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Tribunal de Kiev julga soldado russo que atirou contra idoso desarmado

12.abr.2022 - Um soldado russo sobe escadas no teatro de drama de Mariupol, atingido em 16 de março por um ataque aéreo - Alexander Nemenov/AFP
12.abr.2022 - Um soldado russo sobe escadas no teatro de drama de Mariupol, atingido em 16 de março por um ataque aéreo Imagem: Alexander Nemenov/AFP

18/05/2022 05h32Atualizada em 18/05/2022 07h01

A Justiça ucraniana inicia nesta quarta-feira (18) o primeiro julgamento de um militar russo desde a invasão do país, em 24 de fevereiro. O réu, Vadim Shishimarin, 21 anos, responde por crime de guerra e homicídio premeditado, depois de atirar contra um homem de 62 anos, desarmado, que andava de bicicleta na região nordeste da Ucrânia. O jovem soldado russo comparece diante de juízes do tribunal distrital de Solomiansky, em Kiev.

O civil ucraniano foi letalmente ferido no início da ofensiva russa, em 28 de fevereiro. De acordo com a acusação, Vadim Shishimarin comandava uma unidade da divisão de tanques quando o seu comboio foi atacado. Ao lado de outros quatro soldados, ele abandonou o blindado e roubou um carro. Na fuga, quando o grupo circulava perto da aldeia de Shupakhivka, na região de Sumy, encontraram o homem de 62 anos numa bicicleta.

"Um dos militares ordenou ao acusado que matasse o civil para que ele não os denunciasse", segundo a Procuradoria-geral ucraniana. Shishimarin obedeceu à ordem. Da janela do veículo, ele atirou na direção da vítima com uma metralhadora Kalashnikov.

"O homem morreu no local, a algumas dezenas de metros da sua casa", acrescenta uma declaração da Procuradoria. Acusado de crime de guerra e assassinato premeditado, o militar, nascido em Irkutsk, na Sibéria, poderá ser condenado à prisão perpétua.

"Ele compreende as acusações feitas contra ele", disse o seu advogado, Viktor Ovsiannikov, sem revelar a sua estratégia de defesa. De acordo com as autoridades ucranianas, o sargento russo tem cooperado com os investigadores e reconhece os fatos.

Este primeiro julgamento deverá ser rapidamente seguido por vários outros e é considerado um teste para o sistema judicial ucraniano, uma vez que instituições internacionais também conduzem as suas próprias investigações sobre os abusos cometidos pelas tropas russas na Ucrânia.

"Sinal claro"

As autoridades ucranianas anunciaram a prisão do soldado russo no início de maio, sem dar pormenores do caso. Ao mesmo tempo, publicaram um vídeo em que Shishimarin dizia ter vindo lutar na Ucrânia para "apoiar financeiramente a mãe". Em relação às acusações contra ele, explicou: "Recebi ordens para disparar e disparei uma vez". "Ele caiu e nós continuamos o nosso caminho", afirmou o militar.

O caso é difícil, de acordo com o advogado de defesa. "Nunca tivemos tal acusação na Ucrânia, não temos precedentes, não temos veredicto", disse ele. "Mas vamos chegar lá", acrescentou Ovsiannikov, assegurando que não tinha visto "quaisquer violações dos direitos" dos acusados por parte das autoridades.

Em uma série de mensagens no Twitter, a procuradora-geral ucraniana, Iryna Venediktova, sublinhou a importância do caso para o seu país.

"Abrimos mais de 11.000 investigações de crimes de guerra e prendemos 40 suspeitos", disse ela. "Com este primeiro julgamento, enviamos um sinal claro de que nenhum carrasco, ninguém que ordenou ou ajudou a cometer crimes na Ucrânia escapará à justiça", completou.

Como prova da determinação da Ucrânia em não perder tempo, dois soldados russos deverão ser julgados a partir de quinta-feira (19) por dispararem foguetes contra infraestruturas civis na região nordeste de Kharkiv, a segunda maior cidade do país.

Com informações da AFP