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Travessias clandestinas de migrantes no Canal da Mancha triplicaram em 2021

Imigrantes descem de barco após terem cruzado o canal da Mancha, em Dungeness, Reino Unido - Henry Nicholls/Reuters
Imigrantes descem de barco após terem cruzado o canal da Mancha, em Dungeness, Reino Unido Imagem: Henry Nicholls/Reuters

04/01/2022 17h53

Mais de 28 mil pessoas atravessaram o Canal da Mancha para entrar ilegalmente no Reino Unido em 2021. O saldo é mais do que o triplo daquele registrado no ano anterior. Além de representar um desafio para as autoridades da França e do Reino Unido, o fluxo de migrantes tem criado tensões diplomáticas entre Londres e Paris.

Segundo a agência de notícias britânica PA, 28.395 migrantes fizeram a travessia no ano passado, quase sempre em barcos precários saindo da costa francesa, com o objetivo de entrar no Reino Unido. Em comparação, em 2020 houve cerca de 8.400 chegadas nessas pequenas embarcações que cruzam uma das rotas de navegação mais movimentadas do mundo.

O Canal da Mancha é conhecido pelo tráfego intenso de navios cargueiros transportando mercadorias. Mas a rota também é famosa por sua forte correnteza e temperatura da água particularmente baixa durante o inverno. No entanto, isso não impede os milhares de migrantes de se aventurarem na travessia dos 30 km que separam Calais, no norte da França, da costa britânica.

O fenômeno se acelerou nos últimos meses. Só em novembro de 2021, quase 6.900 pessoas chegaram às costas inglesas em barcos precários, com um recorde de 1.185 desembarcando em um único dia, informou a PA citando dados do Ministério do Interior britânico. Pelo menos 36 pessoas morreram tentando fazer a travessia durante o ano.

O porto de Calais, por onde alguns migrantes conseguiam atravessar para o Reino Unido anteriormente, muitas vezes escondidos em caminhões de carga, foi cercado, com muros que protegem não apenas a zona portuária, mas também as estradas de acesso. Esse método ainda é usado pelos migrantes, mas as medidas de segurança impostas tornaram o caminho mais difícil. Além disso, o acesso ao túnel que atravessa o canal da Mancha, outro meio de passagem para o lado britânico, também foi cercado.

Tudo isso fez com que aumentasse o número de pessoas que tentam cruzar o Canal em embarcações improvisadas, partindo dos arredores de Calais.

Tensões políticas e diplomáticas

Além do drama humano de milhares de pessoas que deixam seus países por conta de guerras ou de razões econômicas, esse fluxo de viajantes clandestinos se transformou em um pesadelo político para o primeiro-ministro do Reino Unido, Boris Johnson, que havia prometido maior controle sobre a imigração após o Brexit.

O premiê ainda tenta cumprir suas promessas sobre o tema e um projeto de lei está sendo discutido. Segundo o texto, os migrantes que entraram ilegalmente em seu território poderiam solicitar asilo em algumas situações específicas. Os demais seriam enviados de volta para os países por onde passaram antes da travessia do Canal. As associações de defesa dos direitos humanos temem que a medida crie duas categorias de migrantes, tornando ainda mais precários os que não teriam direito ao asilo no Reino Unido

A situação também é uma fonte de tensão entre os governos britânico e francês. Paris quer evitar que os migrantes se acumulem no norte do país, formando acampamentos como a favela gigante desmantelada na região em 2016. Já Londres considera insuficientes os esforços feitos pela França para evitar que os barcos saiam de suas costas, apesar da ajuda econômica do Reino Unido para o reforço da vigilância.

O governo francês tem se concentrado na luta contra as redes de traficantes de seres humanos, que trazem os migrantes até as margens do Canal da Mancha. Segundo o ministério do Interior da França, 162 pessoas envolvidas nesse tipo de atividade foram detidas em 2021 e 41 organizações teriam sido desmanteladas.