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Finlândia, a "Cinderela nórdica", comemora centenário da independência

06/12/2017 10h01

Juanjo Galán.

Helsinque, 6 dez (EFE).- A Finlândia comemora nesta quarta-feira o centenário de sua independência, orgulhosa de ter sido capaz de manter sua soberania frente ao gigante vizinho russo e do milagre econômico que a transformou em um dos países mais prósperos e socialmente avançados do mundo.

A história desta "Cinderela nórdica" é marcada pela assombrosa capacidade de superação dos finlandeses, uma virtude que lhes permitiu se recuperar com relativa rapidez das quatro guerras que lutaram ao longo do último século e sair delas fortalecidos como nação.

Quando o parlamento finlandês declarou a independência, em 6 de dezembro de 1917, o país nórdico, então um Grão-Ducado pertencente ao Império Russo, era uma das regiões mais atrasadas da Europa e três de cada quatro de seus habitantes viviam em condições de pobreza, segundo os historiadores.

A declaração da independência não provocou nenhum conflito com a vizinha Rússia, onde um mês antes a revolução bolchevique havia triunfado, embora na Finlândia tenha ocorrido uma breve, porém sangrenta, guerra civil entre os Brancos - os conservadores -, e os Vermelhos, partidários de criar um Estado socialista.

O próprio Lênin foi o primeiro líder mundial a reconhecer a independência da Finlândia, convencido de que a revolução bolchevique também triunfaria por lá e o antigo Ducado se uniria voluntariamente à União Soviética.

No entanto, a vitória dos Brancos representou o paulatino distanciamento da recém criada república nórdica do gigante do leste e sua aproximação aos países da Europa ocidental, especialmente a Alemanha.

Após a explosão da Segunda Guerra Mundial, a Finlândia se viu envolvida em três conflitos em pouco mais de cinco anos; dois contra a União Soviética, que, apesar de vencer ambas, fracassou em sua tentativa de invadir o país nórdico, e outro para expulsar do seu território - por exigência soviética - as tropas nazistas, seus antigos aliados.

Além de ceder à União Soviética 10% de seu território próximo à fronteira, a Finlândia teve que pagar durante décadas indenizações de guerra e permitir que Moscou supervisionasse sua política externa, um fenômeno conhecido como "finlandização", embora tenha conseguido conservar sua independência.

"As indenizações de guerra terminaram sendo algo positivo para a Finlândia, pois a obrigaram a desenvolver e diversificar sua indústria e a criar a base para boas relações comerciais com a Rússia, que foram mantidas após a quitação dessa dívida", explicou à Agência Efe Jussi Pakkasvirta, professor da Universidade de Helsinque.

O final da Guerra Fria e o desmembramento do bloco soviético deram fim à "finlandização" e permitiram que o país nórdico se voltasse definitivamente para o Ocidente, com sua entrada na União Europeia (UE) em 1995 e a aproximação à OTAN através do programa Associação pela Paz.

Hoje, cem anos depois de conseguir sua independência, a Finlândia é um dos países que lideram os índices internacionais que medem o nível de vida, a inovação, a qualidade da educação e a justiça social, entre outros aspectos.

Segundo Pakkasvirta, estas conquistas fazem com que os finlandeses "estejam muito orgulhosos, mas sem serem arrogantes".

As principais razões do sucesso finlandês - segundo apontou - são a educação e a igualdade, assim como o amplo consenso político, que permitiu gerar uma grande estabilidade.

"Aqui não existe o bipartidarismo. Temos um espectro político muito dividido, que tradicionalmente obrigou os partidos a formarem coalizões e chegar a acordos", afirmou o professor.

Ao mesmo tempo, o sistema de educação universal, pública e gratuita, reconhecido como um dos mais avançados do mundo, oferece a todos os jovens as mesmas oportunidades e produz profissionais muito bem preparados, de acordo com as capacidades de cada estudante.

No entanto, Pakkasvirta fez um alerta sobre as políticas do atual Executivo de centro-direita, que aplicou duros cortes em setores como a educação e a saúde.

"Este governo está a caminho de privatizar a educação e outros setores, algo que é errado, na minha opinião, porque não se deve tentar corrigir o que funciona bem", opinou.