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Resultado de eleições municipais muda cenário político e esquenta projeções para 2022

O prefeito reeleito de São Paulo, Bruno Covas (PSDB), comemora ao lado do governador João Doria (PSDB) - DANIEL TEIXEIRA/ESTADÃO CONTEÚDO
O prefeito reeleito de São Paulo, Bruno Covas (PSDB), comemora ao lado do governador João Doria (PSDB) Imagem: DANIEL TEIXEIRA/ESTADÃO CONTEÚDO

Raquel Miura

Correspondente da RFI em Brasília

30/11/2020 05h53

Uma centro-direita fortalecida, com destaque para o desempenho do centrão, uma nova esquerda que se desenha com o fracasso retumbante do PT e uma classe política que fecha as urnas já pensando nas próximas eleições, daqui a dois anos.

Eis o resumo do pleito municipal com o segundo turno das eleições, que levou milhões de brasileiros às urnas ontem, mas registrou também uma abstenção de quase 30% dos eleitores.

Siglas como MDB, DEM, PSD, PP saem vitoriosas da votação e vão governar cidades como Salvador, Porto Alegre, Belo Horizonte, Rio de Janeiro e João Pessoa.

O PSDB perdeu em total de municípios na comparação com 2016, mas conseguiu manter São Paulo e continua, assim, à frente da administração da capital e do estado mais populoso do país. A legenda governará o maior número de eleitores, no quadro municipal, ainda que nesse quesito o tamanho do ninho tucano também tenha encolhido.

E mesmo que com a campanha de Bruno Covas ofuscando João Doria, a vitória tucana na maior cidade do país dá sim ao governador paulista credenciamento para a clara pretensão dele de disputar a Presidência da República.

"O nome hoje do PSDB mais projetado a ser o candidato do partido é Doria, que saiu fortalecido dessas eleições, embora Bruno Covas não tenha se atrelado à imagem do governador nessa campanha, já que são de grupos diferentes no partido. Mas num projeto nacional, eles devem se unir. E devem se unir também a DEM e MDB.

Ainda que, vale frisar, o DEM também sai forte e pode querer ter mais voz nas negociações, ter mais protagonismo, ser vice ou mesmo cabeça de chapa", avalia Maria do Socorro Sousa Braga, coordenadora de pós-graduação em Ciência Política da UFSCar (Universidade Federação de São Carlos).

Já o PT perdeu a disputa em várias cidades, não irá administrar nenhuma capital e viu crescer o peso de outros nomes na esquerda, em especial do PSOL, que ganhou em Belém e virou protagonista em São Paulo, com Guilherme Boulos. Ele, ao reconhecer a vitória de Covas, citou várias lideranças de outros partidos e falou em um projeto para o futuro:

"Queria agradecer a políticos como o ex-presidente Lula, Ciro Gomes, Marina Silva, Flávio Dino. Vou trabalhar para que, o que a gente construiu e uniu aqui em São Paulo, sirva de inspiração para o Brasil, para ajudar a derrotar o atraso e o autoritarismo. Vou estar à disposição da luta do povo em São Paulo e no país. Nessas eleições, não construímos apenas uma onda de esperança para o segundo turno, nós construímos muito mais. Nós apontamos para o futuro", afirmou.

O cientista político Carlos Melo, professor do Insper (Instituto de Ensino e Pesquisa) diz que em dois anos muita coisa pode mudar no xadrez político, mas ressalta que o desempenho de Boulos abre, sim, alternativas na esquerda à hegemonia petista.

"Parece óbvio que Guilherme Boulos, mesmo perdendo, sai vitorioso dessas eleições. Ele sai como uma nova liderança representativa no campo da esquerda, como se fosse um pop star em substituição a outro pop star, já antigo e desgastado, que é o ex-presidente Lula", disse.

"Pela primeira vez, o PT estará em situação complicada em 2022 para impor seus nomes na briga nacional. É como um jogo de futebol. O PT está em campo, mas se mostra cansado, sem desempenhar bem suas funções, tendo no banco de reserva um jogador mais novo que se mostra disposto a tentar algo para mudar a partida. Tem muito jogo até as próximas eleições, as coisas podem mudar, mas essa é a projeção que saem das urnas agora", afirmou o analista.

PT e Bolsonaro derrotados

O PT, que perdeu no segundo turno em Vitória e Recife, venceu em cidades médias, mas o resultado ficou bem aquém do que o partido esperava, com derrotas importantes no interior da Bahia e do Rio Grande do Sul.

O segundo turno também consolidou fracassos para o presidente Jair Bolsonaro, que viu seus candidatos naufragarem nas urnas, a exemplo de Capitão Wagner (Pros), em Fortaleza, que perdeu para José Sarto (PDT), candidato de Ciro Gomes.

No Rio de Janeiro, Marcelo Crivella (Republicanos) apoiado por Bolsonaro, não conseguiu a reeleição, como já mostravam as pesquisas e Eduardo Paes (DEM) será reconduzido à prefeitura.

"Nós passamos os últimos anos radicalizando o discurso contra a política brasileira, contestando aqueles que exercem a atividade política, que se dedicam à administração pública. O resultado desse radicalismo, de muito ódio, de muita divisão, não fez bem a nenhum carioca, a nenhum brasileiro", afirmou Paes, que há dois anos perdeu a disputa do governo fluminense para Wilson Witzel.

Paes fez o pronunciamento da vitória ao lado da família e de Rodrigo Maia, presidente da Câmara de Deputados e um dos principais nomes do DEM. Bruno Covas fez o mesmo tendo a seu lado João Dória.

Em Goiânia, numa triste curiosidade da pandemia no Brasil, o ex-governador Maguito Vilela (MDB), político tradicional da região, foi eleito prefeito, mas não sabe que venceu pois está com Covid-19 e foi entubado no dia 15 de novembro.