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Estado Islâmico reivindica disparos de foguetes perto de palácio presidencial afegão

20.jul.2021 - Seguranças montam guarda perto de um veículo carbonizado de onde foram disparados foguetes que pousaram perto do palácio presidencial afegão em Cabul - AFP
20.jul.2021 - Seguranças montam guarda perto de um veículo carbonizado de onde foram disparados foguetes que pousaram perto do palácio presidencial afegão em Cabul Imagem: AFP

Da RFI*

20/07/2021 11h13Atualizada em 20/07/2021 12h28

Três foguetes atingiram hoje uma área perto do palácio presidencial em Cabul, capital do Afeganistão, onde várias autoridades estavam reunidas com o presidente Ashraf Ghani. O encontro celebrava o início da festa sagrada dos muçulmanos, o Eid al Adha. O Ministério do Interior acrescentou que apenas dois artefatos explodiram.

O porta-voz afegão Mirwais Stanikzai informou que o ataque não fez vítimas. Até o momento, a ação foi reivindicada pelo grupo Estado Islâmico (EI).

O barulho das explosões foi ouvido às 8h (0h30 de Brasília) nas imediações da zona verde, uma área com grande segurança em Cabul, onde ficam o palácio presidencial e as embaixadas, incluindo a missão da ONU.

O presidente Ghani fazia um discurso à nação, na presença dos principais funcionários do governo. Em um vídeo publicado na página oficial da presidência no Facebook, é possível ouvir as explosões de ao menos dois foguetes no momento em que ele e outras autoridades rezavam, de joelhos, no jardim do palácio.

O presidente e a maioria dos participantes permaneceram impassíveis com o som das explosões e prosseguiram com as orações neste primeiro dia do Eit al Adha. "Hoje, os inimigos do Afeganistão lançaram foguetes em várias partes da cidade de Cabul. Um caiu atrás da mesquita Eid Gah, o segundo, atrás do centro (comercial) Gulbahar e o terceiro, perto (do parque) de Chaman e Huzori", confirmou Stanikzai.

"Os foguetes atingiram três locais diferentes. De acordo com as informações que temos, não há vítimas. Nossa equipe está investigando", completou a fonte oficial.

Os três pontos estão situados em um raio de quase um quilômetro ao redor do palácio presidencial, que já foi alvo de foguetes outras vezes, a última em dezembro de 2020.

Sem cessar-fogo à vista

Em março de 2020, um ataque com foguete foi executado durante a posse de Ghani, na presença de centenas de pessoas. O grupo Estado Islâmico reivindicou o atentado.

"Os talibãs demonstram não ter vontade e nem a intenção de fazer a paz", declarou Ghani em seu discurso nesta terça-feira, sem uma referência direta ao ataque. "Até agora os talibãs não mostraram o menor interesse em negociações significativas e sérias", completou, após um novo fim de semana de negociações infrutíferas entre o governo e os insurgentes, em Doha.

No último domingo (18), ao final de uma nova sessão de negociações no Catar, os dois lados afirmaram, em um comunicado, que concordam com a necessidade de encontrar uma "solução justa" e com um novo encontro na próxima semana.

O diretor do conselho governamental afegão, que supervisiona o processo de paz, Abdullah Abdullah, admitiu que "o povo afegão evidentemente esperava mais". "Mas a porta das negociações continua aberta", disse, acrescentando que espera progresso "dentro de algumas semanas".

As negociações no Catar, que começaram em setembro, não registraram avanços e os talibãs iniciaram, em maio, uma ofensiva total contra as forças afegãs, aproveitando-se do processo de retirada definitiva das forças internacionais do Afeganistão, manobra que deve terminar em agosto.

Sem o crucial apoio aéreo estrangeiro, as tropas governamentais controlam apenas as capitais de províncias e algumas estradas importantes.

O ataque desta terça-feira parece reduzir por completo as esperanças de um cessar-fogo por ocasião do Eid, o que marca uma ruptura com os últimos anos, quando os talibãs adotaram tréguas para as festas muçulmanas.

Na segunda-feira (19), várias representações diplomáticas no Afeganistão pediram aos talibãs para interromper a ofensiva, que contradiz, na opinião deles, "o apoio que expressaram a uma solução negociada" do conflito.

No poder de 1996 a 2001, os talibãs adotaram uma interpretação muito rigorosa da lei islâmica, até que foram derrotados pela invasão da coalizão internacional liderada pelos Estados Unidos, após os atentados de 11 de setembro.

*Com informações da AFP