial, disse que "o grande desafio" neste momento é que "o país todo acredite no processo de diálogo".
"Como se consegue isso? Com atitudes, com resultados. Se não há resultados, ficará apenas no discurso e será uma frustração muito grande para nosso povo", acrescentou o líder opositor, que na quinta-feira discursou na reunião para fazer uma série de reivindicações.
O deputado opositor Julio Borges disse nesta sexta-feira em entrevista à emissora "CNN" que o encontro da quinta-feira "não foi um diálogo, mas um debate" e agradeceu a possibilidade de dizer em rede nacional obrigatória de rádio e televisão a posição de seu grupo de forma "transparente" para todos os venezuelanos.
Borges afirmou que vai continuar participando dessas iniciativas, sem deixar de lado os protestos de rua, porque "é preciso seguir pressionando" o governo que, disse, é quem tem a possibilidade de promover as mudanças, já que detém o poder e a maioria parlamentar.
"É preciso buscar a complementaridade entre o protesto nas ruas, constitucional, pacífico, popular, grande e, ao mesmo tempo, a agenda com temas concretos para protestar. Diálogo sem pressão social não leva a nenhum lugar e a pressão social sem agenda também não", opinou o legislador.
Já o presidente da Assembleia Nacional (AN, Parlamento), o chavista Diosdado Cabello, e a dirigente de oposição María Corina Machado expressaram nesta sexta-feira sua rejeição ao diálogo depois que desqualificaram seus adversários.
Enquanto Cabello disse que os que se sentaram para dialogar na quinta-feira com o governo "são os mesmos" que deram o golpe de Estado em 2002 contra o presidente Hugo Chávez, a líder opositora afirmou que o diálogo proposto é uma "farsa" para dividir a oposição.
"Nós sabemos quem são e estamos nos sentando com eles pela paz deste país", disse Cabello, que chamou Capriles de "arrogante burguês" por chamar Maduro pelo nome durante a reunião e declarou que "os que estavam sentados ontem" são "os mesmos que estão nas ruas incitando a violência".
María Corina, que foi destituída recentemente de seu cargo como deputada pela maioria chavista do parlamento, afirmou nesta sexta-feira: "Se (os chavistas) acreditavam que com esta farsa de diálogo iriam enganar a comunidade internacional, estão enganados".
A primeira reunião para o diálogo ocorreu quando estão prestes a completar dois meses de protestos antigovernamentais e que, de acordo com a informação que divulgada nesta sexta-feira pela procuradora-geral da Venezuela, Luisa Ortega, deixou 41 mortos e 674 feridos até o momento.
"Temos até agora 41 pessoas mortas... 32 civis e nove funcionários públicos e policiais militares", especificou Luisa.