Agressão a entregador e prisão por foto mostram país que a escravidão criou
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O entregador negro Max Ângelo dos Santos, 36, é pai de três filhos e trabalha em aplicativos de entrega pedalando, em média, 12 horas por dia. Um vídeo que ganhou grande repercussão nas redes sociais no domingo (9) mostra quando ele é agredido pela ex-atleta de vôlei Sandra Mathias, que puxa sua camisa, lhe dá socos e o chicoteia com uma coleira de cachorro.
Na terça (11), pela terceira vez o educador negro Danillo Felix, 27, foi inocentado da acusação de um crime a partir de reconhecimento fotográfico, feito com uma foto sua com a cabeça raspada, publicada no Instagram em 2017.
Nesta semana, a historiadora Fernanda Oliveira relembrou na coluna Presença Histórica, publicada pelo UOL, que na "história não há espaço para coincidências". Para entender bem isso é preciso praticar o que o jornalismo ético nos requer: dar nome ao que precisa ser nomeado, mas também entender o contexto do que estamos nomeando.
O sociólogo Jessé Souza pode nos ajudar nesta questão. Em "A Elite do Atraso", ele pontua que a diferença entre "o nome e o conceito é o que separa o senso comum da ciência". Sobre escravidão, ele diz:
"Pode-se falar de escravidão e depois retirar da consciência todos os seus efeitos reais e fazer de conta que somos continuação de uma sociedade não escravista. É como tornar secundário e invisível o que é principal e criar uma fantasia que servirá maravilhosamente para não conhecer o país e seus conflitos reais."
Um corpo negro sendo açoitado, capturado e preso por conta da cor de sua pele são imagens comuns em qualquer documento que se acesse sobre o início da história do Brasil como nação. É certo dizer que o sistema escravocrata em vigência até 13 de maio de 1888 deixou de existir no Brasil mas, entendendo o conceito de tudo, não há como dizer que sua sombra não nos ronda todos os dias. Como explica Muniz Sodré, "acabou a escravidão, mas nasceu a forma social escravista. Ela mantém a escravidão como ideia e como discriminação institucional".
Leia também:
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SELO PLURAL... No novo episódio de Papo Preto, o jornalista Pedro Borges conta bastidores e desdobramentos do caso Beto Freitas, homem negro morto dentro de uma loja da rede Carrefour de Porto Alegre (RS), e faz uma comparação com as denúncias de pessoas em situação análoga à escravidão em vinícolas na região Sul do país.
NA TELA... Rosario Dawson, 43, é a protagonista de "Star Wars: Ahsoka", série da franquia que estreia em agosto de 2023. A artista comentou sobre a relação com o Brasil em papo exclusivo com Splash.
ARTEMIS 2... conheça a primeira mulher e o primeiro negro em missão tripulada rumo à Lua em mais de 50 anos!
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PEGA A VISÃO
"A solução violenta e a criminalização de uma questão social facilitam o discurso conservador e promovem mudanças urbanas sem consulta pública"
Gisele Brito, coordenadora de Direito a Cidades Antirracistas do Instituto de Referência Negra Peregum
A soma de quase uma década de crise econômica no país e a série de projetos de "revitalização" fracassados ou abandonados ao longo dos últimos 40 anos deixaram a região central de São Paulo, a cidade mais rica do Brasil, como um cenário de terra arrasada. Reportagem de TAB mostra como o medo tem sido distribuído entre comerciantes, moradores (com ou sem teto), trabalhadores e quem está de passagem pelo local.
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A HISTÓRIA DA HISTÓRIA
O samba no Rio de Janeiro tem raiz em uma baiana de Santo Amaro da Purificação: Hilária Batista de Almeida, a Tia Ciata (1854 - 1924). Mais famosa das "tias pretas" do samba no início do século 20, Ciata foi produtora, empreendedora e articuladora política da cultura em um período em que o samba era criminalizado pelas autoridades políticas e de segurança pública.
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DANDO A LETRA
- Edu Carvalho | Carta para Sandra, minha vizinha racista de São Conrado
- Fernanda Oliveira | Luiz Gama ajuda a entender como novo ensino médio não soluciona violência
- Chico Alves | Quando a violência invade creches e escolas, o Brasil precisa se tratar
- Mulheres Negras Decidem | 100 dias de governo: Lula fortaleceu mulheres negras, mas falta orçamento
- Cris Guterres | Mãe macumbeira, filho evangélico: intolerância religiosa se combate em casa
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