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Jornalista faz relato sobre abordagem: "para a PM, tenho cara de bandido"

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O apresentador do UOL News, Diego Sarza, foi abordado por policiais militares, nesta terça (28), sob a justificativa de que ele apresentava "características físicas semelhantes" às de um homem negro foragido.

Nesta edição de Nós Negros, ele faz um relato sobre o ocorrido: "a polícia brasileira sempre viu negros como suspeitos. Eu, sou apenas mais um'". Procurada pelo UOL, a SSP (Secretaria de Segurança Pública) de São Paulo afirmou que a abordagem de rotina seguiu os padrões da PM e ocorreu de maneira legal e legítima.

Em 2022, um levantamento do IDDD (Instituto de Defesa do Direito de Defesa) e do Data_Labe, apontou que, em São Paulo e no Rio de Janeiro, pessoas negras tinham 4,5 vezes mais chances de serem abordadas por policiais do que brancas. Outro levantamento, do mesmo ano, realizado pelo NEV (Núcleo de Estudos de Violência), da USP, apontou que crianças e adolescentes negros têm duas vezes mais risco de serem abordados pela polícia do que os brancos.

Confira o relato do jornalista abaixo:

Negros brasileiros já estão acostumados a serem parados aleatoriamente pela polícia, apenas por existirem. Chegou a minha vez. Para a PM, tenho "cara de bandido".

No centro de São Paulo, ao descer de um carro de aplicativo para ir a uma barbearia, notei que um carro da PM me seguia. Com arma na mão, um deles desceu do carro e disse que "me conhecia de algum lugar".

Não, ele não se referia ao meu trabalho no jornalismo de mais de dez anos, com passagens pela Globo, CNN e agora como apresentador do UOL. Ele disse que eu tinha as características de alguém que eles procuravam. Alguém que tinha um mandado de prisão pendente. Ou seja, eu parecia um bandido, na visão dos agentes.

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Quando perguntei quais eram as características da pessoa procurada, ele me respondeu: "um homem negro, cabelo cortado ou forte." Ele descreveu a maior parte dos cidadãos brasileiros. O Censo de 2022 mostrou que 55,5% da população brasileira se considera negra (preta ou parda).

Sim, nós somos suspeitos para as polícias de todo o Brasil, em estados governados pela direita (São Paulo, de Tarcísio de Freitas), mas também somos alvos nos governados pela esquerda (situação da Bahia, governada por Jerônimo Rodrigues).

Eu tive a "sorte" de me identificar como jornalista e carregar "apenas" o ônus do constrangimento público provocado pelo ridículo perfilamento racial. Muitos não têm a mesma sorte.

O UOL mostrou nesta segunda-feira (27) que entre 2012 e 2022, 149.707 homens negros foram vítimas fatais de disparos em via pública. Enquanto isso, 38.231 brancos morreram pelo mesmo motivo. A pesquisa é do IEPS (Instituto de Estudos para Políticas de Saúde) e do Instituto Çarê, que analisou as taxas de internações e mortalidade por agressões a partir do recorte de raça e cor.

A polícia brasileira sempre viu negros como suspeitos. Eu, sou apenas mais um.

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"Ainda precisamos ter os corpos negros ocupando as instâncias de decisões políticas e que podem, de fato, transformar. É para isso que precisamos continuar lutando. Porque quando pensamos em democracia na prática, a questão racial deve ocupar a prioridade de um lugar fundante e inescapável. A África é um lugar de estrutura"
Tiganá Santana, músico e filósofo

O músico e filósofo Tiganá Santana é o curador da exposição 'Línguas Africanas que fazem o Brasil', em cartaz até janeiro de 2025, no Museu da Língua Portuguesa, em São Paulo. Ele também é o primeiro brasileiro a compor em línguas africanas. Confira a entrevista do artista ao colunista André Santana.

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