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'Mulher da Casa Abandonada': e se o crime tivesse ocorrido no Brasil?

Mansão onde vive protagonista do podcast "A Mulher da Casa Abandonada" - Simon Plestenjak/UOL
Mansão onde vive protagonista do podcast "A Mulher da Casa Abandonada" Imagem: Simon Plestenjak/UOL

do Núcleo de Diversidade

22/07/2022 09h00

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A história de Margarida Bonetti alcançou repercussão nacional após ser a personagem principal do podcast "A Mulher da Casa Abandonada", produzido pela Folha de S. Paulo e apresentado por Chico Felitti. O pano de fundo de tudo? Um crime conhecido no Brasil: o trabalho análogo à escravidão.

A "mulher abandonada", como ela ficou conhecida, fez parte da lista de procurados pelo FBI, e fugiu dos EUA para o Brasil após ser acusada de ter mantido uma mulher em condições análogas à escravidão entre o fim da década de 1970 e começo dos anos 2000.

Pela lei, seguindo o princípio de territorialidade, Bonetti não pode ser punida no Brasil, já que o crime ocorreu nos EUA. Mas o que ocorre para quem comete o crime no Brasil? No país, a condição análoga à escravidão é considerada crime pelo Código Penal desde 2003.

"Sujeitar alguém à condição análoga à de escravo, quer submetendo-o a trabalhos forçados ou à jornada exaustiva, quer sujeitando-o à condições degradantes de trabalho ou até mesmo restringindo, por qualquer meio, sua locomoção em razão de dívida contraída com o empregador ou preposto, tem como pena de reclusão (prisão) de 2 a 8 anos, além do pagamento de multa"
Jonathas Cruz, advogado de causas trabalhistas

Segundo o advogado, a pena também pode aumentar em até um terço caso o crime seja cometido contra crianças ou adolescentes ou por motivo de preconceito de raça, cor, etnia, religião ou origem.

Margarida Bonetti escondeu-se por cerca de 20 anos e seu caso tem gerado alvoroços, seja nas redes sociais ou em frente à sua mansão no bairro de Higienópolis, em São Paulo. As revelações da sua vida e postura sobre questões raciais também nos trazem recordações sobre casos que ganharam repercussão no país de mulheres negras em situação análoga à escravidão como Madalena Gordiano e dona Yolanda. No ano passado, segundo o Ministério do Trabalho e Previdência, pouco mais de 1,9 mil trabalhadores foram resgatados em situação de escravidão contemporânea no Brasil.

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ALÉM DAS COTAS... Sem auxílio, estudantes cotistas responsáveis pelo sustento da família estão deixando as universidades para se dedicarem ao trabalho e arcar com as contas. Especialistas ouvidos pelo UOL avaliam que, além das vagas, os auxílios estudantis são cruciais para assegurar a permanência desses grupos nas universidades.

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HOMENAGEM NO GOOGLE... A cantora e compositora Jovelina Pérola Negra completaria 78 anos na quinta-feira (21). A data foi lembrada pelo Google, com ilustração da cantora com microfone nas mãos. Nascida no Rio de Janeiro, Jovelina revolucionou o samba com canções como "Sorriso Aberto" e "Bagaço da Laranja".

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DANDO A LETRA

Ao anunciar seu apoio ao candidato petista, Anitta foi enfática ao declarar num tuíte: "Mais do que fazer o Lula 'bombar', precisamos mostrar o quão inaceitável e inviável é a reeleição do monstro que violenta o Brasil. Essa é uma eleição definida pela rejeição"
Cris Guterres, colunista do UOL

cris - Reprodução/Instagram - Reprodução/Instagram
Cris Guterres
Imagem: Reprodução/Instagram

Em Universa, Cris Guterres avalia se a Anitta pode influenciar o resultado das eleições.

Em Notícias, Chico Alves traz atualizações do caso da morte de Sérgio Ricardo Batista, diretor de Controles Internos da Caixa Econômica Federal, cujo corpo foi encontrado na sede do banco. Batista estava a frente da diretoria responsável por receber as denúncias de assédio sexual contra o ex-presidente da Caixa Pedro Guimarães.

Em Ecoa, Eduardo Carvalho fala sobre como o impacto do aquecimento global nas favelas virou destaque na Glocal Experience, evento que reuniu pensadores, ativistas e empresários para discutir um novo futuro global.

Em Splash, Aline Ramos fala sobre a ascensão do cantor Vitão e questiona as razões de sua impopularidade, principalmente após o relacionamento com Luiza Sonza.

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PEGA A VISÃO

Até uns 12, 13 anos, eu participava das escolinhas de futebol de bairro, mas, quando tinha campeonato, eu era excluído. Mesmo me destacando nos treinos, não podia jogar com os meninos e não tinha time de meninas. Eu ficava extremamente frustrado"
Pedro Eduardo, jogador de futebol

pedro - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
Pedro Eduardo Vieira dos Passos, de 27 anos, joga no Meninos Bons de Bola há seis anos
Imagem: Arquivo pessoal

Pedro Eduardo Vieira, nascido em Barueri (SP) é apaixonado por futebol desde criança, mas como garoto trans não era aceito nem em times masculinos e nem em times femininos.

Tudo mudou aos 20 anos, quando após quase desistir do esporte, conheceu o Meninos Bons de Bola, um time de futebol para homens trans.

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SELO PLURAL

papo preto - Arte/UOL - Arte/UOL
Podcast Papo Preto 2022
Imagem: Arte/UOL

No episódio #88 de Papo Preto, o apresentador Yago Rodrigues recebe o sociólogo Alex Vargem, que atua no combate à xenofobia para debater o racismo dentro do processo migratório no Brasil.

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#TBT

madalena - Joel Silva/UOL - Joel Silva/UOL
Retrato de Madalena Gordiano, que passou 38 anos em condições análogas à escravidão
Imagem: Joel Silva/UOL

Assim como o crime denunciado no podcast "A Mulher da Casa Abadonada", o trabalho análogo à escravidão é bastante comum no Brasil.

Em 2020, um caso emblemático se tornou público: Madalena Gordiano passou 38 anos reclusa na casa dos Milagres Rigueira, uma família tradicional de Minas Gerais. Tinha apenas 8 anos quando acordava às 2h para trabalhar e só parava às 20h, sem receber salário. O crime fez com que Madalena fosse impossibilitada de viver uma infância saudável e digna. Reportagem do UOL mostra seu primeiro contato com uma boneca.