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Por que União Europeia e Otan temem vitória de Marine Le Pen na França

10.mar.2022 - Marine Le Pen, candidata presidencial do partido de extrema-direita francês  - Thomas Samson/AFP
10.mar.2022 - Marine Le Pen, candidata presidencial do partido de extrema-direita francês Imagem: Thomas Samson/AFP

Letícia Fonseca-Sourander

Correspondente da RFI em Bruxelas

11/04/2022 06h58

Mais uma vez o duelo entre o presidente francês Emmanuel Macron e a candidata da extrema-direita, Marine Le Pen, volta a preocupar a União Europeia. O segundo turno, marcado para o dia 24 de abril, será uma reedição de 2017, quando os dois candidatos se enfrentaram nas urnas e Macron saiu vitorioso.

Bruxelas não comentou o resultado do primeiro turno deste domingo, mas é evidente que a eleição presidencial na França, um país crucial para a integração europeia, é decisiva para o bloco.

Atualmente, a França está no comando da presidência rotativa da União Europeia e uma derrota de Le Pen, que é contra o bloco europeu e a Otan, não só reforçaria o apoio dos franceses à UE, como ajudaria a diminuir o fantasma da extrema-direita no continente.

A reeleição do primeiro-ministro húngaro, o ultranacionalista Viktor Orbán, para o seu quarto mandato consecutivo, na semana passada, foi um grande revés para Bruxelas. "Aderir ao populismo e à xenofobia, isso não é a França", lembrou Macron após o resultado do primeiro turno.

Imagem suavizada

Em 2017, a líder de extrema-direita francesa, Marine Le Pen, admiradora de longa data do presidente russo Vladimir Putin, afirmou na época que se caso ganhasse as eleições, iria convocar um referendo sobre um eventual "Frexit", a saída da França do bloco europeu. Além disso, Le Pen tinha planos de abandonar o euro e retomar o controle das fronteiras para deter a imigração.

Estas ideias parecem não guiar mais sua agenda, porém, nestas eleições de 2022, a candidata do partido RN (Reunião Nacional) insiste que a lei francesa deve prevalecer sobre as regras da União Europeia, desafiando assim o tribunal superior do bloco.

Le Pen tentou suavizar sua imagem para chegar ao segundo turno das eleições francesas. Segundo o jornal britânico The Guardian, "Le Pen criou uma distância entre sua persona sorridente - posando com seus gatos de estimação e sendo assediada por adolescentes para tirar selfies na rua - e a realidade radical de sua extrema-direita, o manifesto anti-imigração para manter a França para os franceses."

"Ela prometeu um referendo para mudar a Constituição, a fim de restringir os direitos dos imigrantes e dos estrangeiros. Le Pen pretende priorizar os nativos sobre os não-nativos com moradia, emprego e saúde. Ela quer eliminar os direitos de nacionalidade para crianças nascidas e criadas na França de pais estrangeiros", prossegue o jornal. "O fato de Le Pen estar agora mais perto do poder do que nunca é, em parte, resultado de sua própria reformulação da estratégia política."

Vários eurodeputados, de diferentes grupos políticos do Parlamento Europeu, pediram aos franceses para se mobilizar e barrar a extrema-direita na França.

Ameaça real

Marine Le Pen representa uma ameaça real para a União Europeia e Otan. Nas próximas duas semanas, até o segundo turno das eleições francesas, ambas instituições vão estar acompanhando de perto a reta final da campanha presidencial.

Bruxelas teme ver a França, um dos países fundadores e motor do bloco europeu, cair nas mãos da extrema-direita eurocética. Entre suas promessas, a líder do RN (Reunião Nacional) deixou claro seu desejo da França, a única potência nuclear da União Europeia, não mais participar da Otan, "para não ficarmos mais presos em conflitos que não são nossos", declarou.

Apesar de Le Pen ter condenado a invasão da Rússia na Ucrânia, ela desfruta de ótimas relações com o Kremlin e, em 2014, recebeu um empréstimo de 9 milhões de euros de um banco russo para o seu partido. Nestas eleições, a família Le Pen - cujo pai Jean-Marie disputou e perdeu contra o então presidente Jacques Chirac em 2002 - nunca esteve tão perto do poder.

Pesquisas de opinião acreditam que a disputa acirrada do segundo turno dificulta as previsões, mesmo com a vantagem mínima para o presidente Emmanuel Macron.