Resistência ao Talibã se organiza no nordeste do Afeganistão
As operações para retirada de pessoas do Afeganistão continuam no aeroporto de Cabul. Mais de 18 mil pessoas já conseguiram deixar o país desde a retomada do poder pelo Talibã, declarou hoje uma fonte da Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte).
Enquanto isso, a resistência aos extremistas se organiza no nordeste do país, como conta um resistente à RFI.
Uma multidão continua a se aglomerar nas proximidades do aeroporto internacional de Cabul, apesar das ameaças de represália dos extremistas, acrescentou à agência Reuters a fonte da Otan, que preferiu o anonimato.
Paralelamente, em várias cidades afegãs, oponentes do Talibã saem às ruas para desafiar os extremistas islâmicos. No vale Panjshir, a duas horas de carro a nordeste da capital, a resistência está se organizando. O Panjshir é a última fortaleza que ainda resiste ao Talibã.
A região é uma zona íngreme e montanhosa, de acesso muito difícil. Uma fortaleza intransponível que nem os soviéticos, nem os talibãs conseguiram conquistar.
"Os talibãs não controlam todo o Afeganistão. Há informações que chegam de Panjshir", afirmou ontem o ministro russo das Relações Exteriores, Serguei Lavrov. O chanceler russo voltou a pedir um "diálogo nacional que permita a formação de um governo representativo".
Herdeiro de herói anti-URSS
Ahmad Massoud, filho do comandante Massoud, herói da resistência antissoviética assassinado em 2001 pela Al-Qaeda, foi acompanhado até Panjshir pelo ex-vice-presidente afegão Amrullah Saleh.
Ele se disse "pronto para seguir os passos do pai", em uma coluna publicado pelo jornal "The Washington Post". O resistente também faz um apelo por armas e munições. Massoud afirma ter combatentes em número suficiente para se opor aos insurgentes, incluindo soldados do regime anterior.
'Não podemos fazer isso sozinhos'
"No momento não há combates ou ataques contra a província de Panjshir", disse à RFI Mahdi, um resistente. "Os principais integrantes dessa resistência são habitantes da região, cuja maioria já possui armas. Depois, temos soldados, ex-membros das Forças Armadas que se retiraram para Panjshir, após terem abandonado áreas sujeitas a ataques ferozes do Talibã. Finalmente, muitas famílias deslocadas juntaram-se às fileiras da resistência. Elas encontraram refúgio no Vale Panjshir depois de fugir de outras províncias afegãs", disse.
De acordo com Mahdi, "é mais do que provável que, se o Talibã assumir o poder de maneira duradoura, formar um governo e impor suas leis, haverá um fluxo ainda maior de pessoas deslocadas do resto do Afeganistão em direção a Panjshir e que vão se juntar ao movimento de resistência. "
Mas Mahdi alerta que a província de Panjshir está cercada pelo Talibã. "A qualquer momento podemos nos encontrar sitiados e confrontados com um ataque em grande escala. O Talibã pode fechar estradas a fim de impedir o abastecimento da província, especialmente de ajuda humanitária. E se isso acontecer, teremos um problema gravíssimo, o da falta de alimentos, que poderia colocar em risco a vida das pessoas."
"O espaço aéreo está aberto", acrescenta o rebelde. "Portanto, é possível que aviões de países vizinhos entreguem ajuda. Continuamos com muita esperança, mas não podemos fazer isso sozinhos. Precisamos da ajuda e do apoio de outros países. É uma causa comum, contra a injustiça, contra o mal, contra a opressão. E não se trata apenas do Afeganistão, mas do mundo todo. Precisamos de ajuda urgente."
Outros sinais de resistência
Em Asadabad, no leste, os afegãos hastearam a bandeira nacional preta, vermelha e verde ontem, dia do 102º aniversário da independência do Afeganistão. Uma forma de desafiar o Talibã, que impôs sua bandeira branca em prédios públicos.
Na capital, Cabul, cerca de 200 pessoas também desafiaram o Talibã em um comício, também agitando a bandeira nacional. Nessas manifestações, os manifestantes também entoaram canções nacionalistas e anti-paquistanesas. Uma manifestação semelhante na quarta-feira (18) em Jalalabad foi dispersada com tiros.
O Talibã, por sua vez, declarou em um comunicado no feriado nacional, sobre o "grande orgulho para os afegãos pelo fato de seu país estar agora prestes a reconquistar sua independência após a ocupação americana".
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