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Resultado do 1° turno das eleições legislativas na França ameaça maioria absoluta de Macron

Presidente francês, Emmanuel Macron - Ludovic Marin/Reuters
Presidente francês, Emmanuel Macron Imagem: Ludovic Marin/Reuters

12/06/2022 17h51

O presidente francês, Emmanuel Macron, sai do primeiro turno da eleição legislativa deste domingo (12) sem garantia de poder dirigir o país nos próximos cinco anos com uma maioria absoluta na Assembleia Nacional, condição para conseguir implementar seu programa de governo. O pleito, marcado pelos bons resultados da aliança de esquerda e por uma boa performance da extrema direita, obriga o chefe de Estado a esperar até o segundo turno, no próximo domingo, para saber qual margem de manobra terá durante seu mandato.

O primeiro susto do Juntos!, coalizão criada pelos aliados do chefe de Estado, foi o número de votos conquistados pelo NUPES, grupo formado por boa parte dos partidos de esquerda do país. A aliança, encabeçada pelo chefe da esquerda radical, Jean-Luc Mélenchon, conseguiu entre 25% e 26,2% dos votos, contra de 25% a 25,8% para o grupo de Macron, segundo os primeiros resultados. Para Mélenchon, "o partido presidencial está derrotado".

Em seguida, a legenda de extrema direita Reunião Nacional, de Marine Le Pen, reuniu quase 20% dos votos. Com o resultado, o partido de Le Pen, que tradicionalmente sai prejudicado nas eleições legislativas em razão do sistema majoritário, poderá ultrapassar 15 deputados na Assembleia, algo que não acontecia desde 1986 e que representa uma progressão de 13,2% com relação a 2017. A candidata, que foi derrotada no segundo turno da eleição presidencial, mas obteve 55% na disputa como deputada neste domingo, convocou seus apoiadores a se mobilizarem para "enviar um grupo importante de deputados patriotas na nova Assembleia Nacional".

Essa primeira etapa das legislativas confirma uma recomposição do tabuleiro político francês. Segundo as projeções, a aliança de Macron, que precisa obter no mínimo 289 cadeiras, pode terminar com um saldo entre 255 e, no máximo, 310 deputados.

"Hugo Chávez francês" assusta partido governista

Esse pleito, que acontece menos de dois meses após a reeleição de Emmanuel Macron para a presidência, visa definir se o chefe de Estado centrista terá uma nova maioria parlamentar para implementar seu programa de governo. Após o segundo turno da eleição legislativa, que acontece em 19 de junho, o país saberá se Macron recebeu a confiança total dos franceses, se será obrigado a negociar com uma maioria relativa ou se terá que governar em um regime de "coabitação", termo usado na França quando o chefe do governo e o presidente são de tendências políticas diferentes.

Segundo os primeiros resultados, essa possível "coabitação" pode acontecer entre os centristas de Macron e a esquerda que, pela primeira vez em 25 anos, conseguiu se reunir em uma coalizão. Ecologistas, comunistas, socialistas e a França Insubmissa (FI), partido da esquerda radical, concorreram em uma frente unida, liderada por Jean-Luc Mélenchon.

Batizada de Nova União Popular Ecológica e Social (NUPES), a coalizão é encabeçada pelo próprio Mélenchon, o chefe da França Insubmissa. O político de 70 anos, que por pouco não chegou ao segundo turno da eleição presidencial, ao receber quase 22% dos votos em abril, vê nessa eleição legislativa uma revanche no que considera o "terceiro turno" da votação. Seu objetivo é impedir Macron de aplicar seu programa de linha liberal.

A França já conheceu mandatos com um governo e um presidente de tendências políticas diferentes. A última "coabitação" ocorreu entre 1997 e 2002, quando o presidente conservador Jacques Chirac teve que nomear o socialista Lionel Jospin como primeiro-ministro.

Como Jospin, que liderou a aliança Esquerda Plural nas legislativas de 1997, Mélenchon espera se tornar o próximo chefe de governo. Mas a ideia de ver no cargo de primeiro-ministro o "Hugo Chávez francês", como é apelidado o chefe da esquerda radical, preocupa o partido governista.