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Oposição do Zimbábue não aceita vitória eleitoral "ilegítima" do presidente

O líder da oposição do Zimbábue, Nelson Chamisa, em entrevista coletiva - Mike Hutchings/Reuters
O líder da oposição do Zimbábue, Nelson Chamisa, em entrevista coletiva Imagem: Mike Hutchings/Reuters

Em Harare

03/08/2018 12h18

O líder da oposição do Zimbábue, Nelson Chamisa, se negou nesta quinta-feira a aceitar a proclamação como vencedor das eleições presidenciais do atual chefe de Estado, Emmerson Mnangagwa, que qualificou de "fraudulenta, ilegal e ilegítima".

Em entrevista coletiva, o candidato presidencial do Movimento pelo Mudança Democrática (MDC) reiterou que os resultados, anunciados esta madrugada, são "falsos", e, embora não tenha divulgado as provas que afirmou possuir, afirmou que a apuração alternativa da legenda demonstraria sua vitória com 2,3 milhões de votos.

O prazo para impugnar os resultados termina em sete dias e, embora Chamisa tenha evitado confirmar se irá à Justiça, antecipou que buscará "a anulação desses resultados e tomará todas as medidas possíveis", nas quais sua "equipe jurídica" trabalha.

"Inclusive se formos aos tribunais, teremos muitas provas sobre a fraude nas eleições. Mostraremos as provas no momento oportuno", disse Chamisa, que mencionou as razões "legais e políticas" para não entregar relatórios que supostamente provariam que Mnangagwa não obteve dois milhões de votos.

"Ganhamos estas eleições e estamos preparados para formar o próximo Governo. Não mostraremos respeito por algo inválido e nulo como a declaração feita pela (Comissão Eleitoral do Zimbábue) ZEC", apontou o político.

Ao ser questionado sobre ter feito contato com o presidente eleito, o candidato opositor respondeu que tentou, "mas ele não está disponível. Queria pedir que aceitasse a derrota".

Chamisa reivindicou a Mnangagwa, "se realmente for um democrata", que "honre sua promessa de eleições livres e justas".

"Conhece o resultado, sabe que perdeu, tem que ser honesto e sincero. Não deve aceitar resultados corruptos", acrescentou.

O líder do MDC acusou a ZEC de "arrogância" e de "não entender que as eleições correspondem aos cidadãos".

"É um manipulação mal feita. (Robert) Mugabe pelo menos era sofisticado", disse em referência ao homem que governou o país desde a sua independência em 1980 até a renúncia forçada em novembro.

A entrevista coletiva começou mais tarde do que o previsto, porque soldados da unidade antidistúrbios da polícia invadiram o hotel onde seria realizada para expulsar os jornalistas, alegando que deviam comprovar suas credenciais.

Em meio à confusão, apareceu o ministro zimbabuano de Informação, Simon Khaya Moyo, para ordenar aos agentes que fossem embora e não interrompessem a entrevista coletiva.

Pouco depois, Mnangagwa publicou duas mensagens em sua conta do Twitter nas quais garantiu que "as cenas vividas hoje não acontecem na nossa sociedade", e anunciou uma "investigação urgente" sobre a intervenção policial.

"Nos últimos nove meses, protegemos a liberdade de imprensa, a liberdade de reunião e a liberdade de criticar ao Governo. É uma parte indispensável do novo Zimbábue. Não é negociável e não mudará. Ganhamos as eleições de maneira livre e justa e não temos nada que temer e nem que esconder. Qualquer um é livre de se dirigir aos meios quando quiser", acrescentou.

Após vários dias de espera e tensão, a ZEC anunciou ontem à noite os resultados oficiais e anunciou a vitória de Mnangagwa com 50,8% dos votos, graças principalmente aos seus bons resultados nas áreas rurais.

Embora hoje as ruas da capital tenham amanhecido com relativa calma, nos últimos dias os protestos protagonizados por seguidores do MDC e reprimidos pela polícia e Exército deixaram pelo menos seis mortos.