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Eleições têm propaganda, luzes, dinheiro e rock & roll como temperos

29/01/2016 19h44

Beatriz Pascual Macías.

Washington, 29 jan (EFE).- Como estrelas do rock, os candidatos à presidência dos Estados Unidos sobem em palanques ao som de gritos de entusiasmo por parte de seu público e tendo como pano de fundo luminosas mensagens propagandísticas que apelam em prol dos valores tradicionais da família, do igualitarismo e do capitalismo, mas que agora tomam novas formas.

"A grande mudança no mundo da propaganda foi a internet", disse à Agência Efe Jim Warlick, um apaixonado por comunicação política que fabricou as placas e adesivos de 13 concorrentes à Casa Branca, entre eles o presidente Bill Clinton e seu vice-presidente e candidato a sucedê-lo nas eleições de 2000, Al Gore.

Em entrevista em sua loja, perto da Casa Branca, Warlick lembrou as engenhosas formas que a publicidade usou ao longo do tempo: desde uma chaleira de Ronald Reagan até um cartaz de John F. Kennedy com um sol e um arco-íris, que apresenta todas as pessoas como iguais sob o astro rei.

"Os roqueiros e candidatos à presidência o povo conhece pela televisão. Parte do país ama o entretenimento, vê a política e as eleições como entretenimento. Não é coincidência que Ronald Reagan tivesse sido ator ou que Donald Trump seja um showman", argumentou.

E não há ninguém como os americanos para transformar as eleições em uma forma de fazer negócio e em um espetáculo.

Por isso, a popular banda de indie rock Vampire Weekend vai tocar neste sábado em Iowa City aproveitando o decisivo caucus (assembleias populares) deste estado para apoiar Bernie Sanders, segundo colocado nas pesquisas pela indicação democrata e que, apesar de seus 74 anos, conseguiu aglutinar uma juventude ansiosa por mudanças.

O lendário Red Hot Chili Peppers também quer se unir à festa e decidiu realizar em 5 de fevereiro, em Los Angeles, um show para apoiar Sanders, que se define como "socialista".

Seja o ritmo que for, para Warlick, o dinheiro foi há muito tempo um dos componentes principais das campanhas políticas nos Estados Unidos.

"É incrível a quantidade de dinheiro que muita gente põe na corrida presidencial. O dinheiro e a influência do dinheiro foram tremendos", afirmou Warlick, que destaca o protagonismo dos grupos de ação política conhecidos como "SuperPAC" e que permitem que grupos independentes arrecadem dinheiro para os candidatos.

Anthony Corrado, professor de Política no Colby College, em Maine, estimou que estas serão as eleições presidenciais com a maior despesa em propaganda da história.

Segundo seus cálculos, no final deste pleito os candidatos dos partidos Democrata e Republicano terão gastado US$ 4,5 bilhões só em publicidade, significativamente mais do que em 2012, quando o total foi de US$ 3,8 bilhões.

A maior parte desta verba é destinada aos anúncios de TV, muito caros e elaborados tanto para dar uma nova imagem a candidatos como Hillary Clinton, como para atacar os oponentes, como fez recentemente Trump com o senador Ted Cruz, a quem criticou por ser "brando" no tema imigração.

Segundo Corrado, os candidatos precisam da televisão para poder chegar a uma ampla base de eleitores que não costuma se envolver na vida política, embora cada vez esteja utilizando com maior frequência Twitter e Facebook, redes sociais que o presidente Barack Obama transformou em elementos fundamentais de suas campanhas em 2008 e 2012.

"Este pleito mudou o uso do Twitter e do Snapchat não só para chegar aos eleitores, mas também para criar histórias. Nisso Trump teve muito sucesso, porque através de um tweet conseguiu captar os veículos de comunicação", apontou Corrado.

Para ele, um fenômeno único destas eleições é justamente a figura do magnata, que lidera as pesquisas entre os concorrentes republicanos, mas gastou em publicidade menos que seus oponentes, já que conseguiu monopolizar metade da cobertura midiática.

Do lado oposto está Jeb Bush, irmão e filho de ex-presidentes, que gastou muito mais que qualquer outro candidato em publicidade, desde adesivos para carros a cartazes para jardins, mas que no entanto não conseguiu traduzir essa despesa em uma maior popularidade.