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Falcón enfrentará ex-companheiros políticos na campanha pela presidência da Venezuela

Falcon durante campanha presidencial em Barquisimeto - Marco Bello/Reuters
Falcon durante campanha presidencial em Barquisimeto Imagem: Marco Bello/Reuters

Indira Guerrero

18/05/2018 04h01

Henri  Falcón é um militar da reserva que dançou nas areias do chavismo e da oposição venezuelana sem remorsos e que agora, quando aparece em segundo lugar nas pesquisas para as eleições presidenciais venezuelanas, enfrenta todos os que uma vez foram seus amigos e companheiros políticos.

O líder e fundador do partido Avanço Progressista não teve problemas em fazer e desfazer alianças em sua carreira política, na qual foi eleito duas vezes consecutivas prefeito do município de Iribarren, no estado de Lara, e duas vezes governador desse estado do oeste da Venezuela.

Falcón saltou das fileiras dos precursores da "revolução bolivariana" para fazer parte da cúpula conhecida como G-7 da Mesa da Unidade Democrática (MUD), maior aliança antichavista que liderou os protestos antigovernamentais do último quinquênio e que em 2015 derrotou os governistas nas eleições legislativas pela primeira vez em 20 anos.

Sua posição dentro da direção da MUD sempre foi vista com reservas pelos companheiros de plataforma, nem tanto por suas origens chavistas, mas por ser considerado um moderado que hesita em respaldar as convocações de setores mais radicais, como as representadas pelo partido de Leopoldo López (Vontade Popular) ou o da ex-deputada María Corina Machado (Venha).

A decisão de Falcón de se candidatar à presidência, desobedecendo a decisão da MUD de não participar das eleições, o catapultou de um dos últimos postos nas pesquisas de popularidade para o primeiro lugar entre os opositores.

Demais opositores não estão na corrida

A escalada nas pesquisas se deve em boa parte ao fato de que todos os candidatos que estavam antes dele na lista de preferências ficaram de fora das eleições. Isso aconteceu por conta de medidas judiciais tomadas contra eles, por liderarem protestos contra o governo, ou por sanções administrativas que proibiam expressamente a presença deles nas eleições, como é o caso de López, em prisão domiciliar e condenado a quase 14 anos de prisão.

Também está inabilitado - por uma investigação administrativa durante sua gestão como governador - Henrique Capriles, que concorreu duas vezes à presidência, na última delas sendo derrotado por Maduro por uma estreita margem de diferença, após uma breve e intensa campanha da qual Falcón foi chefe.

Falcón se sentou à mesa em quase todos diálogos convocados pelo governo de Maduro para conter a crises e os protestos de rua, inclusive quando os principais partidos da MUD tinham decidido não participar ou tinham colocado em dúvida sua presença.

Desta vez o preço de inscrever seu nome como candidato à presidência foi se afastar da MUD, a aliança que lavou seu passado chavista. Desde então, ele travou uma campanha não só contra Maduro, mas também para resistir aos apelos dos seus antigos aliados opositores que traçaram planos e estratégias para estimular a abstenção dos seus partidários, os mesmos que podem dar a Falcón uma possibilidade de vitória.

Mesmo antes de começar a campanha oficialmente, os líderes da MUD já tinham pedido a Falcón que se retirasse e aos seus partidários que não votassem nele.

O argumento da MUD para não participar destas eleições é o de que o sistema eleitoral é fraudulento e está a serviço do governo, razão pela qual concorrer daria legitimidade a um processo no qual Maduro tem a vitória antecipada.

Membros da equipe de Falcón afirmam que uma das motivações da MUD para não ir à disputa eleitoral é que as direções dos partidos que controlam a plataforma estavam inabilitadas para participar e que o líder do Avanço Progresista não fazia parte do círculo de favoritos.

A candidatura de Falcón - atípica na política venezuelana, mais habituada aos personalismos - se apresentou como uma proposta de políticos experientes e tecnocratas econômicos com um plano para destravar a crítica situação venezuelana.

Algumas pessoas que trabalharam com ele quando foi governador asseguram que Falcón tem gestos autoritários com sua equipe, mas que desfruta da simpatia dos colaboradores.

Falcón se casou há 30 anos com Marielba Díaz, filha de uma professora e um comerciante de origem simples que se formou em propaganda e marketing, e dessa união eles tiveram quatro filhos.

Embora não tenha envolvido sua família na campanha política, alguns de seus filhos o acompanharam em algumas atividades.