Polícia do Japão admite falhas na segurança de Shinzo Abe, morto a tiros
O chefe da polícia de Nara, no oeste do Japão, afirmou hoje que falhas "inegáveis" ocorreram no dispositivo de segurança do ex-primeiro-ministro Shinzo Abe. Em pleno comício eleitoral, o ex-premiê foi morto a tiros ontem, em um incidente que chocou o país.
"Acho que não há dúvidas que existiram problemas nas medidas de guarda e de segurança do ex-primeiro-ministro Abe", disse o chefe da polícia de Nara, Tomoaki Onizuka. Ele prometeu uma vasta investigação sobre o caso e "tomar todas as medidas necessárias".
As mídias japonesas mostraram hoje a entrada do carro fúnebre na residência da família Abe, em Tóquio, na companhia de Akie, esposa do ex-premiê. O veículo deixou nesta manhã o hospital de Kashihara, perto de Nara, para onde Abe foi levado ontem após a agressão.
O ex-premiê, de 67 anos, foi alvo de tiros durante um comício eleitoral e morreu no hospital horas depois. Apesar dos esforços da equipe médica, Abe, que foi atingido por duas balas no pescoço, não resistiu aos ferimentos.
O agressor, Tetsuya Yamagami, de 41 anos é um ex-membro da marinha japonesa, atualmente desempregado. Segundo as autoridades, ele admitiu ter visado Abe deliberadamente, utilizando uma arma "aparentemente de fabricação caseira". O homem disse acreditar que o ex-premiê fazia parte de uma organização da qual queria se vingar, mas sem especificar o nome dela. Alguns jornais japoneses evocaram um grupo religioso, mas a informação não foi confirmada pela polícia.
O velório de Shinzo Abe será realizado na segunda-feira (11) e o funeral, na terça (12), em presença apenas da família e de pessoas próximas do ex-premiê.
"Soco na democracia"
Os cidadãos japoneses expressam sua incredulidade e tristeza com o assassinato do ex-premiê, que governou o país durante oito anos. "É terrível. Matar um homem em plena campanha eleitoral, quando ele estava apenas expondo suas ideias, é um ataque deliberado à liberdade de expressão e de pensamento. É um soco na democracia", diz uma moradora de Tóquio à RFI.
Um outro cidadão da capital japonesa evoca a raridade deste tipo de violência no país. "Vemos tiroteios acontecer todas as semanas nos Estados Unidos. Mas no Japão? É o país que tem uma das leis mais duras contra o porte de armas de fogo. É incompreensível, assustador e preocupante", diz.
No momento do ataque, Abe fazia um discurso dentro da campanha para as eleições para o Senado, previstas para serem realizadas amanhã. Segundo o primeiro-ministro japonês, Fumio Kishida, a votação não será adiada, "em nome da democracia".
Hoje, o premiê participou de um comício em Yamanashi, no oeste do país. Em entrevista à imprensa local, ele afirmou que "a violência não vai vencer a liberdade de expressão". Ontem, o premiê denunciou "um ato bárbaro e imperdoável".
Homenagens a Abe
O assassinato de Abe foi condenado por líderes de todo o mundo. A China e a Coreia do Sul, com quem o Japão tem relações às vezes conflituosas, expressaram condolências. O presidente chinês, Xi Jinping, se disse "profundamente triste" com a notícia da morte do ex-premiê.
O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, disse estar "atônito, emocionado e profundamente entristecido" com um assassinato que classificou como uma "tragédia para o Japão e todos os que o conheceram". A rainha Elizabeth II enviou uma mensagem de condolências ao imperador japonês Naruhito, afirmando estar "muito triste" com a notícia.
O presidente russo, Vladimir Putin, citou uma "perda irreparável", enquanto os líderes da União Europeia se declararam chocados com a morte "brutal" do ex-primeiro-ministro japonês, que chamaram de "grande democrata".
"No Japão não acontecia algo do tipo há mais de 50 ou 60 anos", declarou à AFP Corey Wallace, especialista em política japonesa da Universidade de Kanagawa. De acordo com o analista, o último ataque parecido no país foi o assassinato em 1960 de Inejiro Asanuma, o líder do Partido Socialista Japonês, esfaqueado por um estudante ligado à extrema-direita.
(Com informações da RFI e da AFP)
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