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Uma 'revolução pacífica' está em curso em Belarus, garante opositora

Opositores de Alexander Lukashenko protestam contra o resultado das eleições em Belarus - Sergei Gapon/AFP
Opositores de Alexander Lukashenko protestam contra o resultado das eleições em Belarus Imagem: Sergei Gapon/AFP

25/08/2020 15h06Atualizada em 25/08/2020 16h26

"O que está em curso em Belarus é uma revolução pacífica e não uma revolução geopolítica", afirmou Svetlana Tikhanovskaïa. A opositora bielorrussa fez a declaração ao participar hoje, por videoconferência, de uma reunião extraordinária organizada pela Comissão de Relações Exteriores do Parlamento Europeu.

Ela falou de Vilnius, na Lituânia, onde está refugiada. Vestindo uma camisa azul-claro, com cabelo solto nos ombros e o rosto sério, Tikhanovskaïa leu sua mensagem dirigida aos eurodeputados.

"Belarus está acordando. Nós organizamos no domingo (23) a maior manifestação da história do país. Não somos mais a oposição, somos a maioria", disse a ex-candidata à presidência. Quase 100 mil pessoas protestaram no domingo na capital de Belarus, como já havia acontecido em 16 de agosto.

"Essa não é uma contestação anti ou pró-Rússia, nem anti ou pró-europeia. Queremos simplesmente decidir livremente nosso destino."

A imagem de vídeo de Svetlana Tikhanovskaïa projetada no telão do plenário do Parlamento Europeu era filmada de uma cozinha. Falando em inglês, ela afirmou que "as tentativas de repressão violenta" não "dissuadiram, ao contrário, reforçaram a determinação da nação".

Disposta a negociar

O movimento de contestação inédito contra o presidente Alexander Lukashenko, no poder desde 1994, entrou na terceira semana em Belarus. O número de manifestantes nas ruas não diminui, mas o chefe de Estado multiplica suas declarações e gestos bélicos, que acompanham uma repressão crescente.

O protesto começou após o anúncio dos resultados da eleição presidencial de 9 de agosto, vencida por Lukashenko com 80% dos votos. A oposição atribui a vitória a uma fraude.

"Nossas demandas são simples: eleições livres e justas", insistiu Tikhanovskaya, antes de afirmar que está disposta "a negociar com as autoridades" e aceitar uma mediação de organizações internacionais, ao mesmo tempo que pediu respeito à "soberania de Belarus".

Ela foi calorosamente aplaudida pelos eurodeputados. Alguns parlamentares elogiaram "uma declaração digna de uma mulher de Estado". Outros, ressaltaram sua coragem e determinação. Os eurodeputados também pediram a libertação imediata de todos os prisioneiros políticos bielorrussos, em particular os integrantes do Conselho de Coordenação detidos nos últimos dias.

Vitória ilegítima, segundo UE

A União Europeia (UE) considera os resultados oficiais da eleição ilegítimos e afirmou que está ao lado dos bielorrussos. O presidente do Conselho Europeu, Charles Michel, prometeu novas sanções contra um número "substancial" de autoridades bielorrussas, responsáveis pela "violência, repressão e fraude eleitoral".

Nesta terça-feira, a UE anunciou sua intenção de sancionar 15 a 20 pessoas que participaram da fraude na eleição presidencial bielorrussa e na repressão aos opositores no país. Desde a reunião extraordinária dos ministros das Relações Exteriores do bloco, realizada em 14 de agosto, Bruxelas estuda ampliar a lista de pessoas proibidas de entrar na UE e que terão seus investimentos no bloco embargados.

Os líderes europeus também exigem que o presidente russo, Vladimir Putin, pressione Lukashenko para que aceite o diálogo com a oposição.

No entanto, o Kremlin considera a crise política na ex-república soviética um "assunto interno" e condena as "tentativas de interferência estrangeira". O número dois do Departamento de Estado americano, Stephen Biegun, se reunirá em Moscou com o ministro russo das Relações Exteriores, Serguei Lavrov, após um encontro em Vilnius com Tikhanovskaya.

O vice-chanceler americano achou a opositora bielorrussa "muito impressionante".

Lukashenko, que no domingo apareceu com um fuzil na mão, se recusa a ceder aos manifestantes, que chamou de "ratos". Ele pediu às forças de segurança que acabem com os "incidentes" e ao exército que defenda as fronteiras. As autoridades multiplicaram nos últimos dias as detenções de opositores e grevistas.

Como demonstração da pressão crescente, a escritora Svetlana Alexievich, prêmio Nobel de Literatura em 2015, foi convocada para ser interrogada por integrar o "conselho de coordenação" formado pela oposição para organizar a transição política.