Morte de adolescente nos EUA levanta discussão sobre táticas policiais
A morte de Valentina Orellana-Peralta enquanto provava roupas em uma loja em Los Angeles, mais uma vez, levanta a discussão sobre as táticas usadas pela polícia americana para imobilizar suspeitos.
Na última quinta-feira (23), um policial atirou dentro de uma loja de departamentos contra um homem que estava atacando clientes com um cadeado de bicicleta. A adolescente chilena, de 14 anos, foi assassinada com uma das três balas disparadas pela polícia.
Imagens divulgadas pelo LAPD (Departamento de Polícia de Los Angeles), feitas pelas câmeras presas nos uniformes dos agentes, mostram que eles entraram na loja já com a intenção de matar o suspeito Daniel Elena-Lopez, de 24 anos.
Foram disparados três tiros com um rifle em direção a ele, que morreu na hora.
Na sequência, a polícia descobriu que um desses tiros ricocheteou, atravessou o provador e acertou no peito a adolescente Valentina Orellana-Peralta que provava um vestido para a festa de 15 anos.
Segundo a família da menina, eles deixaram o Chile há seis meses para fugir da violência e vieram em busca de uma vida melhor.
A polícia recebeu chamadas dizendo que um homem estaria na loja ameaçando pessoas com uma barra de ferro e que teria agredido duas mulheres que faziam compras.
De acordo com a polícia, uma pessoa que telefonou também mencionou que ele estaria armado. Não foi encontrada nenhuma arma com o suspeito.
Táticas mortais
Durante muitos anos, a abordagem padrão era a polícia cercar o local onde estivesse acontecendo um tiroteio, avaliar a situação e tentar negociar na esperança de evitar um confronto violento e mortes.
Hoje, a polícia é treinada para matar ou prender qualquer atirador antes de realizar outras ações, incluindo ajudar as vítimas.
Essa mudança aconteceu há 22 anos, após o tiroteio que ficou conhecido como o Massacre de Columbine, em 1999, quando um atirador matou 13 estudantes em uma escola.
A tragédia fez com que fosse desenvolvida uma cartilha policial que define como a polícia deve agir durante esses tiroteios.
Mas, o que acontece é que essa cartilha vem sendo usada indiscriminadamente em situações muito mais cotidianas, como nesta ocorrência um dia antes da véspera de Natal (23), na loja Burlington, em North Hollywood, o que gera críticas da comunidade.
67% das pessoas mortas pela polícia desde 2018 eram latinas
A Liga dos Cidadãos da América Latina Unidos pediu "uma investigação imediata e completa" dessa tragédia.
Domingo Garcia, presidente nacional da liga, disse que "o treinamento na academia de polícia deveria ensinar os policiais a considerar o pior cenário antes de sacar suas armas" e que "igualmente preocupante é que este incidente é apenas mais um de uma série de recentes tiroteios do LAPD envolvendo latinos".
Nas redes sociais, muitas pessoas se manifestaram questionando porque a polícia atira com um rifle, dentro de uma loja de departamentos cheia de clientes, sendo que o suspeito nem tinha armas de fogo.
Destacaram que esse tipo de ação da polícia não aconteceria em outros bairros considerados mais brancos, já que North Hollywood tem uma comunidade de maioria latina.
De acordo com uma pesquisa do jornal norte-americano Los Angeles Times, 67% das pessoas mortas pela polícia desde 2018 eram latinas.
Advogado do caso George Floyd
Os pais de Valentina contrataram o advogado Ben Crump, o mesmo que estava à frente do caso de George Floyd, e Crump disse que a família quer justiça e transparência da polícia, pediu toda e qualquer filmagem do tiroteio, já que o vídeo divulgado na última segunda-feira (27) está editado.
O policial que disparou os três tiros foi afastado do cargo - por pelo menos duas semanas - e o porta-voz da Liga Protetora da Polícia de Los Angeles, Tom Saggau, que representa os policiais, disse que a investigação do departamento será seguida por uma audiência realizada por uma comissão civil de cinco membros.
O prefeito Eric Garcetti prometeu responder à morte da adolescente "com a transparência, sensibilidade e responsabilidade que a família merece".
Mudanças na polícia?
Na sequência das grandes manifestações contra a brutalidade policial e o racismo estimulados pela morte de George Floyd, no ano passado, Garcetti e outros líderes da cidade prometeram fazer mudanças e reforma na polícia, incluindo redirecionar verbas do orçamento do Departamento policial para outros serviços sociais.
As autoridades estaduais também se comprometeram em responsabilizar com mais vigor os policiais por má conduta.
Em julho deste ano, uma nova lei estadual entrou em vigor exigindo que o Departamento de Justiça do estado investigue tiroteios policiais que resultem na morte de pessoas desarmadas e decida se deve processar os policiais envolvidos.
O departamento está investigando o tiroteio da semana passada de acordo com essa lei.
Porém, uma onda de assaltos em lojas de luxo da Califórnia nos últimos meses acabou fazendo com que as autoridades locais e estaduais reavaliassem a reforma da polícia, mais verbas foram disponibilizadas para os departamentos, o que levantou críticas e levou a muitas discussões dentre os ativistas mais progressistas e dos prováveis candidatos a prefeitura de Los Angeles sobre o empenho das autoridades em realmente investir em uma mudança real.
Já dá para adiantar que esse deve ser um dos temas principais da corrida eleitoral para a prefeitura de Los Angeles, nesse próximo ano de 2022.
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