Topo

Reino Unido e Irlanda querem manter fronteiras abertas apesar do "Brexit"

26/07/2016 13h59

Judith Mora.

Londres, 26 jul (EFE).- O Reino Unido e a República da Irlanda "têm a vontade" de manter abertas as fronteiras entre ambos os países apesar da eventual saída do território britânico da União Europeia (UE).

A primeira-ministra britânica, Theresa May, e o colega irlandês, Enda Kenny, se comprometeram em reunião em Londres a negociar um acordo que permita preservar a chamada Área de Viagem Comum, que engloba Reino Unido, Irlanda, Ilha de Man e o canal da Mancha e permite a circulação de pessoas sem controles de identificação.

Durante o primeiro encontro na capital britânica desde que May assumiu o cargo, no dia 13 de julho, os dois também ressaltaram a importância de "continuar a impulsionar o processo de paz" da Irlanda do Norte.

Ao término da reunião em 10 Downing Street, May e Kenny concederam uma entrevista coletiva conjunta na qual condenaram o ataque desta terça-feira na igreja francesa de Saint-Étienne-du-Rouvray, que terminou com as mortes de um sacerdote e dos dois autores do crime.

Sobre a livre circulação de pessoas nas Ilhas Britânicas, May afirmou que ninguém deseja ver novamente as fronteiras com os rígidos controles do passado e ressaltou que "há uma grande vontade" de se preservar a liberdade de movimento.

"Como disse ontem (segunda-feira, em visita a Belfast), todos nos beneficiamos de uma área de viagem comum durante muitos anos, antes que nossos dois países se tornassem membros da UE. Há uma grande vontade de ambas as partes de preservar isto, e, portanto, devemos negociar um acordo que seja de interesse comum", comentou.

Para possibilitar isso, May detalhou que é necessário "continuar com os esforços para reforçar as fronteiras externas da Área de Viagem Comum, por exemplo, com foco na utilização compartilhada dos dados de passageiros".

Kenny lembrou que a Irlanda é o único país da UE que compartilha uma fronteira terrestre com o Reino Unido e ressaltou que não há interesse em retornar ao estabelecimento de rigorosos controles fronteiriços como os que foram impostos durante os anos de conflito armado na Irlanda do Norte.

Embora a Área de Viagem Comum tenha sido iniciada nos anos 20, os controles nas fronteiras aumentaram durante essa época de conflitos e voltaram ficar mais leves após a assinatura dos acordos de paz norte-irlandeses.

O primeiro-ministro irlandês reiterou que o voto favorável à saída da União Europeia no referendo britânico do dia 23 de junho "não era o resultado que a Irlanda queria", mas disse que trabalhará com Londres "para conseguir o melhor resultado nas próximas negociações".

May, que na campanha da consulta defendeu a permanência, mas com reservas, disse que o Reino Unido pode fazer com que "o Brexit seja um sucesso" e permita "ir para a frente, e não retroceder", embora tenha admitido a "complexidade" dos assuntos em pauta.

Como parte do Reino Unido, a Irlanda do Norte, embora tenha votado a favor da permanência na UE (da mesma forma que Escócia), está submissa às condições do "Brexit", enquanto a República da Irlanda continua sendo membro pleno do bloco comunitário.

Desde que foi eleita, May se dedicou a visitar todas as autonomias britânicas - além de Inglaterra, Escócia, Irlanda do Norte e Gales - para garantir que serão levadas em conta nas futuras negociações com Bruxelas para pactuar os termos da saída.

A primeira-ministra britânica também teve encontros bilaterais com a chanceler alemã, Angela Merkel, e o presidente francês, François Hollande, para se mostrar disposta a seguir colaborando apesar de deixar o bloco.

May antecipou que não invocará o Artigo 50 do Tratado de Lisboa, que dará início às negociações para o "Brexit", até que seu governo tenha um roteiro claro, o que deve acontecer no final deste ano ou no início de 2017.