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Eleição de Duque não supera divisão ideológica na Colômbia

21/12/2018 23h18

Jaime Ortega Carrascal

Bogotá, 21 dez (EFE).- A eleição presidencial marcou o ano de 2018 na Colômbia, onde a divisão em torno do acordo de paz com as Farc e a crise venezuelana foram decisivas para a vitória de Iván Duque, do partido uribista Centro Democrático.

Na talvez campanha presidencial mais polarizada da história do país, a esquerda, liderada pelo ex-prefeito de Bogotá e ex-guerrilheiro Gustavo Petro, vendeu a ideia de que Duque, se ganhasse, faria "pedacinhos" do acordo de paz assinado com a guerrilha, em novembro de 2016.

A direita, por sua vez, disse que uma vitória de Petro colocaria a Colômbia na mesma rota pela qual transita a Venezuela, cujas crises econômica e social assustam os colombianos que diariamente vivem de perto a chegada de milhares de cidadãos oriundos do país vizinho em busca de uma melhor vida.

Os dois chegaram ao segundo turno, em 17 de junho, e Duque venceu com 10,3 milhões de votos, o equivalente a 53,98% do total, enquanto Petro, que conseguiu juntar pela primeira vez os diferentes setores da esquerda em torno de uma candidatura, obteve pouco mais de 8 milhões (41,81%).

A alta votação de Petro, que superou qualquer previsão, o reafirmou como líder da oposição de esquerda que atuou de maneira enérgica no Senado e principalmente via Twitter.

Nem o acordo de paz ficou em pedacinhos, nem a Colômbia corre o risco de se transformar em outra Venezuela. Porém, o país segue dividido entre as duas posturas ideológicas, e o racha pareceu se acentuar com o passar dos dias, apesar de em seu discurso de posse, em 7 de agosto, Duque ter feito um apelo em prol da união para construir um grande "pacto pela Colômbia".

"Quero governar a Colômbia com valores e princípios inquebrantáveis, superando as divisões de esquerda e direita, superando com o diálogo popular os sentimentos que convidam à fratura social. Quero governar a Colômbia com o espírito de construir, nunca de destruir", afirmou na ocasião.

No entanto, as coisas não saíram como Duque pensava, e o apelo encontrou vários empecilhos, não só na oposição, mas inclusive entre aliados do governo, o que o impediu de desenvolver uma agenda legislativa.

O presidente, que renega o clientelismo como prática política, atribui a resistência que enfrenta no Congresso à recusa em distribuir cargos públicos e fatias do orçamento em troca de apoio às propostas, o que é bem-visto pela população.

"Com nenhum líder político falo de postos ou distribuições", disse recentemente ao ser perguntado sobre suas relações com dirigentes de outros partidos.

Nos quatro meses em que ocupa o cargo de presidente, Duque sofreu grandes revezes não só legislativos, mas também de imagem, o que faz com que a popularidade seja a mais baixa de um presidente no começo da administração.

Segundo uma pesquisa da instituto "Gallup", a aprovação de Duque, que em agosto era de 40%, subiu para 47% em outubro e caiu para 29% em dezembro.

A alta rejeição à gestão tem a ver com decisões impopulares, como a reforma tributária apresentada ao Congresso e que teve que ser suavizada diante de grande oposição, inclusive no Centro Democrático, porque taxava com 19% de imposto sobre valor agregado (IVA) os produtos da cesta básica.

Também afundou o projeto de reforma da Justiça e receberam fortes críticas os nomes incluídos na lista para a designação de um promotor especial para ficar responsável por três investigações ligadas ao escândalo de pagamento de propinas por parte da Odebrecht no país.

Como se fosse pouco, o governo Duque enfrenta há mais de dois meses um protesto de estudantes que reivindicam mais orçamento para as universidades públicas, apesar de o presidente ter chegado com os reitores a um acordo que garante a maior verba aprovada para as instituições de educação superior.

Esses acontecimentos fazem com que a imagem que a maior parte dos colombianos têm do presidente seja muito diferente daquela com a qual ele sonhou iniciar seu mandato, quando em seu discurso de posse convidou a população a superar as divisões para construir um país no qual "acima das diferenças estejam as coisas que nos unem". EFE