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Palestinos saem às ruas após adiamento das primeiras eleições em 15 anos

29.abr.2021 - Palestinos protestam no centro da cidade de Ramallah contra adiamento das eleições  - Abbas Momani/AFP
29.abr.2021 - Palestinos protestam no centro da cidade de Ramallah contra adiamento das eleições Imagem: Abbas Momani/AFP

Sami Boukhelifa

Correspondente da RFI em Jerusalém

30/04/2021 06h32

O presidente palestino, Mahmoud Abbas, anunciou ontem o adiamento das primeiras eleições palestinas em 15 anos, até que seja "garantida" a votação em Jerusalém Oriental, área ocupada por Israel.

"Decidimos adiar a data das eleições até que haja garantias que nosso povo possa exercer seus direitos democráticos em Jerusalém", disse Abbas após reunião da liderança da OLP (Organização para a Libertação da Palestina) sobre as eleições legislativas, previstas para 22 de maio. Cerca de 2,6 milhões de palestinos se inscreveram para votar, o que representa 93% do total de eleitores.

A Comissão Eleitoral Palestina também anunciou a suspensão da preparação do pleito. Pouco antes, Abbas havia alertado que as eleições aconteceriam apenas se Israel autorizasse sua organização em Jerusalém Oriental.

Em Ramallah, centenas de pessoas saíram às ruas para protestar contra o adiamento das eleições. O jovem Ahmed Jabareen, 24 anos, que acaba de obter seu diploma, nunca tinha votado na vida. "As últimas eleições aconteceram em 2006, eu ainda era uma criança", explica. "Minha geração está revoltada, ela é marginalizada pelos nossos dirigentes. Com essas eleições, queríamos ter um papel no processo, sermos protagonistas do nosso destino", disse à RFI.

O estudante Shihab Amjad, que se candidatou às legislativas, também participou das manifestações. Seu partido, Dignidade e Liberdade, de centro, tem como ambição encarnar a mudança no país. "Estamos chocados com esse grupo corrupto e ditatorial que domina todas as instituições palestinas e marginaliza completamente a juventude. As pessoas estão sufocadas e haverá violentos protestos nas ruas", declarou.

Para os manifestantes, o presidente Mahmoud Abbas cancelou a votação temendo uma derrota. Após as eleições legislativas de 2006, as tensões entre o Fatah e o Hamas levaram a confrontos e a uma divisão geográfica de poder entre a Autoridade Palestina, controlada pelo Fatah e com sede na Cisjordânia ocupada, e o Hamas, no poder na Faixa de Gaza, onde dois milhões de palestinos vivem num espaço exíguo.

Israel anexou Jerusalém Oriental há mais de 50 anos. A cidade está no centro das desavenças que impedem o processo de paz. Por essa razão, os palestinos se viram no direito de pedir que as eleições fossem realizadas nesse território.

A Comissão Eleitoral Palestina havia garantido, recentemente, que instalaria centros de votação nas cidades vizinhas de Jerusalém, na Cisjordânia ocupada. Mas Abbas rejeitou essa opção porque esperava que a votação pudesse ser realizada em Jerusalém e que os partidos pudessem fazer campanha eleitoral na cidade.

Durante duas semanas, Jerusalém Oriental foi palco de manifestações diárias de jovens palestinos contra a polícia israelense. Na semana passada, os protestos deixaram mais de cem feridos em uma única noite, em distúrbios provocados quando um grupo de judeus de extrema direita gritou "morte aos árabes". Dados do governo israelense de 2019 apontam que 1,84 milhão de palestinos vivem em Israel.

Trinta listas concorrem às eleições

Mahmoud Abbas enfrenta uma rebelião interna dentro de sua formação política, o Fatah. No total, mais de 30 listas eleitorais concorrem nas legislativas, incluindo duas correntes que desafiam o Fatah internamente: a do veterano opositor Mohamad Dahlan, exilado nos Emirados Árabes Unidos, e a do sobrinho de Yasser Arafat, Naser al Kidwa.

"Se Abbas adiar as eleições, organizaremos manifestações", advertiu nesta semana Daud Abu Libdeh, candidato da lista de Mohamad Dahlan. Além dessas duas correntes rebeldes, Abbas enfrenta os islâmicos do Hamas, que tentam ampliar sua influência na Cisjordânia, onde vivem 2,8 milhões de palestinos.

O Hamas, movimento considerado "terrorista" por Israel e por muitas capitais ocidentais, busca ganhar legitimidade em nível internacional com essas eleições, o que poderia facilitar sua integração em um governo de coalizão e, posteriormente, na OLP, reconhecida como legítima representante do povo palestino.

(Com AFP)