Dólar fecha outubro com alta de 6,10% e no maior nível desde março de 2021
Por Fabricio de Castro
SÃO PAULO (Reuters) - Os receios em torno da política fiscal do governo Lula e da possibilidade de Donald Trump vencer a eleição presidencial nos Estados Unidos voltaram a sustentar o dólar nesta quinta-feira, o que fez a moeda terminar o mês de outubro na maior cotação ante o real desde março de 2021.
O dólar à vista fechou o dia em alta de 0,30%, cotado a 5,7815 reais. Este é o maior valor de fechamento desde 9 de março de 2021, quando encerrou em 5,7927 reais. Em outubro, a divisa acumulou elevação de 6,10%.
Às 17h41, o contrato de dólar futuro para dezembro na B3 -- que nesta sessão passou a ser o mais líquido -- subia 0,35%, a 5,8025 reais na venda.
A sessão desta quinta-feira foi marcada pela definição da Ptax de fim de mês, o que tradicionalmente eleva a volatilidade por conta da disputa pela taxa.
Calculada pelo Banco Central com base nas cotações do mercado à vista, a Ptax serve de referência para a liquidação de contratos futuros. No fim de cada mês, agentes financeiros costumam tentar direcioná-la a níveis mais convenientes às suas posições, sejam elas compradas (no sentido de alta das cotações) ou vendidas em dólar (no sentido de baixa).
Além da disputa pela Ptax, investidores observaram pela manhã a divulgação de dados robustos sobre a economia norte-americana, que reforçaram a tendência mais recente de alta para os rendimentos dos Treasuries.
O Departamento do Trabalho dos EUA informou que os pedidos iniciais de auxílio-desemprego caíram em 12.000 nos EUA, para 216.000 em dado com ajuste sazonal, na semana encerrada em 26 de outubro. Economistas consultados pela Reuters previam 230.000 pedidos para a última semana.
Já os gastos dos consumidores, que respondem por mais de dois terços da atividade econômica dos EUA, aumentaram 0,5% no mês passado, após ganho revisado para cima de 0,3% em agosto. Economistas consultados pela Reuters previam que alta de 0,4%.
Por outro lado, o índice de preços PCE aumentou 0,2% em setembro, após um ganho não revisado de 0,1% em agosto. Economistas haviam previsto que a inflação medida pelo PCE ficaria exatamente em 0,2%.
Neste cenário, o dólar à vista chegou a oscilar em baixa ante o real, marcando a mínima de 5,7543 reais (-0,17%) às 9h03 e às 10h04 -- neste caso, já após os dados dos EUA. Mas o movimento não se sustentou e o dólar migrou para o território positivo.
De acordo com Thiago Avallone, especialista em câmbio da Manchester Investimentos, a desconfiança do mercado na política fiscal do governo Lula e a expectativa crescente de que o republicano Trump vencerá a democrata Kamala Harris na corrida eleitoral norte-americana voltaram a sustentar o dólar.
“Estamos na mesma pegada dos últimos dias, com os problemas internos no fiscal fazendo preço”, comentou Avallone. “E não adianta ter diferencial de juros favorecendo Brasil se o governo não trata das próprias contas”, acrescentou.
Nas últimas semanas, apesar do diferencial de juros favorável à atração de recursos pelo país -- já que o Fed caminha para cortar mais seus juros e o Brasil tende a acelerar a alta da taxa básica Selic --, o dólar tem escalado patamares cada vez mais elevados ante o real.
Parte do desconforto do mercado -- que também sustentou as taxas dos DIs (Depósitos Interfinanceiros) nesta quinta-feira -- está no fato de o governo Lula ainda não ter anunciado medidas concretas de contenção de despesas, prometidas para depois das eleições municipais.
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Quero receberNeste cenário, o dólar à vista subiu até a máxima de 5,7959 reais (+0,55%) às 13h18 -- pouco depois da Ptax de fim de mês ter sido formada. A Ptax ficou em 5,7779 reais para venda.
Mesmo perdendo parte da força no restante da tarde, o dólar ainda terminou o dia no maior nível ante o real em cerca de três anos e meio.
No exterior, o dólar tinha direções mistas ante as moedas de emergentes, mas caía ante as divisas fortes. Às 17h34, o índice do dólar -- que mede o desempenho da moeda norte-americana frente a uma cesta de seis divisas -- caía 0,19%, a 103,890.
No fim da manhã, o BC vendeu todos os 14.000 contratos de swap cambial tradicional ofertados em leilão para rolagem do vencimento de 2 de dezembro de 2024.
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