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Consciência tem cor?

Zezé Motta debate a herança do Brasil que veio de África em Origens - Passos que Vêm de Longe - Júlio César / UOL
Zezé Motta debate a herança do Brasil que veio de África em Origens - Passos que Vêm de Longe Imagem: Júlio César / UOL

Do Núcleo de Diversidade do UOL

19/11/2021 07h00

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O 20 de novembro é emblemático por dois motivos. Ao mesmo tempo em que discussões e questões sobre população negra ganham visibilidade, a presença de pretos e pardos em alguns espaços fica limitada a esta data. Isso é extremamente complicado. Afinal, o racismo, a discriminação e a violência não param nos outros dias do do ano, não é mesmo?

Não à toa, das tantas reflexões ouvidas durante Origens: Passos que Vêm de Longe, evento promovido por Ecoa nesta quinta (17), duas sintetizam o que todos e todas precisamos aprender com o dia da Consciência Negra: 1) não falem para e sobre nós apenas neste mês e; 2) enquanto o racismo existir, consciência terá cor.

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VOZES NEGRAS... Autora do romance "Um defeito de cor", vencedor do Prêmio Casa de las Américas em 2006, Ana Maria Gonçalves abriu o evento com uma reflexão sobre a data: "As minhas crenças não são pauta. Racismo não é pauta".

HERANÇA... No painel "Ecos de África: a herança que cruzou o Atlântico", do qual participaram a historiadora Angélica Ferrarez, o jornalista Tom Farias, e teve a atriz Zezé Motta como mediadora, a historiadora Mariléa de Almeida foi enfática sobre o processo de formação do país: "Não existe Brasil sem Africa".

CULTURA... Em "Respeita meu som: a cultura que preserva existências", a rapper e historiadora Preta Rara seguiu a mesma linha: "Tentam apagar nossas origens, tambor, ícones, comidas, formas de se vestir. Desconheço vestígios de cultura brasileira que não seja fundamentada na cultura preta africana". Mediado pelo ator e diretor Rodrigo França, o papo também contou com a participação do rapper Rico Dalassam e da bailarina e coreógrafa Valéria Monã.

IDENTIDADE... O terceiro painel do evento discutiu a formação da identidade negra no Brasil. Mediado pelo professor de história e integrante da Coalizão Negra Por Direitos, Douglas Belchior, ele teve a participação da escritora Bianca Santana, da jornalista Gisele Brito e da advogada Beatriz Lourenço. Bianca falou sobre a importância de retomar a memória negra para nós podermos nos ver na "potência da nossa negritude", e não somente no genocídio, no extermínio ou no encarceramento.

CIDADANIA... Diretora da Anistia Internacional no Brasil, Jurema Werneck esteve à frente do painel "Uma outra política: cidadania conquistada com luta", do qual participaram o arte-educador João Belmonte, a ativista Nilma Bentes e a professora Thula Pires. Em sua fala, Jurema enfatizou sobre a urgência de debater a questão para avançar ainda mais.

MERCADO... "Grana preta: um jeito brasileiro de fazer negócio", o último painel desta edição de Origens, foi mediado pela empresária Eliane Dias. No papo com a também empresária Dani Rodrigues, a artist manager Marina Dee e a especialista em Gestão Pública Rachell Brasil, Eliane deu seu recado: "Black money é o futuro!".

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EDUCAÇÃO... Famílias de alunos negros têm 63% mais risco de ter medo da evasão escolar de seus filhos do que pais de estudantes brancos, aponta uma análise feita pelo Plano CDE, empresa especializada em pesquisas. A análise foi feita usando as quatro edições da pesquisa "Educação não presencial na perspectiva das famílias".

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DANDO A LETRA

ronilso - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
O pesquisador Ronilso Pacheco atualmente mora em Nova York, onde faz mestrado em teologia na Universidade de Columbia
Imagem: Arquivo pessoal

"Há uma limpeza formativa em curso na educação no Brasil, que avança, em uma certa medida, na multiplicação de escolas que estão aderindo ao projeto de Escola Cívico-Militar, onde o debate e o ensino da diversidade, direitos humanos, gênero e questões raciais já não encontram lugar."
Ronilson Pacheco, colunista de Notícias, em Inep tenta sobreviver a guerra cultural fundamentalista na educação

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PEGA A VISÃO

angélica ferrarez - Reprodução - Reprodução
Angélica Ferrarez
Imagem: Reprodução

"Eu pesquiso samba, então, é difícil pensar a cultura musical do Brasil sem o Atlântico Negro. Este som vem de muitos lugares da África. A sonoridade desenvolvida na cidade do Rio de Janeiro, por exemplo, é diferente do produzido no Maranhão, que não se compara ao de Salvador. Temos várias Áfricas se manifestando"
Angélica Ferrarez, historiadora e professora

A historiadora Angélica Ferrarez participou do painel Ecos de África: a herança que cruzou o Atlântico, do evento de Ecoa Origens: Passos que Vêm de Longe. Nele, ela fez questão de enfatizar que toda a musicalidade que embala o Brasil tem referência africana: "O samba, o funk, a bossa nova, e até o chorinho."

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SELO PLURAL

papo - Arte UOL - Arte UOL
podcast papo preto alma preta yago rodrigues imagem representativa
Imagem: Arte UOL

O Papo Preto desta semana foi gravado durante a COP 26 (Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas), em Glasgow, na Escócia. O apresentador Yago Rodrigues conversou com a ativista socioambiental Vitória Pinheiro e a estudante de justiça climática Andreia Coutinho para saber o que o evento internacional debateu sobre racismo ambiental, principal pauta levada pelo movimento negro.

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#TBT

zumbi - Keiny Andrade/UOL - Keiny Andrade/UOL
Especial Monumentos - estátua de Zumbi dos Palmares
Imagem: Keiny Andrade/UOL

Parte do mobiliário urbano, os monumentos que rememoram a História são onipresentes nas cidades. Passamos por muitos deles, mas não nos perguntarmos o que significam. Alguns setores da sociedade, porém, começaram a questionar: que memória essas imagens guardam? Quem homenageiam? Depois de analisar os 367 monumentos da cidade de São Paulo, o Instituto Pólis identificou que apenas cinco deles são de pessoas brancas negras e há somente quatro de indígenas. A maioria das esculturas é de homens (169, no total) e brancos (155). Em uma reportagem audiovisual, o UOL mostrou a história real dessas obras.