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Julgamento de supremacista de Christchurch pode condená-lo à prisão perpétua

Supremacista branco é autor dos atentados que mataram 51 pessoas em 15 de março de 2019 - John Kirk-Anderson/POOL/AFP
Supremacista branco é autor dos atentados que mataram 51 pessoas em 15 de março de 2019 Imagem: John Kirk-Anderson/POOL/AFP

24/08/2020 13h16Atualizada em 24/08/2020 18h56

O Tribunal de Justiça de Christchurch, na Nova Zelândia, estava sob forte vigilância hoje, durante o primeiro dia do julgamento presencial do supremacista branco B. T., autor dos ataques terroristas a duas mesquitas em Christchurch, em março de 2019, que mataram 51 pessoas.

O primeiro dia foi marcado pelos depoimentos das vítimas diante do terrorista australiano, que pode ser a primeira pessoa condenada à prisão perpétua no país. A sentença será pronunciada na próxima quinta-feira (27).

T. permaneceu impassível perante os sobreviventes e o promotor nesta primeira audiência presencial.

"Sempre tento imaginar como se sentiu meu querido Atta na hora do ataque? Como ele enfrentou o terrorista apenas com seu corpo e sua coragem? O que estava em sua mente quando percebeu que iria deixar esta vida?", revelou Maysoon Salama, mãe de Atta Salama, que morreu durante o ataque. A mulher deu seu depoimento diante de Tarrant.

Mais de 20 parentes das vítimas foram ao Tribunal de Justiça de Christchurch nesta segunda-feira para expressarem sua tristeza, mas também sua raiva contra o supremacista australiano.

O jovem de 29 anos é acusado pelo assassinato das 51 pessoas, pela tentativa de homicídio de outras 40 pessoas e por terrorismo, os piores assassinatos em massa da Nova Zelândia. Ele parecia calmo e sem emoção até que Janna Ezats, mãe de Hussain Al Humari, que morreu no ataque, disse que o perdoava. B. T. então enxugou algumas lágrimas após ouvir essas palavras.

Naquele dia, Abdiaziz Ali Jama, um refugiado somali de 44 anos, viu seu cunhado Muse Awale ser morto na frente de seus olhos. "Eu vejo as fotos e ainda ouço o rata-tata-tatá da arma em minha cabeça", disse ele ao tribunal.

Outros familiares de vítimas poderão falar com o supremacista nos próximos dois dias de julgamento.

Impassível

Vestido com seu uniforme cinza de presidiário e acompanhado por três policiais, B. T. permaneceu em silêncio e impassível, às vezes levantando a cabeça para olhar a plateia.

O promotor Barnaby Hawes deu um relato impressionante dos fatos, explicando que o acusado "queria matar mais pessoas". Ele contou como o australiano havia matado metodicamente homens, mulheres e crianças, enquanto filmava os assassinatos e os transmitia ao vivo nas redes sociais.

Hawes descreveu como ele ignorou os pedidos de piedade de algumas vítimas, como havia atropelado um corpo enquanto ia de uma mesquita para outra. Quando ele viu Mucad Ibrahim, de 3 anos, agarrado à perna do pai, T. o executou "com duas balas atiradas com precisão", disse Hawes.

T. foi preso enquanto tentava chegar a Ashburton, uma hora ao sul de Christchurch, para atacar uma terceira mesquita. "Ele admitiu à polícia que foi às mesquitas com o objetivo de matar o maior número de pessoas possível", acrescentou Hawes.

"Durante as audiências, (...) explicou que os ataques foram motivados pelas suas convicções ideológicas e que esperava semear o medo entre aqueles que descreve como 'invasores', em particular a população muçulmana e todos os imigrantes não-europeus."

Gamal Fouda, imã da mesquita de al-Nour em Christchurch, disse que naquele dia "viu o ódio nos olhos de um terrorista fanático". "Seu ódio não é necessário", disse ele ao australiano.

Drones e armas semiautomáticas

O australiano B. T. chegou à Nova Zelândia em 2017, relatou o promotor. Ele morava em Dunedin, 360 quilômetros ao sul de Christchurch, onde montou um arsenal inteiro e comprou mais de 7 mil munições. Dois meses antes dos ataques, ele viajou para Christchurch para estudar a cena de ataque. Ele usou um drone para sobrevoar a Mesquita de Al-Nour, filmando o prédio, suas entradas e saídas, e fez anotações detalhadas sobre a viagem à Mesquita de Linwood.

Em 15 de março de 2019, ele dirigiu de Dunedin a Christchurch, equipado com muitas armas semiautomáticas, onde havia inscrito diversos símbolos supremacistas, assim como referências às Cruzadas e recentes ataques terroristas. Ele tinha pentes sobressalentes cheios de munição e também galões "para incendiar as mesquitas", disse Hawes. "Ele disse que gostaria de ter feito isso."

Poucos minutos antes de agir, ele enviou seu "manifesto" de 74 páginas a um site extremista, avisou sua família sobre o que estava prestes a fazer e enviou e-mails a diversas redações contendo ameaças contra as mesquitas.

Esse massacre levou o governo a endurecer a lei sobre armas e a aumentar os esforços para combater o extremismo na internet.

T. optou por se defender sem advogado. O juiz Cameron Mander impôs drásticas restrições à cobertura do processo pela mídia para evitar que o acusado usasse seu julgamento como plataforma para divulgar suas mensagens de ódio.

Com informações de Richard Tindiller, correspondente da RFI em Welligton.