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Chefe do Hezbollah se diz pronto para discutir um novo pacto político no Líbano

Anwar Amro/AFP
Imagem: Anwar Amro/AFP

30/08/2020 12h27

O chefe do poderoso Hezbollah pró-iraniano anunciou neste domingo (30) que seu partido estava pronto para discutir um novo "pacto político" no Líbano, proposto pelo presidente francês, na véspera do retorno de Emmanuel Macron a Beirute, que visita o país pela segunda vez este mês.

Durante sua segunda visita a Beirute em menos de um mês, após a explosão devastadora no porto de Beirute, o chefe de estado francês incitará os líderes políticos libaneses a empreender reformas políticas vitais.

Os chefes de Estado ocidentais que vão a Beirute se juntaram aos apelos dos libaneses, no país e no exterior, por mudanças políticas profundas após o desastre do porto de Beirute, que deixou pelo menos 188 mortos. Eles responsabilizam a classe política por negligência e corrupção.

"Ouvimos o chamado do presidente francês durante sua última visita ao Líbano por um novo pacto político", disse o líder do Hezbollah, Hassan Nasrallah, em um discurso.

"Estamos abertos a qualquer discussão construtiva sobre o assunto, mas com a condição de que seja um diálogo libanês e que seja a vontade de todos os partidos libaneses", acrescentou.

Em seu discurso, poucas horas antes de um discurso do presidente Michel Aoun dirigido aos libaneses, por ocasião do centenário do Grande Líbano celebrado na terça-feira, Hassan Nasrallah não especificou quais mudanças seu movimento estava pronto para considerar.

Sistema confessional libanês

Ele disse que "ouviu críticas de fontes oficiais francesas sobre o sistema confessional libanês" e sua incapacidade de resolver os problemas do país.

Com o objetivo de distribuir o poder entre as diversas comunidades do país que conta com 18, o sistema político é acusado de ser fonte de bloqueios políticos.

Emmanuel Macron foi o primeiro líder estrangeiro a visitar Beirute dois dias após a tragédia de 4 de agosto, que devastou bairros inteiros da capital libanesa.

O presidete francês anunciou que iria propor um "novo pacto político" com as reformas necessárias, caso contrário "o Líbano continuará afundando".

Na sexta-feira, Macron evocou os "constrangimentos de um sistema confessional" que, "somados - para falar modestamente - aos interesses conexos", conduzem "a uma situação em que quase não há renovação (política) e onde há é quase impossível fazer reformas".

Novo primeiro-ministro

O presidente francês, esperado para segunda-feira (31) à noite em Beirute, deve se reunir novamente na terça-feira (1) com representantes dos principais partidos políticos, incluindo o Hezbollah.

Ao mesmo tempo, as consultas parlamentares serão realizadas na segunda-feira de manhã para nomear um novo primeiro-ministro. O chefe do governo, Hassan Diab, renunciou em 10 de agosto, sob o golpe da explosão mortal.

O chefe do Hezbollah garantiu que seu partido será "cooperativo" neste assunto, já que as diferenças políticas têm impedido um acordo sobre a escolha do novo chefe de governo.

Drama libanês

Devido à presença de uma enorme quantidade de nitrato de amônio no porto de Beirute à vista dos responsáveis, o desastre deixou mais de 6.500 feridos e destruiu ou danificou as casas de cerca de 300 mil pessoas, que não receberam nenhuma assistência governamental.

O drama deu nova vida ao movimento de protesto popular, que eclodiu em outubro de 2019 para exigir a saída de toda a classe política, sob o lema "Todos, sem exceção".

A explosão deixou de joelhos o país, que já afundava sob o peso de uma grave crise econômica agravada pela pandemia do coronavírus.

Neste domingo, a ONU alertou que mais da metade da população corre o risco de ficar sem alimentos básicos até o final do ano devido ao agravamento da crise econômica e à destruição de silos de trigo no porto de Beirute.