Após reunir a esquerda, Boulos e PSOL saem da eleição em outro "patamar"
A campanha de Guilherme Boulos (PSOL) para a Prefeitura de São Paulo pode ter sido derrotada nas urnas, mas a avaliação inicial é de que ela também trouxe vitórias.
E a mais comentada delas é o fato de que os partidos de esquerda se uniram em torno da candidatura de Boulos no segundo turno contra Bruno Covas (PSDB), reeleito ontem. A avaliação no partido é de tanto o PSOL quanto Boulos saem do pleito em "outro patamar".
Em seu pronunciamento após reconhecer a derrota, Boulos disse que vai "trabalhar, a partir de agora, para o que a gente conseguiu construir e unir aqui em São Paulo sirva de inspiração para o Brasil para ajudar a derrotar o atraso e o autoritarismo."
"A campanha de Boulos conseguiu agregar no segundo turno todas as legendas de esquerda, mostrando a possibilidade real de unidade em torno de um programa transformador e a capacidade do PSOL de ser combativo e ao mesmo tempo formar maioria para enfrentar os grupos dominantes", escreveu ao UOL Juliano Medeiros, presidente nacional do PSOL.
Esse resultado, junto com o conquistado para o Legislativo, coloca o PSOL em outro patamar na política municipal
Juliano Medeiros, presidente nacional do PSOL
A esquerda estava rachada, principalmente, em razão da eleição presidencial de 2018, quando o PT forçou a candidatura do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) —inelegível por ter condenações na Justiça. A situação afastou Ciro Gomes (PDT) de uma aproximação com o PT para o segundo turno contra Jair Bolsonaro (sem partido).
Em São Paulo, neste ano, Boulos conseguiu atrair PT e PDT para a disputa contra Covas.
"Alternativa"
Comandante do diretório municipal do partido, Michele Vieira ressalta o fato de o PSOL ter pulado de duas para seis cadeiras na Câmara Municipal de São Paulo. E também comemora o papel exercido pelo partido ao juntar as outras siglas de esquerda.
"Boulos, Luiza Erundina [candidata a vice] e todo o conjunto da militância do PSOL e de todos os setores progressistas da cidade de São Paulo que se envolveram e acreditaram nesse projeto nos recolocou no cenário nacional como uma real alternativa política", disse. "Mas, principalmente, como uma alternativa de que é possível construir uma outra cidade e outro Brasil."
Presidente do diretório municipal do PT em São Paulo, Laércio Ribeiro diz que não se pode "tapar o sol com a peneira". "Precisamos observar o resultado em todo o país, que nos deixa recados que não devem ser desconsiderados", pontuou Ribeiro, cujo partido era pressionado a apoiar Boulos desde o primeiro turno.
"Os resultados [no Brasil como um todo] são negativos para a esquerda, principalmente para o PT. É preciso colar na luta do povo, dialogar de peito aberto e estar cada vez mais entranhado nas relações sociais que construímos por décadas é parte disso."
PSOL fortalecido
Um dos responsáveis por levar Boulos, coordenador do MTST (Movimento dos Trabalhadores Sem-Teto) para a política partidária, o deputado federal Ivan Valente (PSOL-SP) avaliou que o "PSOL sai, como partido, bastante fortalecido na esquerda." "Foi uma grande vitória política", comentou. "Unificou a esquerda, ganhou a juventude e projetou esperança. E projetou uma grande liderança para o futuro."
Quem também pensa nessa linha é o jornalista Chico Malfitani, responsável pela campanha de Boulos na televisão. "Hoje, ele está num outro patamar da política. Ele entrou na primeira divisão."
Para Malfitani, agora, Boulos passa a ser visto como "um interlocutor importante em qualquer discussão do ponto de vista da esquerda".
Para quem, até pouco tempo atrás, era líder de um movimento social, isso [a performance na eleição] é uma evolução gigantesca
Chico Malfitani, responsável pelos programas de televisão da campanha de Boulos
O jornalista acredita que "Guilherme está apenas no início". "Provavelmente, [ele] não vai largar sua militância no movimento social. E vai agregar a isso uma força política que é muito grande. Um sujeito muito preparado. Não precisa de marqueteiro, de publicitário."
Pontos falhos
Mas a campanha não teve apenas pontos positivos. Em plena pandemia do novo coronavírus, a campanha de Boulos escorregou em promover agendas de rua que geraram aglomerações —e, que, se faça justiça, a de Covas também cometeu o mesmo erro. O candidato terminou a campanha isolado em sua casa após saber que estava com a covid-19.
Também houve falhas na comunicação, quando o candidato dizia algo, mas seu plano de governo, outra coisa. A questão do IPTU, já levantada pelo UOL em outubro, era a mais clara. Enquanto Boulos dizia que não iria elevar o imposto de ninguém, o plano apontava que haveria aumento para quem tivesse mansão. Aliás, a campanha nunca explicou o que considera uma mansão.
Michele Vieira diz que o partido ainda "precisa fazer um balanço mais profundo" sobre o que fazer de diferente para as próximas eleições.
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