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Onda de violência cresce nos EUA em meio a pandemia e crise econômica

Mulher usa máscara contra coronavírus nos Estados Unidos (EUA) - John Moore/Getty Images
Mulher usa máscara contra coronavírus nos Estados Unidos (EUA) Imagem: John Moore/Getty Images

Marcelo Wheelock

em Atlanta (EUA)

08/07/2020 23h07

Em meio à pandemia e à crise econômica vivida nos Estados Unidos, uma onda de violência se espalhou por várias cidades do país e se intensificou no fim de semana passado, marcado pela comemoração de 4 de julho (Dia da Independência dos EUA), pressionando as autoridades a adotarem medidas de emergência como a mobilização da Guarda Nacional.

Nova York, Chicago, Atlanta, Los Angeles, Filadélfia e outras cidades registraram diversos tiroteios e episódios de violência que deixaram centenas de mortos e feridos, inclusive crianças.

Especialistas atribuem esta situação a vários fatores, como a libertação de prisioneiros devido à incidência da Covid-19 nas prisões e o efeito de "desmoralização coletiva" sofrido por muitas forças da ordem devido a queixas em supostos casos de brutalidade policial.

Para o Fórum de Pesquisa Executiva da Polícia, a razão da violência decorre do sentimento entre os criminosos de que podem cometer crimes com impunidade após a libertação de muitos das prisões para evitar a propagação do coronavírus SARS-CoV-2 e o fechamento temporário dos tribunais na maioria das cidades.

Polícia com receio de contágios e denúncias

Em algumas cidades, a polícia é menos proativa ao interagir com o público para evitar a propagação do coronavírus, afirma o relatório da organização.

Em Nova York, uma das cidades mais atingidas pelo aumento desenfreado da violência nas ruas, o chefe do departamento de polícia da cidade, Terence Monahan, concorda que este é um problema que envolve muitos fatores, como o fechamento de tribunais e as recentes reformas, algumas com impacto direto nos métodos policiais de detenção.

Nos primeiros seis meses do ano, Nova York registrou um aumento de 79,1% nos homicídios e de 64% nos tiroteios. Em Atlanta, uma das cidades onde no sábado a onda de violência vitimou uma jovem, baleada durante um dos tiroteios do fim de semana, a escalada de protestos contra a brutalidade policial deixou uma ferida profunda na polícia.

Durante várias semanas de junho foi noticiado que dezenas de policiais não apareceram para trabalhar depois de se sentirem "desmoralizados" pela situação, que também se complicou com a demissão da chefe do Departamento de Polícia da cidade, Erika Shields, depois que um de seus policiais matou um jovem negro.

Guarda Nacional

Após um fim de semana sangrento, na segunda-feira o governador da Geórgia, Brian Kemp, disse que não toleraria mais "anarquia" e ordenou a ativação de 1.000 soldados da Guarda Nacional para combater a violência e garantir a segurança pública.

"Esta anarquia precisa parar, e a ordem deve ser restaurada na nossa capital (da Geórgia). Declarei o estado de emergência e chamei a Guarda Nacional porque a segurança dos nossos cidadãos vem primeiro. Esta medida vai permitir que as tropas protejam a propriedade do Estado e que os funcionários do Estado patrulhem as nossas ruas", disse Kemp.

Em uma clara referência à prefeita de Atlanta, a democrata Keisha Lance Bottoms, o governador, que é republicano, disse que era hora de parar de "falar duro" e "proteger as vidas dos residentes da Geórgia" depois de advertir um dia antes que estava disposto a tomar medidas se as autoridades da cidade não o fizessem.

Adelina Nicholls, diretora executiva da Aliança Latina para os Direitos Humanos da Geórgia, acredita que "esta violência não é circunstancial" e que "é um produto da negligência das comunidades pobres e de baixa renda".

"O que a pandemia está fazendo está exacerbando algo que vem acontecendo há muito tempo. Esta questão da violência não é de hoje, mas está sendo usada politicamente para desacreditar o movimento Black Lives Matter", disse a ativista à Efe.

Violência incessante em Chicago

Em Chicago, a mobilização de mais 1.200 policiais durante o fim de semana não foi suficiente para conter a violência nas ruas, que tirou a vida de pelo menos 17 pessoas, incluindo crianças, e deixou 16 mortos e 47 feridos por arma de fogo no fim de semana anterior.

Alguns ativistas culparam a prefeita da cidade, Lori Lightfoot, por permitir que os recentes protestos contra a violência policial se transformassem em saques e incêndios.

A luta contra a violência não está sendo feita apenas com mais policiais nas ruas, "também tem que haver cooperação, precisamos aproximar a comunidade da polícia", disse o ativista Frank Coconate, em Chicago.